Ontem (8) começaram em Barcelona, na Espanha, os eventos satélites da 4a edição da Conferência Mundial da Década do Oceano, que vai reunir 1.500 participantes para um balanço sobre o andamento das ações em prol da saúde do oceano e estabelecer consensos para ações nos próximos 6 anos. Nos dias 8 e 9, os debates se dedicam à cultura oceânica, que busca formas de conectar a sociedade ao oceano. Com presença marcante no evento, o Brasil lidera inúmeras ações globais estratégicas na Década do Oceano.
A abertura contou com o depoimento da embaixadora da Unesco para o oceano e recordista mundial de surf de ondas gigantes, Maya Gabeira, sobre sua relação com o oceano. “Não seria maravilhoso ter cultura oceânica em todas as crianças do mundo, e inspirá-las a cuidar do oceano? Temos que dar às crianças a chance de saber o que está acontecendo [com o oceano] e poder agir”, afirmou a atleta, que se dedica a inspirar jovens para a conscientização sobre o oceano e apoia a organização internacional Oceana.
Leandro Bortolozo Pedron, Diretor do Departamento de Programas Temáticos (DEPTE), que abriga a coordenação da Década do Oceano no Brasil, Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), enfatizou que a cultura oceânica é vista como estratégica no país. Compartilhou a crescente participação de municípios que aprovaram legislação que inclui a cultura oceânica no currículo escolar, seguindo o movimento de Santos (SP), que em novembro de 2021 se tornou a primeira cidade do mundo a tomar esta decisão. Leandro também trouxe os bons resultados da Olimpíada Nacional do Oceano, coordenada pelo projeto Maré de Ciência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contou com a participação de 48 mil estudantes em 2023. Além de Leandro estão presentes representantes do Ministério de Relações Exteriores, MCTI e Meio Ambiente.
A relevância de transformar a relação das novas gerações com o oceano está fortemente ligada à educação. Ronaldo Christofoletti, professor da Unifesp, apresentou um balanço sobre a rede de All-Atlantic Blue School, que reúne 20 países do Atlântico que atuam no projeto Escola Azul. Já são mais de 600 escolas que adotaram a educação oceânica em seus currículos, somando 4.500 professores e mais de 200 mil estudantes envolvidos. De acordo com Ronaldo, coordenador do projeto Escola Azul no Brasil, já são 184 escolas, presentes em 20 estados. O desafio do projeto internacional está em desenvolver uma rede com escolas que possuem realidades distintas. “Não há uma resposta única [para todas as escolas]”, lembrou, “precisamos de reconhecimento de nossas capacidades e encontrar nossos caminhos”. A rede pretende ser um meio de troca de experiências, fortalecimento de iniciativas e promoção da equidade.
As questões de equidade e diversidade também marcaram o painel sobre as relações do Sul Global, coordenado pela oceanógrafa Mariana Andrade, representante do programa Profissionais dos Oceanos em Início de Carreira (ECOs), e com representantes da África do Sul, Palestina e Angola. Ela chamou atenção sobre a importância de o Sul Global ter voz nas ações globais. “Como países do Sul Global, temos perspectivas diferentes, as quais nos dão força para pensar em soluções a partir de nossa realidade”, afirmou. Os participantes da mesa criticaram a postura de países do Norte Global de apontarem a necessidade de capacitação do Sul Global, a partir de uma dificuldade em compreender e respeitar as necessidades e as capacidades existentes na região. “Nem sempre os debates mundiais fazem sentido para nossas realidades. Também debatemos diversidade, igualdade e inclusão e esses não são debates separados”, reforçou.
A inclusão do oceano na agenda dos países que compõem o Grupo G20 também foi debatida no primeiro dia de evento. Organizado pelo grupo Oceans 20 (O20) no âmbito do Grupo 20 (G20), composto por 19 países, mais a União Europeia e a União Africana, se reuniu com diferentes atores sociais para definir ações estratégicas de atuação em prol da Década do Oceano. “A importância do G20, como o grupo de países mais ricos do mundo, olhar o oceano como forma estratégica de gerar e compartilhar prosperidade foi marcada”, afirmou Alexander Turra, coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, o evento apontou para a necessidade de integração entre diferentes atores sociais, para a criação de um processo de internalização da temática do oceano no G20 e de um grupo de trabalho para estruturar uma agenda estratégica de ações.
O dia se encerrou com a exibição do documentário Mulheres na conservação: edição especial Oceanos, produzido pela Tocha Filmes com direção da jornalista ambiental Paulina Chamorro, João Marcos Rosa e Sylvio Rocha. O documentário faz parte de uma série de mesmo nome que destaca a atuação de mulheres cientistas na preservação de espécies animais e biomas no Brasil e impressiona pela capacidade de sensibilizar o público para a dedicação das cientistas à preservação da natureza mesmo sob difíceis condições de trabalho. Este e outros dois documentários brasileiros foram exibidos gratuitamente na Filmoteca de Catalunya: Rota Polar, da Tocha Filmes, dirigido por Sylvio Rocha e Beto Pandiani, e Vozes do Mar, de Helena Alba, como parte da programação cultural sobre o oceano que Barcelona oferece desde o dia 5.
Nos próximos dias, o oceano segue sendo a pauta central de discussões, com enfoque na cultura científica na terça-feira e a partir de quarta com a presença de autoridades políticas mundiais e com seções voltadas ao debate o. sobre desafios e soluções de cada um dos 10 desafios da Década que em 2025 chegará à metade de seu percurso.
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