“Aqui por todo lado tem água”
Aos pés da cascata Chorrera, está Dona María Julia lavando roupas, o que faz desde sempre. Ela também acredita no poder curativo das águas. →
Aos pés da cascata Chorrera, está Dona María Julia lavando roupas, o que faz desde sempre. Ela também acredita no poder curativo das águas. →
Nas ladeiras da montanha Urco mora Dora Paña, onde seus dias decorrem entre a história, os mitos e a beleza do sistema lacustre Atillo – Ozogoche. →
Seu Luis Tobar conta a história de sua vida em Papallacta, lugar onde sempre tem agua. →
Seu Germánico Montenegro, desde o Mirante Porto La Amazonas nos conta como o rio lhes dá vida e tranquilidade. →
Fermín Rojas e Cristina Rojas, em Arapicos, contam os problemas que eles têm com a falta de água potável e com a contaminação do rio. →
O Parque Nacional Cajas é a principal fonte de água para Cuenca, mas está ameaçado pelo lixo e queimadas na floresta. →
O Parque Nacional Cajas é a principal fonte de água para Cuenca, mas hoje está ameaçado por visitantes que jogam lixo e queimam a floresta. →
Nas ladeiras da montanha Urco, na comunidade de Atillo, Dora Paña mora longe da cidade, onde seus dias decorrem entre a história, os mitos e a beleza do sistema lacustre Atillo – Ozogoche. →
Nas ladeiras da montanha Urco, na comunidade de Atillo, Dora Paña mora longe da cidade, onde seus dias decorrem entre a história, os mitos e a beleza do sistema lacustre Atillo – Ozogoche. →
O Rio Upano nasce nos páramos dos Andes orientais, e desde lá ostenta sua presença, ao chocar, montanha abaixo, sobre as imensas rocas e se converte, resignado há quarenta anos, em companheiro da estrada Guamote –Macas. Nesta crônica o protagonista é o rio Upano, Tuna Shira na língua shuar. Bacia misteriosa que serpenteia desde os Andes até a Amazônia, suas águas recebem a contaminação de cidades como Macas e Sucúa, e são o habitat de peixes que pouco a pouco desaparecem. Este rio é o pretexto do turista para entrar na selva culta, que guarda histórias silenciosas entre petróglifos e a oralidade shuar. A estrada entre lagoas A viagem começa cedo e a paisagem desde Quito até Riobamba pouco surpreende. No entanto, depois de quatro horas de viagem a monotonia da estrada andina se rompe quando se observam misteriosas acumulações de água cristalina, a neblina desaparece por segundos e deixa ver um conjunto de lagoas que perdem sua grandiosidade ao estar encerradas pelo asfalto da via. “Para nós são o tesouro mais valioso que tem a comunidade”, nos dizem. Ao observá-las desde 5.772 metros de altura, na parte mais alta da estrada, entendemos as palavras de Dora Paña (LINKEAR A RETRATO), quem nos falou de suas lagoas e contou suas histórias minutos atrás na cordialidade de seu restaurante localizado na comunidade de Atillo. O sistema lacustre de Atillo está formado por vários lagos isolados localizados ao leste de Riobamba. Neste ponto acontece um dos fenômenos naturais que mais atraem turistas e cientistas: “o suicídio dos cuvivíes”. Aqui, a Bartramia longicauda (ave nativa dos Estados Unidos, que migra para a América do Sul), morre de forma maciça nas águas do setor. Segundo os moradores, as aves se precipitam às frias águas em um ato suicida. “De madrugada, especialmente no mês de setembro, quando ouvimos o canto desses passarinhos, já sabemos o que está acontecendo e todos se preparam para recolher as aves mortas à beira da lagoa”, diz Dora. Existem diversas hipóteses sobre o suicídio coletivo dessas aves. Depois de três anos de visitas consecutivas em Ozogoche e Atillo, uma equipe de pesquisadores da Corporação Simbioe considera que as difíceis condições climáticas como os fortes ventos pelas noites, baixas temperaturas e intensas chuvas na região montanhosa provocam a caída de grupos da espécie nas lagoas, como também em outros pontos não lacustres do páramo. Decidimos acampar no meio do páramo, e durante a noite não ouvimos os lamentos das almas penadas como asseguram os habitantes da comunidade que ouvem; só nos acompanha a intensa chuva e o ruído de fortes ventos. De manhã, a lagoa Negra se esconde entre a densa neblina, é época de inverno e será quase impossível observá-la, devemos continuar o caminho com a promessa de voltar entre os meses de outubro e maio, para conhecer de perto suas águas de cor azul claro onde nasce o rio Upano e inicia sua viagem ao Sudeste do Equador. Voltamos à estrada Guamote – Macas, a segunda que conecta a Serra Central e a Amazônia. Seus 140 quilômetros começam no frio do páramo a 3.700 metros de altura. Um exemplo da paisagem que atravessa o Upano enquanto acompanha a estrada se vê em Zuñac, setor de altas rochas de onde caem vertentes de água que nascem nos páramos do Parque Nacional Sangay e enchem de umidade as florestas andinas. A paisagem de Sangay é muito variada, numa das regiões mais úmidas do Equador que abriga uma enorme diversidade que lhe valeu a declaratória de Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO em 1983. O Parque Sangay está situado na região Centro-leste do Equador, ocupando as partes altas e ladeiras da cordilheira Oriental nas províncias de Cañar, Chimborazo, Morona Santiago e Tungurahua. Apresenta um complexo de mais de 300 lagoas e vastas áreas virtualmente inalteradas. A estrada que cruza o parque de este a oeste é uma das principais ameaças sobre a enorme riqueza biológica, que já causou sérios problemas por processos de colonização, expansão da fronteira agrícola e pecuária e a extração ilegal de madeira. Sucúa, povoado de rios As águas do rio Upano passam pelas comunidades Nove de Outubro, São Luís, Cebadas, pela cidade de Macas e descendem 1.200 metros até Sucúa, uma pequena cidade amazônica, desde onde podemos ver o Upano em todo seu esplendor. Desde um mirante, parece uma serpente que come as montanhas, e suas águas turbulentas se mostram ideais para fazer rafting. A umidade em Sucúa é constante, pelo que suas florestas naturais são exuberantes. Já em Sucúa, guiados por um mapa turístico, fomos para Huambi, onde divisamos uma pequena casa em que uma família descansa sob o sol de domingo. Esteban Cutumbi (LINKEAR A RETRATO) sorri e conta suas aventuras pescando no rio Upano, “um rio que antes não era tão contaminado, era transparente e cheio de peixes, quando as pessoas começaram a viver nas beiras tudo mudou, o rio se deteriorou e agora é muito contaminado”. Neste setor o crescimento da população é uma das causas de contaminação do Upano, ajudada pela descarga de águas residuais e pela inexistência de um sistema de esgoto, comenta Fausto Flores, diretor Social e Turístico do Município de Sucúa. “Como município já temos os estudos para a construção de lagoas de tratamento das águas residuais do setor, mas falta a verba”. As águas dos rios Upano e Tutanangoza rodeiam Sucúa, e amplias praias de areia se convertem em lugares de descanso e brincadeiras, e numa destas planícies protegidas pela vegetação se encontra uma alta pedra em cuja superfície existem petróglifos com figuras com formas animais. Os moradores da região pouco conhecem sobre elas, “é a pedra do macaco”, é o único que dizem. No setor existem oito pedras com inscrições similares, e segundo estudos realizados pelo governo municipal de Sucúa, as representações dos animais como sapos, macacos e serpentes, têm uma estreita relação com a fertilidade, com a forma de vida e a interrelação com a natureza da cultura que as fez. Os petróglifos não são os únicos que encerram cultura neste lugar, as gigantescas caídas d’água são atrativos naturais únicos, mas também lugares sagrados para as comunidades shuar assentadas nas zonas rurais. Para eles a floresta está cheia de espíritos que habitam nas cascatas, “ali o Shaman tenta entender o destino dos homens”, conta Merci Jempekat, (LINKEAR A RETRATO) uma moça shuar que junto com sua família trabalha em projetos de turismo comunitário. Depois de um banho na cascata A Assunção, deixamos Sucúa e iniciamos nosso regresso aos Andes. Vemos as águas do rio Upano, que vem baixando desde os páramos, dirigir-se para a Amazônia, e ficamos com a esperança que este ir e vir das águas nunca pare. →