Embora existam muitos projetos de educação ambiental para crianças, eles são sempre pontuais, portanto incompletos, não permitindo visão do conjunto da problemática ambiental. Com demasiada frequência abordam temas muito concretos, como a reciclagem, por exemplo, ensinando a fazer papel reciclado, ou a usar outros materiais descartáveis como latas, vidros, garrafas pets, etc. Também existem alguns cursinhos de compostagem, uso do biogás ou vivências na natureza.
Não há que se desprezar o ensino do uso menos consumista e mais eficiente dos recursos naturais. No entanto, isso deixa a desejar se as crianças não entendem que a reciclagem serve de muito pouco, se não for acompanhada de uma melhor compreensão do contexto ambiental e de uma explicação das outras ações que são tão ou mais importantes e urgentes. É quase uma enganação fazer com que as crianças acreditem que reciclando farão algo realmente importante, se o gesto não vier acompanhado da análise do “antes” e do “depois” do lixo e do produto reciclado. Na verdade, o mais importante é que jovens estudantes compreendam porque não deve haver desperdício.
Neste contexto, surpreende o imenso vazio que caracteriza o ensino, formal ou informal, do que realmente é a natureza e da importância da conservação da biodiversidade. Não se trata de ensinar a “amar e cuidar dos bichinhos do mato”. Trata-se de explicar os fundamentos da ecologia e a importância dos seres vivos e de todos os fatores abióticos que com eles interagem, o que pode perfeitamente ser feito de uma maneira amena e simples.
No Brasil, praticamente não há ensino formal nos níveis fundamental e médio sobre o tema e são poucos os projetos da sociedade civil que o abordam seriamente. Nas universidades, essas são disciplinas exclusivas para os que vão se dedicar às profissões relacionadas. Depois reclamamos que mesmo nossas autoridades constituídas, e até mesmo algumas da área ambiental, ignoram solenemente o assunto. Pudera: onde aprender? Onde aprender sobre o que é o mais fundamental para a nossa espécie, a vida?
Sempre digo que nossa espécie é suicida e os fatos vêm demonstrando isso. Assuntos como mudanças climáticas com a repercussão direta sobre a conservação da biodiversidade ou a permissividade de nossas novas leis para o uso florestal, por exemplo, para o desmatamento, para as queimadas, para as enormes monoculturas, para o uso inadequado das águas, aí estão para serem abordados nas salas de aula.
Os profissionais que hoje trabalham na área ambiental são, em geral, engenheiros florestais, biólogos, agrônomos, geógrafos, sanitaristas e médicos veterinários. É óbvio que deles se espera que saibam a real dimensão da problemática ambiental. Mas eles não são os únicos, nem principalmente os que decidem o futuro da nação. O futuro depende de muitos outros que, no passado, tinham uma formação global que lhes permitia compreender a real dimensão do ambiente. Com efeito, antes de existirem estas profissões, trabalhavam na área de conservação da natureza, ou por ela lutavam, engenheiros civis (André Rebouças, Euclides da Cunha, por exemplo), médicos (Luiz Emídio de Mello Filho, Ângelo Machado) e engenheiros agrônomos (Wanderbilt Duarte de Barros, Alceo Magnanini, David Azambuja, entre outros). José Bonifácio Andrada e Silva, talvez nosso mais expressivo ambientalista do passado remoto, fez vários cursos, desde História Natural até Mineralogia.
Os pedagogos responsáveis pela educação de nossas crianças não estão sendo bem preparados para lidar com conservação da biodiversidade e, assim sendo, por maior que seja a boa vontade dos mesmos, não conhecem o assunto. Além de boa vontade, o ensino necessita de conhecimentos específicos, o que é cada dia mais difícil, pois professores são mal remunerados e pouco respeitados.
Mais importante ainda é o fato de não se exigir este ensino na área formal da educação. Por isso, muitos se arvoram em serem doutores no assunto, mesmo sendo neófitos ou totalmente ignorantes sobre o tema.
O Brasil, que é o país mais megadiverso do planeta, o que possui a maior mancha de floresta tropical e a maior bacia hidrográfica, é um dos que menos educa sobre estes temas fundamentais para a sobrevivência de nossa espécie. Assim sendo, se a educação pública não fizer uma profunda e urgente mudança, é improvável que o futuro seja mais favorável a um equilíbrio entre sociedade e ambiente. Parafraseando Jared Diamond: “ainda bem que não estarei aqui daqui a cinquenta anos”.
Educação ambiental para as crianças de hoje (parte 1)
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