Os invejáveis investimentos de 90 milhões de euros (ou mais de 260 milhões de reais) ao longo dos últimos vinte anos para salvar o lince-ibérico (Lynx pardinus) da extinção podem não ser suficientes, se o planejamento das ações não levarem em conta as mudanças climáticas. O alerta foi dado por um grupo internacional de pesquisadores, em um artigo publicado na revista científica Nature Climate Change.
O lince-ibérico pesa entre 10 e 15 quilos e atinge cerca de 50 centímetros de altura. É considerado o mamífero que mais corre o risco de extinção no mundo, classificado como Criticamente Ameaçado na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). A população do animal teve uma pequena recuperação nos últimos anos e atualmente está em torno de 250 indivíduos, divididos em dois grupos no sudeste da Espanha. Eles sofrem ameaças como a caça, atropelamentos, perda de habitat e, após surtos de doenças que reduziram a população de coelhos, falta de presas para se alimentar.
“Nossos modelos mostram que a mudança climática prevista levará a um declínio rápido e dramático do lince-ibérico e, provavelmente, vai erradicar a espécie dentro de 50 anos, apesar dos esforços de conservação atuais”, afirma Miguel Araújo, da Universidade de Copenhague. “As duas únicas populações presentes no momento não serão capazes de se espalhar ou se adaptar às mudanças. Felizmente, não é tarde para melhorar as perspectivas do lince, se os planos de gestão começarem a levar em consideração as mudanças climáticas”, completa.
Programas de melhoria genética em curso demonstram ser capazes de estabilizar a população de linces, mas não são suficientes para garantir a preservação da espécie, se os animais não forem reintroduzidos em locais que resistam melhor ao aquecimento global. “O habitat no sudoeste da Península Ibérica, onde estão as duas populações restantes, provavelmente vai estar inóspito para o lince na metade deste século”, afirma Alejandro Rodriguez, da Estação Biológica de Dañana, Sevilha.
Conforme o estudo, é necessário privilegiar locais com maiores altitudes e latitudes para reintroduzir os animais, ou seja, o norte da Península Ibérica. Esses locais devem sofrer menos os efeitos das mudanças climáticas e são capazes de manter tanto a abundância de presas quanto a conectividade de habitats, oferecendo condições para que o número de linces-ibéricos aumente para 900 indivíduos até 2090, segundo a previsão feita pelos pesquisadores.
Leia também
Entrando no Clima#41 – COP29: O jogo só acaba quando termina
A 29ª Conferência do Clima chegou ao seu último dia, sem vislumbres de que ela vai, de fato, acabar. →
Supremo garante a proteção de manguezais no país todo
Decisão do STF proíbe criação de camarão em manguezais, ecossistemas de rica biodiversidade, berçários de variadas espécies e que estocam grandes quantidades de carbono →
A Floresta vista da favela
Turismo de base comunitária nas favelas do Guararapes e Cerro-Corá, no Rio de Janeiro, mostra a relação direta dos moradores com a Floresta da Tijuca →