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Carta – Dez minutos de TV

De Bruno do Nacimento Marc Dourojeanni fez um belo relato sobre a programação da TV brasileira e como os seus assuntos são tratados no pano de...

Redação ((o))eco ·
7 de fevereiro de 2006 · 18 anos atrás

De Bruno do Nacimento

Marc Dourojeanni fez um belo relato sobre a programação da TV brasileira e como os seus assuntos são tratados no pano de fundo. Mas o termino da matéria também é relevante, as emissoras de TV querem entreter e às vezes acabam informando. Ocorre que nem sempre a tal da informação tem um compromisso com o conhecimento real, tanto por parte de quem é entrevistado, ou por parte de quem entrevista e menos ainda de quem vê ou recebe essa informação. Talvez o grande erro sobre a mídia nacional é o fato de dizermos que ela integra o país e passa uma noção de Nação. Na realidade a mídia nacional traz fragmentos de determinados acontecimentos e situações em determinadas localidades que nem sempre está associada àquela realidade. Basta dizer que o principal jornal televisivo tem correspondentes em Nova Iorque, Londres, Berlim, Tel Aviv, Roma e poucas são as vezes que transmite de João Pessoa, Rio Branco, Boa Vista ou Macapá.

Acredito que para a grande maioria da população brasileira que vive na cidade seja difícil imaginar o que é a fronteira da Amazônia com a Colômbia em termos reais. E a TV não tem o tempo necessário para dar essa informação com o conhecimento de causa necessário. Os programas específicos passam nas outras emissoras ou em horários e um formato que não agrada a maioria da população, até porque na maioria das vezes a antena não ajuda e tem um outro programa mais interessante em outra emissora de TV. Em síntese, a TV não é nem um meio ou sequer um instrumento de educação e quando arroga para si esse desejo perde popularidade. Pode até ser que algumas vezes que determinadas pessoas por terem uma vida dedicada a uma causa acabam tocante uma fração da audiência. Para mim a TV é apenas uma grande vitrine.

Quanto às favelas brasileiras, será que o Brasil já fez um real diagnóstico da sua conjuntura? Será que existe uma classe no Brasil antenada com a implementação das soluções para esse tipo de problema?

Não vejo com bons olhos essa pseudo separação entre favela e bairro. As cidades brasileiras são ruins e ponto final. Não importa se você está num automovel dos seus sonhos zero quilometro recém tirado na concessionária ou em pé num ônibus lotado. Tanto um quanto outro estarão presos no engarrafamento nas grandes cidades. Pode ser que em níveis de ar condicionado e assentos diferentes, mas o stress de um é o mesmo que do outro: o trânsito que não anda.

Além disso a luz que falta na favela termina também no apartamento do Leblon e a qualidade da água da companhia de abastecimento é tão duvidosa quanto, tanto num lugar como no outro. A invasão que custa mais caro do que a construção em condições adequadas é a mesma que garante os trinta porcento das empreteiras que ganham a concorrência para a obra de melhoria pública. E geralmente é aquele mesmo trabalho que em dois ou três anos tem que ser feito de novo.

Quais as áreas apresentadas no Rio de Janeiro ou em São Paulo para expansão das cidades? E se existem, as áreas dispõem de infra-estrutura para o bem estar das pessoas ou são meros acampamentos arcaicos, preparados rapidamente para realocação da população?

Depois da construção de Brasília, marco da arquitetura, quais as novas cidades brasileiras que nasceram em condições de oferecer boa qualidade de vida para a população? Como são as cidades do Distrito Federal, vizinhas de Brasília?

Entre as melhores cidades do mundo, encontra-se Vancouver, em primeiro lugar com cerca de cem anos de idade. As cidades brasileiras encontram-se acima da nonagesima posição, sendo que São Paulo ganha do Rio de Janeiro. Em sintese, as melhores cidades brasileiras não são assim tão maravilhosas. Portanto, o fato de melhoria das cidades passa mais por uma classe social mais bem responsavel por um padrão estetico, arquitetônico, cultural e político do que propriamente pelo invasor em si. É claro que o invasor tem culpa no cartório, mas o problema é que na maior parte dos casos são pessoas sem nada. Basta ver que São Paulo é uma cidade construída por imigrantes nordestinos. Entre passar fome no agreste, morar num barraco de pau a pique e não ter nada por perto e ter a esperança de uma vida melhor em São Paulo ou no Rio de Janeiro com qual opção as pessoas ficam? Além disso, as primeiras casas construídas na cidade de São Paulo eram de pau-a-pique e cobertas de palha. Será que a cultura das construções de qualquer jeito e em qualquer lugar não vêm dessa época?

Até que ponto a influência dos povos europeus, indigenas e africanos não contribuíram para essa miscelânea cênica das construções brasileiras? Hoje, na maior parte das favelas existem casas muito mal acabadas que se tivessem a orientação de um arquiteto teriam um efeito visual muito melhor e teriam gastado menos material de construção, ou seja é a falta de cultura e de educação que mata as construções nas favelas do Brasil e nem sempre a simples e pura falta de dinheiro. Mas sim a economia mal feita e o disperdício oriundo da falta de simplesmente pensar.

Se em centros metropolitanos no Brasil as pessoas morrem na fila do hospital o que dizer do atendimento oferecido pelo governo aos indios na fronteira com a Colômbia, basta ver que por problemas entre as esferas de poder governamental morreram crianças indigenas num bairro da periferia da cidade de São Paulo. Se em meio à maior concentração populacional do Brasil, em meio às instâncias de poder, mídia, economia, cultura e tudo mais que se possa pensar as pessoas estão morrendo, o que dizer do resto?

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