(Manaus, AM) – Pesquisadores americanos encontraram na Amazônia Brasileira a resposta para um mistério que durava 165 anos, o desaparecimento anual do andorinhão-preto-americano (Cypseloides niger borealis). Essa espécie se reproduz na América do Norte entre os meses de maio e setembro, primavera e verão por lá. Quando o clima esfria, como já se sabe desde que a espécie fora descoberta no século XIX, ela busca temperaturas mais amenas e alimento mais abundante em algum lugar ao sul.
Só que ninguém ainda havia descoberto onde estas aves iam parar durante o semestre frio do hemisfério norte. Até que pesquisadores americanos descobriram, usando geolocalizadores, que elas viajam cerca de 7 mil quilômetros. O destino desse discreto visitante é o oeste do estado do Amazonas, onde buscam refúgio em uma vasta região que vai desde áreas banhadas pelo Rio Japurá, ao norte, até o interflúvio Madeira-Purus, ao Sul. O estudo foi publicado no mês de março no jornal da Sociedade Wilson de Ornitologia.
Durante esse período, os pássaros podem ser encontrados também no Peru, Colômbia e Venezuela. Havia apenas um registro desse andorinhão na América do Sul, ao longo do rio Cauca, na Colômbia, onde um grupo pequeno foi observado em rochas próximas ao rio junto com outra espécie, o taperuçu-de-coleira-branca (Streptoprocne zonaris), indicando que bancos de rochas em rios são usadas durante a migração.
Para resolver o mistério, considerado um dos mais intrigantes da ornitologia, em 2009, os pesquisadores capturaram andorinhões em ninhos do estado americano do Colorado, nos quais fixaram o equipamento que registra e armazena dados da localização. Três desses pássaros foram recapturados, o que permitiu aos pesquisadores obterem as informações sobre onde as aves estiveram e em que período.
Na opinião do ornitólogo Mário Cohn-Haft, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o estudo demonstra o quanto a Floresta Amazônica continua a surpreender. “E também chama a atenção para a importância de tecnologia para desvender mistérios, que outras abordagens convencionais não resolveram”, afirma. Segundo ele, métodos novos existem, mas são pouco empregados por aqui.
Além disso, de acordo com o ornitólogo, a pesquisa chama a atenção para conexão que existe entre os diversos biomas do planeta. Apesar de nidificar no Hemisfério Norte, o andorinhão-preto-americano depende da nossa floresta para sobreviver. “O bicho passa mais da metade do ano na Amazônia. Então não é possível tratar da conservação observando somente as fronteiras políticas”, defende.
A partir dos registros, é possível concluir que agora é a época dos andorinhões se despedirem da Amazônia para voltarem à América do Norte. Os pássaros recapturados pelos pesquisadores iniciaram a migração entre 10 e 19 de setembro e chegaram ao Brasil entre o dia 28 daquele mês e 12 de outubro. A viagem de retorno começou de 9 a 20 de maio do ano seguinte e terminou entre 28 de maio e 18 de junho. Os dados demonstram que as aves passaram cerca de 220 dias no Brasil. Os andorinhões-pretos-americanos viajam até 390 quilômetros em apenas um dia, ao longo do México e América Central.
Cohn-Haft explica que, apesar do nome, andorinhões são de uma família distinta das andorinhas e estão mais próximos dos beija-flores e bacuraus do que delas. De acordo com ele, é muito difícil diferenciar as espécies de andorinhões. Essas aves não pousam em áreas abertas e são muito parecidas, só sendo identificadas por pesquisadores experientes e, às vezes, examinando a ave na mão. “Eu já vi um do mesmo jeitão, em março, na época certa, mas não pude identificar a espécie”, recorda.
O andorinhão-preto-americano é protegido por leis nos Estados Unidos e México, mas a população da espécie decaiu 6,3% ao ano, entre 1966 e 2001. A perda de habitat e redução dos insetos usados na alimentação, devido ao uso de pesticidas, são apontadas como potenciais causas deste declínio. Para os pesquisadores americanos, com a descoberta, o desmatamento na Amazônia se torna mais um fator preocupante na preservação dessa ave. (reeditado em 15 de maio, às 10 horas)
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Artigo original: The Northern Black Swift: Migration Path And Wintering Area Revealed. Autores: Jason P. Beason, Carolyn Gunn, Kim M. Potter, Robert A. Sparks e James W. Fox. Publicado em The Wilson Journal of Ornithology
Rocky Mountain Bird Observatory
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