Nos últimos dias, a publicação do Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), confirmou o que já sabíamos do extenso impacto ambiental, social e econômico da invasão biológica. O que poucos ainda sabem é a enorme responsabilidade de nossos jardins e paisagismo nisso.
Convencionalmente considerada uma questão ambiental menor, ou apenas singela e pontual, as áreas verdes planejadas por seres humanos os acompanham praticamente em todos os lugares que ocupam no planeta, e junto introduzem e disseminam o seu repertório de espécies vegetais produzidas e melhoradas em laboratórios e viveiros industriais, localizados principalmente na Europa e EUA, com plantas de mínima variabilidade genética e desenhadas para atender apenas a interesses mercadológicos e nenhum ecológico. Uma salada de plantas estrangeiras que nada tem a ver com a maioria dos ecossistemas naturais, e um eficiente meio de ampla difusão de espécies exóticas invasoras por todo o globo. São jiboias, agaves, amoreiras, bambus, costelas-de-adão, beijinhos, e muitos outros.
No Brasil, país detentor da maior biodiversidade do planeta, esse quadro é ainda mais ameaçador. Possivelmente – e sendo conservador – cerca de 90% das plantas usadas atualmente em paisagismo no nosso território não participavam da flora original regional antes da invasão europeia. São arborizações e paisagismos idênticos, embasados em espécies exóticas que ocupam de Manaus a Porto Alegre, Vitória a Cuiabá, criando as mesmas paisagens biologicamente homogêneas, independente de estarem na Amazônia, Cerrado ou Mata Atlântica.
Além da clara erosão cultural pela profunda desconexão da população brasileira com o seu maior patrimônio de biodiversidade do mundo, o que reflete diretamente na preservação e valorização dos remanescentes nativos, isso ainda causa, e vem causando há décadas, graves invasões biológicas e degradação dos ecossistemas naturais pelas ditas plantas ornamentais, fatos que, embora já bem explicados pela ciência, são novidade e até mesmo refutados por pessoas defensoras da natureza, até porque misturam sentimentos como nostalgia e amor pelas plantas tradicionais de jardim. Como Botânico e Paisagista, acompanho esses dramas silenciosos há muito tempo, e tenho testemunhado situações drásticas e caóticas de plantas invasoras vindas do paisagismo degradando agressivamente áreas destinadas à preservação públicas e privadas, sem que ninguém faça nada.
Nem toda planta exótica é invasora, mas as que reconhecidamente são assim consideradas por evidências científicas ou são novidades com potencial já relatado em outras localidades, deveriam ser proibidas de serem comercializadas e cultivadas em jardins. Porque o seu impacto ambiental é imprevisível, e certamente vai contra o nosso direito fundamental previsto artigo 225 da Constituição Federal de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.
Já olhou para quem são as plantas do seu jardim? O que vai fazer em relação a isso?
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Meu jardim é 100% nativo!