Reportagens

“O parque é lindo, imagine o que é poder mostrar a natureza intocada a seus filhos”

O Parque Nacional Cajas é a principal fonte de água para Cuenca, mas hoje está ameaçado por visitantes que jogam lixo e queimam a floresta.

Maricela Rivera ·
1 de outubro de 2012 · 11 anos atrás
A água aqui é fonte de saúde, diversão e também de renda. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
A água aqui é fonte de saúde, diversão e também de renda. Crédito: Rubén Ramírez, Finding Species
A entrada ao Parque Nacional Cajas é um amplo empedrado, no final podemos ver uma casa com teto de palha. Enquanto estacionamos o carro, um guarda sai da casa, parece que nos espera. Com seu uniforme azul escuro nos faz gestos com as mãos para que entremos na casa, centro de interpretação do parque, que dispõe de mapas e uma chaminé para acalmar o frio. 

De bigode cinzento e cara bondosa Seu Luis Bravo, guarda do parque, pede para que preenchamos um pequeno formulário necessário para ingressar. “É que agora controlamos a capacidade de carga, porque com isso da entrada gratuita vem mais gente”. Nativo de Angas, morou toda sua vida perto do parque. “Aqui a estrada foi construída faz uns 20 anos, o caminho antigo era por Molleturo, ali estavam o que era conhecido como as quatro estações importantes para o comercio, Arimachay, Quinuas, Miwid e Molleturo”.

O parque funciona como principal fonte de água para a cidade de Cuenca, diz Seu Luis enquanto nos mostra a lagoa Toreadora. “Aqui do parque levam água para a cidade, antes levavam de Saucay, mas com o crescimento da cidade, levam de um ponto que se chama Sustag, e também de trás do rio Yanuncay”. Só dentro da área protegida existem 284 lagoas “e fora do parque existem mais montanhas e também lagoas, assim que falamos de umas 400 lagoas que aportam para o fornecimento de água em Cuenca”.

Seu Luis lembra que quando foi demarcado o parque pelo Ministério de Agricultura e Pecuária, os primeiros encarregados, houve uma guerra com processos e advogados, entre os moradores e o Ministério. “Foi bárbaro, uma vez quase mandaram de volta queimado um engenheiro, porque já não se podia ter gado nem cavalos, e disso a gente aqui vivia antes”. “Muitas comunidades perderam tudo, e só se salvaram os que tinham documentos”.

Para Luis, há duas opiniões do parque, “em primeiro lugar, o parque é lindo, imagine o que é poder mostrar a natureza intocada a seus filhos, mas o difícil é isso que os parques já são de todos e entra gente que não sabe de natureza nem de proteção e vem querendo fazer o que querem, tem gente que vem para acabar com a floresta e queimar as matas”. Os 24 guarda-parques que trabalham no parque não podem cobrir toda a área, o que dificulta seu trabalho.

O vento está cada vez mais forte, “hoje vocês tiveram sorte, todos estes dias fez frio, por isso eu venho preparado”, diz Seu Luis, e nos mostra a adaptação que fez em seu uniforme para resistir o frio. “Mas vocês têm que ir a Angas em suas festas, lá só se vê pessoas com ponchos, temos a banda da comunidade e muitos fogos de artifício, essas tradições não se perdem”. Com o convite feito e a promessa de retornar, partimos rumo à seguinte aventura.

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