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Dramas da combustão

Kiko e Marcos, O Ancelmo dá uma nota hoje, falando que a Fiat vai levar ao Salão do Automóvel o projeto do carro tetra combustível: gasolina,...

Redação ((o))eco ·
17 de setembro de 2004 · 20 anos atrás

Kiko e Marcos,

O Ancelmo dá uma nota hoje, falando que a Fiat vai levar ao Salão do Automóvel o projeto do carro tetra combustível: gasolina, álcool, gás e benzina. Benzina não é benzeno, cancerígeno, mas eu fico com um ruído no ouvido, de que já ouvi, ou um cisco na memória do olho, de que já li, em algum lugar, que é o combustível de maior risco em uso. Acho que podíamos mandar alguém rondar os especialistas usuais para saber se é uma boa ou uma furada.

Abs. Sergio.


Lorenzo, Carol, Sérgio e Marcos,

Procurem alguém para falar disso. Coisa curta. Nota para o Salada.

Kiko.


Kiko, Sérgio e Marcos,

Deixem comigo, que já tenho um contato pra falar de combustível de hidrogênio. Aproveito e vejo isso.

Lorenzo


Sérgio, Kiko,

O pior de tudo é que esses carros com vários combustíveis me parecem a típica solução tecnológica para atender a um país onde a indústria automobilística não quer gastar dinheiro com pesquisa. No Japão e nos Estados Unidos, as fábricas estão botando nas ruas modelos híbridos de última geração, que combinam motor de explosão com motor elétrico. Têm enorme autonomia, poluem 99% menos e rendem várias vezes mais com o mesmo litro de gasolina. A Ford testa em laboratórios e ônibus seus modelos movidos a hidrogênio. E nós aqui, misturando coquetel de petróleo com álcool para servir em tanque de combustível.

Abraços, Marcos.


Todos,

É, essa era a outra coisa que estava me incomodando.

Sergio.


Sérgio e Kiko,

Por falar no assunto, semanas atrás encontrei em revistas americanas o lançamento do Ford Escape, um híbrido de verdade – ou seja, feito para o consumidor americano. Na ocasião, anotei o seguinte:“Ele é um 4×4 que parece o primo americano – grande e rico – do Eco-Sport fabricado pela empresa em Camaçari. Mas, no anúincio para chegar ao que interessa – ou seja, ao carro – é preciso atravessar o que parece uma reportagem sobre a Lohas 8, um fórum sobre “comércio responsável” que, sob o patrocínio da marca, a cidade de Marina Del Rey hospedou semanas atrás, na Califórnia. Lohas vem de “Lifestyles of Health and Sustainability”. Em outras palavras, as nossas, “estilos de vida saudáveis e sustentáveis”.

Bem, você pegou o espírito da coisa. No mais puro estilo Marina Del Rey, o primeiro Escape que aparece no anúncio é uma escultura de areia, tamanho-família. Divide a página com uma diretora da Ford chamada Mary Ann Wrigth, usando o microfone da conferência para dizer ao público que há mais de 20 anos é vegetariana. “A revelação não é coisa que se esperasse do coração da indústria automobilística americana”, diz o texto. “Mas foi bem recebida, levando-se em conta a platéia”.

Diga-se de passagem que o auditório estava ocupado por 800 pessoas que começavam os trabalhos do dia fazendo ioga na praia. Eram, mais uma vez em tradução livre, “otimistas da linha-dura”. Estavam ali para aprender a mudar o mundo e ganhar dinheiro ao mesmo tempo”.

Neste clima de biodiversidade industrial, o anúncio da Ford cita conferencistas como Josh Dorfman, da Vivavi, que faz sapatos com solas de borracha natural extraída de seringueiras colombianas, em terras onde antes havia plantações de coca. E divide o palco com nomes como Honest Tea, Whole Foods, Spectrum Organics e Patagonia, todas companhias que brotaram no movimento verde.

“Apesar de sua reputação de abraça-árvores, os participantes da Lohas tendem a adotar soluções sofisticadas”, lembra o anúncio, que a essa altura chegou à terceira página do encarte em papel cuchê sem falar no tal Escape. O assunto, agora, é a linha de montagem de caminhões em Rouge Center, no Michigan, que se converteu à ecologia.

No teto de seus prédios há mais de 40 mil metros quadrados de jardins. A seu redor, crescem mais de 1.500 árvores. Quase 500 mil metros quadrados do terreno foram devolvidos aos bosques, aos pássaros e aos pântanos. A fumaça das unidades de produção é usada para gerar energia. As espécies cultivadas nos terraços têm um apetite especial pelo dióxido de carbono que a indústria lança no ar.

Só lá pela página 6 – ufa! – entra em cena o Escape. É um carro híbrido. Quer dizer, movido a gasolina e eletricidade, com motores que se alternam e se compensam. É uma tecnologia que estreou na praça com Toyota Prius e o Honda Insight, sinal de que a novidade está começando a pegar. A camionete da Ford é bem mais corpulenta que seus precursores japoneses. Mesmo assim, promete fazer até 17 quilômetros com um litro de combustível, poluindo 99,4% menos. A bateria se recarrega cada vez que o motorista pisa no freio. E no painel, além da faixa vermelha de praxe, que acusa excesso de giros, tem uma faixa verde, indicando o regime de rotação em que o motor elétrico está funcionando sozinho.

Mas o melhor mesmo é o motivo que o anúncio alega para publicar esta história toda: “É isso que os consumidores estão querendo”. E essa é a única pressão a que empresa nenhuma resiste por muito tempo. Com ela, o ambientalismo sai definitivamente dos protestos de rua para procurar vaga em garagem. Virou coisa de gente grande”.

Quando é que chegará a nossa vez?

Abraços, Marcos.

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