Estabelecido em 2005 com mais de 22 mil hectares nos municípios de Buenópolis e Joaquim Felício, este parque mineiro engloba paisagens excepcionais, endemismos de plantas e animais, muitas espécies ameaçadas a nível nacional e regional e, por certo, várias nascentes de rios importantes. Como se não bastasse, ainda protege inscrições rupestres bem evidentes em suas inúmeras formações rochosas que revelam um passado fascinante.
Esta unidade de conservação é relativamente pouco conhecida e não tem visitação formalmente estabelecida nem conduzida. Isso é uma lástima, já que merece ser muito procurada, considerando a grande diversidade de ecossistemas que contém, muitos deles de impressionante beleza cénica marcada pela geologia e pela flora dominante.
A nossa visita neste parque foi especial. Como não poderia ser, fomos muito bem recebidos. Estavam presentes três engenheiros florestais e um agrônomo, dos quais uma foi chefe dos parques nacionais do Brasil, além de ex-presidente do IBAMA, outro foi responsável pelas florestas e parques do Peru e, a outra, é gerente do Parque Estadual do Pau Furado, também de Minas Gerais. O nosso grupo, na ausência do chefe da unidade, teve o prazer de ser acompanhado e guiado por Alberto Junior, que trabalha há 12 anos no parque e o conhece como ninguém, combatendo incêndios florestais e guiando cientistas.
Não levamos muito tempo para ficar absortos pela beleza do lugar. A sua altitude, que varia entre 900 e 1.300 metros, oferece vistas de longo alcance aos vales que flanqueiam a serra. Nesta, abundam as veredas bem conservadas, com muita água, com buritis enormes e, à medida que se percorre o lugar, se observa uma grande diversidade de ecossistemas de altitude, incluindo afloramentos rochosos e vegetação rupestre, cerrado, cerradão, matas ciliares, matas de galeria e campos naturais com grandes áreas de sempre-vivas, incluída uma espécie incomum e, claro, várias cachoeiras. A flora, segundo se sabe, inclui espécies endémicas muito especiais, dentre elas uma pequena planta carnívora que só é conhecida desse lugar. Mas, não é a única planta peculiar do parque. A fauna, em geral, é abundante e fácil de se observar, em especial antas que é particularmente abundante, assim como urubu-rei. Abundam as pegadas de lobo-guará, onça-parda, veado, tamanduá-bandeira, caititu, etc. As aves são deslumbrantes.
Marcas do passado
O tema arqueológico é outro capítulo à parte. São centenas os sítios onde os antepassados deixaram seus rastros na forma de pinturas rupestres de diferentes épocas. Por falta de controle e de infraestruturas adequadas de visitação, boa parte deste valioso patrimônio já tem sido degradado ou poluído. Não há, no lugar, nenhuma placa explicativa sobre o que se observa, desperdiçando uma grande oportunidade de educar o povo e de valorar a cultura regional.
Surpreendeu saber que apenas 10% da área do parque está regularizada, o que dificulta o controle dos incêndios florestais que lá são particularmente frequentes, intensos e difíceis de se combater. A ausência de regularização também torna difícil a aplicação do plano de manejo da unidade que, na sua parte de diagnóstico, revela as enormes riquezas e potencial da área. Também chamou a atenção o fato de o parque dispor de pouco pessoal que, em sua maioria, é dependente da Minas Gerais Administração e Serviços S.A. (MSG), quase totalmente dedicada ao controle dos incêndios florestais. Portanto, o controle das atividades ilegais ou da visitação na área é limitado. O parque carece de sinalização, porteiras, interpretação das trilhas. Tem uma sede e um centro de visitação, mas precisam de melhorias. Existe visitação muito reduzida e desordenada, feita por empresas particulares.
O esforço dos atuais funcionários, tanto os do Instituto Estadual de Florestas, do Estado, como dos funcionários cedidos através do MSG, é muito grande, sendo óbvio que fazem tudo o que podem para administrar bem essa área. Mas, é imprescindível regularizar a tenência da terra pelo menos até uma porcentagem que permita, realmente, aplicar o plano de manejo, que já existe. E, por certo, este parque merece receber um orçamento digno da sua importância.
Para um estado poderoso e tão desenvolvido como Minas Gerais, que já é um exemplo em matéria de conservação do seu patrimônio natural, deveria ser uma questão de honra outorgar mais apoio a esta unidade. Não é razoável que, tendo sido criado faz quase duas décadas, este lugar único continue quase desconhecido.
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