“Essa será a primeira vez que vamos realmente fazer um manejo de espécies invasoras no Brasil, seguindo os protocolos para captura, quarentena e soltura para mico-leão”, afirma Maria Cecília Kierulff, bióloga responsável pelo programa de remoção e diretora do Instituto Pri-Matas. Ela tem experiência no trabalho com micos-leões-dourados e, durante o doutorado, acompanhou a reintrodução com sucesso de um grupo de animais na natureza. O trabalho está na fase inicial e deve ser concluído no período de dois anos.
Outro risco é o cruzamento entre as duas espécies, o que já ocorreu em cativeiro. “A ecologia dos dois é bem parecida, agora podem formar híbridos, podem cruzar e a gente não sabe o que pode acontecer com estes híbridos”, afirma Maria Cecília. “Híbridos são sempre um problema e se forem mais resistentes do que os originais podem excluir as duas espécies e se espalhar rapidamente”, explica a pesquisadora.
A tendência é que populações de micos-leões-dourados se expandam até chegarem ao território atualmente ocupado pelos seus primos. Hoje, grupos destas duas espécies de micos são separados por uma distância de apenas 50 quilômetros. E existem pequenos fragmentos de matas que podem funcionar como ponte entre as duas populações. Além disso, os micos-leões são capazes de se locomover em áreas abertas com mais de um quilômetro de extensão.
Armadilhas vão ser usadas, tendo bananas como isca. Equipamentos de som, que imitam vocalizações destes pequenos primatas também serão utilizados para atrair os grupos. A cada três meses, serão capturados quatro grupos. Eles vão passar por uma quarentena, antes de viajarem de avião para Porto Seguro e de carro até o novo lar, na Bahia, onde não existem mais micos-leões-da-cara-dourada.
Mas os cientistas temem que a população do mico-leão-da-cara-dourada tenha crescido acima do previsto e saído dos limites de Niterói, o que poderia dificultar a captura de todos os indivíduos. Por isto, haverá um intervalo razoável de tempo entre as capturas, para que o deslocamento dos grupos possa ser acompanhado.
“Não é fácil retirar. Temos que encontrar os grupos e capturá-los, o que deve começar no início do ano que vem. É preciso tirar todos, não ficar nenhum”, afirma a bióloga. “Depois de soltos no novo lar, serão monitorados. Se alguém notar que eles não estão se dando bem, a gente revê o que fazer”.
A população de micos invasores é de aproximadamente 106 indivíduos, distribuídos em 15 grupos, de acordo com levantamento realizado em 2009 pela própria Maria Cecilia Kierulff. Os primeiros animais foram observados em 2002. Eles provavelmente foram soltos acidentalmente, numa ação humana. Os micos vivem em uma área de mata, perto de um condomínio residencial, e são alimentados pelos moradores. Suspeita-se que os micos-leões-da-cara-dourada viviam em cativeiro e foram soltos.
Instituições responsáveis
O programa de remoção do mico-leão-da-cara-dourada será desenvolvido pelo Instituto Pri-Matas para a Conservação da Biodiversidade, com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção a Natureza. A instituição terá também a parceria do ICMBio (Instituto Chico Mendes para Biodiversidade), Conservation International, Associação Mico-leão-dourado, Instituto Estadual do Ambiente – INEA (RJ), Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia.
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