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Um desabafo por Mariana

Mariana chora assolada em lama que se arrasta até o oceano. A chance de recuperação é pequena, seja pelo grau da devastação ou pela omissão política.

25 de novembro de 2015 · 9 anos atrás
  • Suzana Padua

    Doutora em educação ambiental, presidente do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas, fellow da Ashoka, líder Avina e Empreen...

O Rio Doce que estava doente, mas tinha chance de cura antes de ser destruído. Foto: Wikipedia
O Rio Doce que estava doente, mas tinha chance de cura antes de ser destruído. Foto: Wikipedia

Creio que nunca me senti tão impotente e com uma sensação de tamanha incerteza por não saber onde me apoiar. O Brasil está passando por uma fase da qual não me orgulho. São tantas as decepções que nem consigo listar. Mariana chora assolada em lama que se arrasta até o oceano e carrega consigo uma imensidão de vidas (agora mortas), tendo que resta pouca perspectiva de recuperação.

Não há um plano que me convença. Não há determinação e vontade de resolver ou de buscar meios que minimizem os estragos feitos por um setor movido por lucro, e que parece ter “comprado” quem poderia fazer diferença neste momento. Políticos e mídia estão omissos, com exceções, afortunadamente,  além de matérias em O Eco. O que predomina é a inércia quando o momento implora por atenção, empenho e dedicação. Não sinto firmeza nas pessoas que estão em posição de mando. Muito pelo contrário, parece haver uma aceitação de que é assim mesmo. Uma banalidade frente ao caos.

A lama carrega nossas esperanças de um país sadio, belo e sustentável. Carrega a boa fé de pessoas que vivem da terra ou das águas de um rio que já foi doce. Carrega nossa vontade de mudar as realidades que consideramos indesejáveis. Isso porque nossa voz soa rouca diante do vazio inglório de gritos sem eco.

Se a tragédia de Mariana foi causada por empresas gigantescas e de muita riqueza, as pessoas que sofreram perdas precisam ser tratadas com toda a dignidade, colocadas em hotéis de luxo até que casas novas sejam construídas em locais seguros para reporem aquelas que perderam. As vidas que se foram também devem ser compensadas, já que não podem ser trazidas de volta. As famílias vítimas da enxurrada da lama tóxica, precisam, no mínimo, serem cuidadas com respeito, pois os danos sofridos são imensos.

Já a natureza não sei nem por onde começar, mas uma série de especialistas precisam ser ouvidos de modo que se possa elaborar planos que ajudem a reconstituir o que se foi, mesmo que saibamos que a região jamais será a mesma. O Rio Doce já necessitava de cuidados antes do desastre de Mariana, mas ainda havia chances de recuperação. Como pagar multas é mais barato do que tomar as medidas cabíveis de segurança, dependemos da seriedade das empresas envolvidas. E agora, é lidar com perdas inestimáveis e com a perspectiva de uma realidade desoladora, que pode levar anos para melhorar, mesmo sem a pretensão de voltar a ser o que já foi.

Desculpe leitor, mas utilizo hoje desse portal para o qual contribuo há uma década como um verdadeiro desabafo. Nunca fui de entregar os pontos e sempre achei que somos capazes de tudo mudar – bastando querer com vontade e determinação. Pois estou há dias dizendo a mim mesma que isso ainda é verdade e que preciso encontrar as faíscas da esperança dentro do meu ser para recomeçar a sonhar – ponto de partida para qualquer ação, para qualquer transformação.

Sonho com um Brasil resplandecente em suas riquezas naturais e regido por justiça social, sendo a sustentabilidade a base para um progresso que valha a pena. Este é o sentimento que preciso voltar a nutrir para que novamente acredite que foi para isso que vim a esse mundo – dar o que tenho de melhor, contribuindo para um planeta que merece ter suas belezas celebradas, já que estão em toda parte, do micro ao macro, em todos os detalhes que se encontram em nós e a nossa volta.

Devemos urgentemente reaprender a ver amorosamente, para que possamos despertar em nós mesmos um senso de proteção e cuidado que nesse momento falta no Brasil e no mundo. Só assim poderemos amar e valorizar a vida em sua plenitude. Se este for o sentimento predominante na humanidade muito do que estamos presenciando não aconteceria. Que o Rio Doce sirva de lição para evitarmos que outras tragédias voltem a acontecer.

 

 

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Comentários 14

  1. Missao Tanizaki diz:

    Os PROBLEMAS que se DIVULGAM sobre o DESASTRE de MARIANA / MG é apenas uma PARTE – Devemos PREOCUPAR com o que a POLUIÇÃO causará para a Sociedade Brasileira.

    A Maior Parte do Produtos AGROPECUÁRIOS desenvolvidos nas PROXIMIDADES do Rio DOCE passarão a apresentar Níveis de Metais PESADOS que causarão MALES / DOENÇAS aos Seus CONSUMIDORES que poderá ser VOCÊ, pois o que COMEMOS podem vir das ÁREAS ATINGIDAS – Para REDUZIR os PROBLEMAS recomenda-se estabelecer MECANISMOS de CONTROLE, com RIGOR que a SITUAÇÃO EXIGE, observando o que segue abaixo.

    ALIMENTOS com Melhor Qualidade NUTRICIONAL para o Povo Brasileiro e a Humanidade

    Aos Profissionais do Ministério da AGRICULTURA e do Ministério da SAÚDE, em especial os FFA’s: podemos / devemos Empenhar ESFORÇOS para garantir que as POLUIÇÕES do Meio AMBIENTE, não afetem a QUALIDADE dos ALIMENTOS – As referidas POLUIÇÕES atingem sem qualquer DÚVIDAS as ÁREAS da Produção AGROPECUÁRIA, como ocorre em PARACATÚ / MG, as ÁREAS do VALE do Rio DOCE, desde MARIANA / MG até a foz do referido RIO e REDONDEZAS, entre Outras LOCALIDADES pelo BRASIL afora.

    Os Principais POLUENTES são os Metais PESADOS, como o ARSÊNICO, CÁDMIO, CHUMBO, entre Outros METAIS – Esses METAIS PESADOS são causadores de DIRETOS ou INDIRETOS da Maioria dos MALES / DOENÇAS, onde inclui-se todos o tipos de CÂNCERES.

    Aqui abaixo deixo parte das Minhas PROPOSTA, RESULTADO de uma VIDA TODA que DEDIQUEI, visando estabelecer uma Alimentação SAUDÁVEL / EQUILIBRADA aos Cidadãos Brasileiros e a Humanidade.

    1) Estabelecer a Regulamentação Técnica no ÂMBITO dos Ministério da SAÚDE e Ministério da AGRICULTURA do USO do Cloreto de MAGNÉSIO, entre Outra Sais de MAGNÉSIO, como Aditivo Alimentar, tendo em vista a CARÊNCIA generalizada nos Cidadãos Brasileiros, certo que poderá MELHORAR expressivamente a SAÚDE do Nosso POVO, diminuindo as necessidade de RECURSOS FINANCEIROS nos CUIDADOS relacionados a Saúde Pública.

    2) Estabelecer a OBRIGATORIEDADE do ENREQUECIMENTO NUTRICIONAL dos Alimentos BÁSICOS utilizados no PNAE, entre Outros Programas, com ADICÃO de Cloreto de MAGNÉSIO, entre Outra Sais de MAGNÉSIO, tendo em vista que é onde a ALIMENTAÇÃO/NUTRIÇÃO precisa de CUIDADOS ESPECIAIS porque envolvem os Seres Humanos, ainda em formação, certo que assim vamos promover Mais SAÚDE aos Mais Novos, com um Melhor FUTURO / VELHICE, com menos PROBLEMAS de SAÚDE e Boa LONGEVIDADE.

    3) Estabelecer FISCALIZAÇÃO RIGORASA, onde se deve exigir a realização de Análises Laboratoriais apropriadas, visando certificar que os Produtos estão ADEQUADOS para o CONSUMO HUMANO e ANIMAL.

    NOTA: O MAGNÉSIO tem ação DIRETA ou INDIRETA no COMBATE de TODOS os MALES / DOENÇAS, podendo apresentar Contra-Indicações que não é motivo para preocupação ou alarme.

    Observação: Para acessar Outras PROPOSTAS / IDÉIAS de Minha Autoria entre no Meu FACEBOOK ou faça buscas na INTERNET com o Meu NOME, como Palavra CHAVE.

    TUDO por Um BRASIL MELHOR ! ! ! ! !


  2. Bizarra diz:

    Talvez o Leonardo DiCaprio possa ajudar com alguma doação!


  3. Wagner diz:

    Esse é o problema de colocar o dinheiro em primeiro lugar em nossas vidas. Muitas dessas empresas que só visam o lucro são financiadoras de projetos ambientais e tem muita gente mamando na teta dessa dinheirama que é extraída da natureza. A hipocrisia reina em nosso mundo e principalmente no Brasil. Pra que serve licenciamento ambiental? Pra que serve a lei de crimes ambientais? Quem são os responsáveis que terão que ir pra cadeia por causa desse desastre? Muitas perguntas e nenhuma resposta.


    1. Judas diz:

      Os maiores culpados somos todos nós!

      Nenhuma mineradora investiria no setor se não existisse demanda pelo minério.

      Aliás, ninguém investe em nada que não tenha mercado para seus produtos.

      Somos todos consumistas de produtos oriundos da mineração! Sem exceção! Basta olhar ao redor, para todos os seus utensílios, veículos, residências etc.

      A mensagem que quero deixar é que no caso do fomento à atividade os culpados somos todos nós. Então a questão pertinente a ser discutida é como minerar minimizando riscos sociais e ambientais.


  4. Alice Penna diz:

    Não vamos desistir. As transformações estão aí é como você falou é só um desabafo. Obrigada Suzana


  5. Cledivan diz:

    As questões ambientais precisam de coisas práticas. O povo em Mariana não tá lendo essas coisas. Essa enxurrada de publicações em redes sociais pra mim só servem pra deixar a consciência dos ambientalistas virtuais melhor.


    1. Schip diz:

      Imagino que com esse julgamento, vc deve estar tomando providências práticas importantissimas para resolver a situação… Por outro lado, pessoas que se incomodam com a voz dos ambientalistas, se identificam mais com o modo de pensar das mineradoras, daí o desprezo pelo inconformismo e as manifestações dos ambientalistas. Cada um luta com as armas que tem, respeite!


      1. Cledivan diz:

        Estou tomando providências práticas mesmo em vez de ficar resmungando, vc acertou! Um abraço! P.S. Esse nome Schip é porque vc foi chipado pelo ambientalismo tupiniquim?


  6. Cristiana diz:

    Suzana, compartilho vários sonhos com você, e este desabafo também senti como meu. Temos sim que aprender com o que vemos e sofremos, e este é sem dúvida o caminho para prosseguirmos, sonharmos e agirmos para transformar o que se precisa neste nosso Brasil de hoje. beijos, Cristi.


    1. Suzana, estou com você e toda a equipe maravilhosa da conservação. É de chorar a falta de sensibilidade governamental para as questões ambientais. Conheço diversos pesquisadores de ponta que estão no governo e devem estar sentindo a mesma coisa que nós. Estamos impotentes diante de tanta tragédia. E com certeza outras mais virão. Dizem que um lutador precisa também aprender a apanhar. Mas parece que nessa luta não há juiz para interferir no massacre que está ocorrendo com a natureza. Mesmo assim tem muita gente que não está nem um pouco preocupada se essas agressões podem ser letais para quem já está em desvantagem. Os responsáveis por esse modelo devastador estão equivocados. A questão é que quando Gaia ajustar suas contas diante de tanta desordem humana pagaremos um preço bem mais caro do que todas as multas possíveis e imagináveis.


      1. Ebenezer diz:

  7. Marcelo Monteiro diz:

    Prezada Suzana, tendo acompanhado na imprensa o pouco que se tem feito para compensar os imensos danos dessa tragédia absurda, vejo no seu desabafo uma excelente tradução dos meus sentimentos, e com certeza de muitos de nós, perplexos com tamanho descaso.


  8. sousa santos diz:

    O Brasil é só isso Podridão , sujeira e lama


  9. Daniel Kurupira diz:

    São 515 anos de exploração Suzana, mas nos parece que a cada dia tem se tornado mais letais os ataques contra a mãe Terra!!

    Daniel Kurupira