Há muito tempo a Califórnia, e os seus habitantes em geral, vêm dando sinais de estarem muito à frente da maior parte dos EUA no que diz respeito à consciência ambiental. O estado sempre puxou o carro na criação de implantação de metas e normas anti-poluição.
Agora, essa forma “avançada” de ver as coisas será posta à prova, na medida em que a população do sul do estado terá que abandonar uma tradição que está literalmente cimentada dentro de seus próprios lares: o uso da lareira.
Parte de um programa de mais de 1.600 páginas para melhorar a qualidade do ar na região, a medida pretende proibir a queima de madeira em lareiras e fogões a lenha nos dias mais poluídos do ano, além obrigar os proprietários de casas na região a destruir suas lareiras ou a instalar nelas filtros contra poluição que custam cerca de US$ 4 mil antes de vender os seus imóveis. As lareiras e fogões a lenha também seriam proibidos em todas as novas construções.
A população em geral ainda não parece ter se manifestado sobre o assunto, mas, segundo duas reportagens publicadas recentemente no Los Angeles Times, os agentes imobiliários da região não estão gostando nada da idéia. Segundo eles, a medida poderia esfriar ainda mais (sem nenhum trocadilho, por favor) o mercado imobiliário da região, que já não anda lá essas coisas.
Esse é, provavelmente, o único argumento “sério” que se poderia levantar contra a medida (isso, e o fato de que o Papai Noel vai ter que arranjar outra entrada). Necessária, a lareira não é. Nem o fogão a lenha. Em plena era do forno de microondas e da calefação, não são eles que fazem a comida ou aquecem as casas. São, na verdade, mimos; luxos sustentados em geral por pessoas de considerável poder aquisitivo (mesmo lá, já que dos cerca de cinco milhões de casas existentes na região, apenas 1,9 milhões possuem lareira). Aparentemente com conseqüências ambientais e, principalmente, sanitárias.
Estudos mostram que o uso da lareira aumenta o risco de câncer de pulmão das pessoas da casa e o tipo de poluição causado por elas (entre outros tantos elementos, diga-se), é responsável por 5.400 mortes prematuras todos os anos na região. Uma pesquisa realizada na Dinamarca aponta que as lareiras, no país, são responsáveis por 3/4 das emissões totais de quatro tipos de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos perigosos. Abra-se aqui um parêntese para dizer que, apesar disso, a União Européia, aparentemente, não possui qualquer regulamentação sobre o assunto. Fecha parêntese.
Segundo o L.A. Times, estima-se que somente as restrições às lareiras e fogões a lenha seriam capazes de reduzir as emissões diárias de óxido de nitrogênio em sete toneladas, ou cerca de 4% da meta pretendida pelo programa, que é de 192 toneladas.
A favor da medida há que se dizer, ainda, que hoje, quem faz questão de um “foguinho” na sala para poder esquentar os pés enquanto lê Shakespeare e toma um conhaque pode contar com lareiras a gás que, além do calor, possuem o consolo visual de um tronco cenográfico. Essas, apesar de utilizarem um recurso não-renovável, poluem bem menos.
Mas a grande questão, diz o ambientalista Tim Carmichael, chefe da Coalition for Clean Air, ao L.A. Times, é saber se esse controle seria de fato aplicável, se seria realmente possível levar as pessoas a parar de utilizar suas lareiras.
A vantagem desse tipo de infração é que ele se denuncia à distância, através de sinais de fumaça, mas a resposta só virá com o tempo e se o plano entrar em vigor.
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