Manaus, AM – A lista das dez novas espécies mais importantes descritas no ano passado foi divulgada hoje pelo Instituto Internacional para Exploração de Espécies do Universidade do Arizona, Estados Unidos. A escolha é feita há cinco anos por um comitê internacional de taxonomistas e coincide com o aniversário de Carolun Linnaeus, botânico sueco que viveu no século XVII e é responsável pelo moderno sistema de classificação de denominação de espécies. (Veja aqui o link para as listas de outros anos.)
Nenhuma espécie descrita no Brasil foi incluída na lista, que conta, entre outras, com uma barata gigante que brilha no escuro (Lucihormetica luckae), uma esponja carnívora e o menor vertebrado da Terra. Os responsáveis pela lista destacam que apenas dois milhões de espécies vivas já foram descritas pela ciência de um total estimado entre 10 e 12 milhões de espécies existentes.
A seleção foi feita entre mais de 140 descritas no ano passado. “Nós olhamos para organismos com características ou tamanho inesperados e aquelas encontradas em habitats raros ou de difícil acesso”, explicou o biólogo Antonio Valdecasas, do Museu Nacional de Ciências Naturais de Madri, Espanha, e presidente do comitê internacional. “Procuramos também por organismos que são especialmente significativos para os seres humanos. Aqueles que desempenham um certo papel no habitat humano ou que são considerados um parente próximo”, acrescentou.
Durante décadas, mantemos uma média de 18 mil espécies descobertas por ano, o que parecia razoável antes da crise da biodiversidade. Agora, sabemos que milhões de espécies podem não sobreviver ao século XXI, é tempo de acelerar o passo”, afirma o diretor fundador do estudo, Quentin Wheeler.
“Nṍs clamamos por uma missão igual a da Nasa para descobrir 10 milhões de espécies nos próximos 50 anos. Isso levaria a descobrir inúmeras opções para um futuro mais sustentável, assegurando simultaneamente evidência das origens da biosfera”, completa.
De acordo com ele, ao mesmo tempo que se procura vida em outros planetas, a busca pela biodiversidade na Terra poderia ser priorizada. “Estou chocado com a nossa ignorância sobre o nosso próprio planeta e admirado pela diversidade, beleza e complexidade da biosfera e seus habitantes”, concluiu.
Veja a lista
A violeta de Lilipute (Viola lilliputana)
Peru
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Ela não é apenas uma pequena violeta, mas a menor violeta do mundo e também uma das menores dicotiledôneas terrestres. Conhecida em apenas um local do Antiplano Andino no Peru. A Viola lilliputana vive na eco-região de puna seca. As primeiras espécimes foram coletadas na década de 1960, mas a espécie não foi descrita até 2012. Acima do solo, ela mede apenas um centímetro de altura. O nome, obviamente, foi dado em função das pequenas pessoas que viviam na ilha de Lilipute, no romance de Jonathan Swift, “As Viagens de Gulliver”.
Esponja Lira (Chondrocladia lyra)
Nordeste do Oceano Pacífico, Califórnia, Estados Unidos.
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Uma espetacular, grande e com formato de uma harpa, e além de tudo isso, carnívora. Essa esponja foi descoberta em águas profundas (abaixo dos 3.399 metros) do Pacífico Nordeste, na costa da Califórnia. Ela possui entre duas e seis estruturas em forma de harpas ou palhetas e cada uma com mais de 20 ramos paralelos, frequentemente coberto por uma espécie de balão. Esta forma incomum aumenta a área de superfície da esponja, usada para contato e captura de presas planctônicas.
Macaco lesula (Cercopithecus lomamiensis)
República Democrática do Congo
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Uma novidade para a ciência, descoberta no Velho Mundo, num local bem conhecido. Este é apenas o segundo macaco descoberto na África nos últimos 28 anos. Um juvenil capturado em 2007 foi o primeiro a ser encontrado pelos cientistas. O tímido lesula foi descrito como tendo olhos parecidos com os humanos. Eles são mais fáceis de serem ouvidos do que vistos e fazem um coro crescente no amanhecer. Machos adultos têm uma grande mancha sem pêlos na pele, sobre as nádegas, testículos e períneo, que é colorido por uma azul brilhante. Apesar de as florestas onde vivem estes macacos são remotas, eles são caçados e estão vulneráveis à extinção.
Um não para as minas (Sibon noalamina)
Panamá
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Uma bela nova espécie de cobra que se alimenta de caracóis foi descoberta nas florestas de altitute do Oeste do Panamá. É uma cobra de hábitos noturnos que se alimenta de presas de corpo mole, como minhocas e ovos de anfíbios. Os anéis claros e escuros alternados imitando a coral verdadeira é uma maneira desta serpente se defender. Ela é encontrada na cordilheira montanhosa Serrania Tabasará, que vem sendo degradada pela mineração. Daí o nome derivado da frase em espanhol: “No a la mina” ou “não à mina”.
Uma mancha na arte paleolítica (Ochroconis anomala)
França
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Em 2001, manchas pretas começaram a aparecer nas paredes da caverna de Lascaux, França. Em 2007, as manchas se tornaram uma grande preocupação para a conservação da preciosa arte rupestre do local, que remonta ao Paleolítico Superior (Entre 40 e 10 mil anos antes de Cristo). Eles apareceram logo após um ataque de fungos brancos (Fusarin solani) ter sido controlado. O gênero primeiramente foi incluído entre os fungos que ocorrem no solo e estão associados a decomposição de plantas. Depois, os cientistas descobriram que este fungo, uma das duas novas espécies do gênero de Lascaux, é inofensivo. No entando, outra espécie do mesmo gênero, a O. gallopava, pode causar problemas no sistema imunológico de seres humanos.
O menor vertebrado do mundo (Paedophryne amanuensis)
Nova Guiné
Este sapinho mede apenas 7 milímetros de comprimento, menos do que o antigo detentor da marca, um pequeno peixe que vive no Sudeste Asiático. Imagina ele ao lado do maior vertegrado do mundo, uma baleia azul, que mede 25,8 metros! O novo sapo foi descoberto perto da Vila de Manau, em Papua, Nova Guiné. A média entre os tamanhos do macho e da fêmea e de apenas 7,7 milímetros. Com poucas exceções, este e outros rãs ultra-pequenas estão associadas com a serapilheira úmida de florestas tropicais, o que sugere uma aliança ecológica único que não poderia existir em ambiente seco.
Floresta Ameaçada (Eugenia petrikensis)
Madagascar
Eugenia é um grande gênero, distribuído ao redor do mundo de árvores e arbustos da família das mirtáceas, que é particularmente diversa na América do Sul, Nova Caledônia e Madagascar. Essa nova espécie é um arbusto que atinge dois metros de altura, com um verde esmeralda, folhas levemente brilhantes e belos cachos densos de pequenas flores magenta. É uma das sete novas espécies descritas na floresta litorânea do leste de Madagascar e está ameaçada de extinção. É a mais recente evidência de espécies únicas e numerosas encontradas na floresta que cresce ao longo de uma faixa distante um quilômetro da costa da ilha. Essa floresta antes se estendia em uma faixa contínua 1.600 km de comprimento, mas foi reduzida a fragmentos isolados, devido a pressão de populações humanas.
Baratas relâmpago? (Lucihormetica luckae)
Equador
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Baratas que brilham no escuro poderiam causar pesadelos. E elas existem. A luminescência em animais terrestres é rara e melhor conhecida em algunas espécies de besouros, os velhos conhecidos vaga-lumes, mas em 1999 foi descoberto que mais de uma dezena de espécies de baratas também podem brilhar. Felizmente, todas elas são raras e interessante (dizem os pesquisadores). São encontradas em áreas remotas, longe da poluição luminosa. A barata brilhante descoberta mais recentemente pode nem existir mais na natureza. Ela foi descrita a partir de um único espécime coletado há 70 anos. O mais notável da espécies é que o tamanho e colocação de suas “lâmpadas” sugerem que ela usa a luz para imitar os tóxicos besouros-de-clique luminescentes.
Uma borboleta nada social (Semachrysa jade)
Malasia
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Um entomologista da Califórnia, Estados Unidos, reconheceu esse inseto incomum, um crisopídeo com manchas escuras, em uma fotografia compartilhada pelo autor no Flickr. Após conseguir coletar uma amostra, o autor da fotografia a enviou a especialistas que confirmaram ser uma nova espécie. Em um caso de triunfo da ciência produzida pelos cidadãos, pessoas de várias partes do mundo colaboraram, usando novos meios de comunicação para fazer a descoberta. O nome não é pela cor, mas sim uma homenagem a Jade, filha de Shaun Winterton, o entomologista que viu a foto.
Unidas desde o jurássico (Juracimbrophlebia ginkgofolia)
China
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Esses insetos formam uma linhagem de moscas-escorpiões caracterizadas pelos corpos magros, dois pares de asas estreitas e longas e finas pernas. Eles viviam há 165 milhões de anos, em mimetismo com as folhas da Yimaia capituliformis, uma árvore semelhantes ao ginkco, símbolo de longevidade e paz para orientais. Essa nova espécie fóssil, Juracimbrophlebia ginkgofolia, foi encontrada na região autônoma da Mongólia Interior, China. A semelhança entre o inseto e as folhas da árvore é tão grande que elas facilmente são confudidas no campo e representam um raro exemplo de como um inseto mimetizava uma gymnosperma há 165 milhões de anos, antes das plantas com flores se espalharem.
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