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Sem energia, não haverá prosperidade na Amazônia profunda 

No Amazonas, atualmente, a maior parte das comunidades do interior tem acesso esporádico à energia por meio de geradores abastecidos por combustível e tem, em média, duração de 4 horas diárias

28 de julho de 2023 · 1 anos atrás
  • Valcléia Lima

    Superintendente de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

Quem vive em grandes cidades no Sul e Sudeste do país raramente passa pela experiência de não ter acesso à energia para atividades cotidianas como carregar o celular, ou ligar o aquecedor elétrico em dias frios ou ar-condicionado em dias quentes. Essa, entretanto, não é a realidade de grande parte da Amazônia brasileira. Em centros urbanos como Manaus e Belém, as quedas de energia são frequentes – ainda assim, o acesso da maioria da população é garantido. Já em comunidades ribeirinhas e indígenas da maior floresta tropical do mundo, a situação muda drasticamente. 

Segundo dados do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), de 2019, quase 1 milhão de pessoas na Amazônia não têm acesso à energia elétrica. Pará e Amazonas são os Estados com maior déficit, sendo o primeiro com 409.593 e o segundo com 159.915 pessoas sem acesso à eletricidade. Os números demonstram a distante realidade da região Norte do país. 

No Amazonas, atualmente, a maior parte das comunidades do interior tem acesso esporádico à energia por meio de geradores abastecidos por combustível e tem, em média, duração de 4 horas diárias. Fazendo o recorte dos números divulgados pelo IEMA, podemos utilizar também dados da Fundação Amazônia Sustentável (FAS). O monitoramento da fundação aponta que, de 582 comunidades em que a FAS atua no Amazonas, 313 não contam com acesso à energia de forma integral, 24 horas. 810 famílias dependem ainda somente de lamparinas, lampião e velas.  

Créditos: Rodolfo Pongelupe

Vale destacar que as comunidades que possuem geradores à base de diesel, combustível fóssil, além de poluente, gera um alto custo financeiro, que por muitas vezes não é possível manter mensalmente. Obviamente, quem está lendo esse texto, tem acesso à energia e, provavelmente, em abundância. Pensemos então naquelas pessoas que não lerão o que escrevo, por não disporem de energia e internet. O que podemos fazer para mudar essa realidade? 

Para além da insustentabilidade intrínseca do acesso energético por meio de combustíveis fósseis, grandes poluidores, pela abordagem sistêmica adotada pela FAS, antes de tudo, entendemos que não é possível a manutenção da floresta em pé caso não seja aprimorada a qualidade de vida das populações da floresta, os verdadeiros guardiões do bioma Amazônia. Para dar concretude a isso, a instituição promove ações de Saúde; Educação e Cidadania; Infraestrutura Comunitária; Renda e Empreendedorismo; Empoderamento; Pesquisa; Desenvolvimento e Inovação; Conservação Ambiental; e Gestão e Transparência. 

Para materializar essas ações, é necessário fontes limpas renováveis de energia para as pessoas que vivem nas comunidades. A partir do momento em que a eletricidade chega nesses locais, é possível iniciar o processo de conectividade à internet e, assim, colaborar na geração de renda, por meio do turismo de base comunitária nas comunidades deslumbrantes da Amazônia, para citar apenas um exemplo. É preciso de energia para a recepção dos turistas, armazenamento de mantimentos e manutenção das atividades. É preciso de energia para se comunicar. Geração de renda demanda energia.  

Para implementação das atividades e ações em prol da qualidade de vida, a questão de energia tem lugar central. E ainda é um desafio grande. A FAS implementou um projeto-piloto de sucesso que pode servir como exemplo para replicabilidade em outros locais da Amazônia de energia limpa. 

Na Comunidade Santa Helena do Inglês, localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Negro, município de Iranduba (AM), distante a 64 quilômetros de Manaus, a FAS, em parceria com a empresa Unicoba, instalou a energia solar fotovoltaica que utiliza baterias de lítio. A tecnologia é considerada inovadora e sustentável, além de adaptável à realidade de comunidades ribeirinhas.  

A comunidade já tinha acesso à energia, porém sofria com constantes quedas causadas, principalmente, pelas mudanças de clima. Quando chovia, toda a comunidade ficava sem eletricidade e isso atrapalhava, por exemplo as aulas noturnas. Ao todo, o sistema abrange 132 painéis solares, 54 baterias de lítio e nove inversores híbridos de última geração. Que sonho seria se todas as pessoas na Amazônia profunda conseguissem acesso a esse tipo de sistema de energia limpa. 

Com a energia, além dos benefícios citados acima, partimos para outro ponto: a conservação da floresta. Podemos iniciar, com maior fervor e certos de que estamos fazendo a nossa parte em garantir serviços e direitos essenciais, o processo de conscientizar sobre a conservação do meio ambiente em que se vive. Isso poderá ser feito por meio da educação voltada para a sustentabilidade. 

Sabemos que existem desafios a serem superados para que projetos como esses cheguem até lugares longínquos. Costumo citar três principais: logística, comunicação e energia. A logística para chegar até determinadas comunidades é muito difícil, algumas viagens levam dias, pelos gigantescos rios amazônicos. A comunicação é outro fator complicador, pois não há telefone. E ambas se unem à falta de energia, principal assunto discutido nesse texto. Esses três fatores precisam estar alinhados e funcionais para que seja possível levar dignidade, geração de renda, acesso à saúde e, por fim, assegurar a prosperidade social de ribeirinhas e ribeirinhos da Amazônia. Posso afirmar que onde não houver energia, não teremos prosperidade. 

As opiniões e informações publicadas nas seções de colunas e análises são de responsabilidade de seus autores e não necessariamente representam a opinião do site ((o))eco. Buscamos nestes espaços garantir um debate diverso e frutífero sobre conservação ambiental.

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Comentários 1

  1. Aluizio diz:

    O ponto chave pra esse projeto dar certo, será manutenção periódica e roçadas da faixa suprimida após o corte. Sem isso é melhor deixar do jeito que está, pois em poucos anos a vegetação se recupera e já foi gasto com estudo e com serviço.