Um dos maiores problemas ambientais causados pelas ações humanas é a acelerada redução do número de espécies existentes, todas elas resultantes de um antiquíssimo processo evolutivo. Pelo que sabemos, cerca de um e meio bilhões de anos após a formação da Terra, apareceram formas muito primitivas de vida nos oceanos, mas os organismos mais complexos só surgiram há algo como 600 milhões de anos, passando por autêntica explosão de biodiversidade 50 milhões de anos mais tarde e, desde então, a vida tem evoluído e se diversificado através dos tempos, até os dias atuais. Esse quadro, desvendado como resultado de pesquisas geológicas e paleontológicas, evidencia-nos as linhas gerais do extraordinário espetáculo da história da vida, da qual nós, seres humanos, fazemos parte. Sua revelação foi um dos mais espetaculares feitos da mente humana.
Ao longo dos tempos, inúmeras espécies surgiram e desapareceram, as que se extinguiram substituídas por outras delas descendentes, demonstrando uma tendência geral de aumento de biodiversidade. Não obstante, esta tendência não foi constante, exibindo sempre períodos de acréscimos e de diminuição. Épocas houve em que, devido a fenômenos climáticos e geológicos excepcionais, e mesmo a impactos de corpos celestes de avantajadas dimensões, os eventos de extinção se acentuaram brutalmente. Nos últimos 500 milhões de anos são reconhecidos pelo menos cinco desses episódios particularmente devastadores, denominados “extinções em massa” pelos estudiosos da história da vida. Após todos eles, contudo, dentro de alguns milhões de anos, a biodiversidade foi recomposta por novas espécies geradas pela evolução daquelas sobreviventes ao cataclismo biológico. O mais intenso desses episódios, ocorrido há 250 milhões de anos, extinguiu entre 70% a 90% de toda a vida na Terra.
Hoje, vem sendo evidenciado que vivemos uma sexta extinção em massa, desta vez causada por uma só espécie: o homem. A diferença das demais é a sua velocidade, muitíssimas vezes mais acelerada. Enquanto as outras arrastaram-se durante muitos milhares ou milhões de anos – exceto talvez uma delas aparentemente causada por um impacto de um corpo celeste há 65 milhões de anos – a atual vem ocorrendo em apenas poucos séculos, e está em aceleração acentuada.
Humanos causam extinção acelerada
As causas dessa hecatombe biológica atual são múltiplas, mas basicamente se resumem à explosão demográfica humana e suas consequências, com a ocupação e destruição dos ecossistemas naturais decorrentes da agropecuária, construção de cidades e estradas, e demais atividades impactantes, além da exploração ambiciosa e descontrolada dos recursos naturais de toda ordem. Basta lembrar que a espécie humana, Homo sapiens, levou cerca de 200.000 anos desde sua origem na África, segundo ensinam os conhecimentos atuais, para alcançar 1,5 bilhões de seres no início do Século XX, e em apenas pouco mais de um século atingiu os sete bilhões de hoje, com a perspectiva de crescer mais três bilhões até o fim deste século. É evidente que estamos ocupando aceleradamente os espaços vitais dos demais seres vivos, destruindo seus ambientes naturais, e explorando-os sem quaisquer considerações com o futuro.
Por tais razões, uma avaliação científica terminada em 2010, estudando a situação dos seres vivos que puderam ser quantificados, levou à conclusão que estão em processo de extinção 21% dos mamíferos, 12% das aves, 28% dos répteis, 30% dos anfíbios e, surpreendentemente, nada menos do que 71% das plantas, com a situação tendendo ainda a agravar-se. Enquanto o tamanho da população humana é medida em bilhões de indivíduos, as de muitos animais, principalmente os de grande porte, o são em poucos milhares e, mesmo, centenas ou apenas dezenas. Claro está que todos esses seres se avizinham rapidamente da extinção. Um colossal número de espécies sofre com seus hábitats repetidamente fragmentados, e estes fragmentos não cessam de reduzir-se. E o mesmo acontece com as populações de plantas e animais neles existentes. Se as tendências atuais forem mantidas, a biodiversidade em futuro não distante tornar-se-á profundamente reduzida.
E como será possível inverter tais tendências ou, pelo menos, atenuá-las? Acima de tudo, propiciando ampla conscientização de todos que nós também fazemos parte da natureza e que dela dependemos pelos seus serviços ambientais; e, ainda, reconhecendo que não é ético eliminarmos a diversidade dos demais seres vivos. Além dessa medida essencial, é indispensável estabelecerem-se áreas naturais, em terra e no mar, nas quais se mantenha o mínimo possível de influência humana direta. Em conferência internacional havida em 2010, foi recomendado que para este fim fossem cuidadosamente reservados 17% de todas as áreas terrestres e 10% das marinhas.
E, além de tudo isso, é fundamental reconhecermos que não somos a última geração e que devemos às futuras a herança de um planeta tão íntegro quanto possível, pelo menos tanto quanto o recebemos de nossos antepassados.
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