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Madre de Dios: os custos devastadores da corrida do ouro

Nessa região do Peru, a disparada do metal dourado multiplicou o número de minerações ilegais com danos ao meio ambiente e à saúde humana.

Alejandro Coca · Louis Reymondin ·
23 de novembro de 2012 · 11 anos atrás

A constante elevação da cotação do ouro causou uma rápida expansão nas atividades de mineração em solos aluviais nos últimos anos. Este fenômeno traz consigo enormes custos para a saúde da população e o meio ambiente. Um exemplo disso é a região (ou departamento) de Madre de Dios, no Peru, uma área que faz parte do mais extenso ecossistema de floresta tropical do mundo, a Bacia Amazônica. A quantidade de operações de mineração sem aprovação tem aumentado drasticamente nos últimos anos nesta região, contribuindo para perdas significativas de habitat. Na verdade, cerca de 7.000 ha de floresta primária e zonas úmidas foram devastados em duas áreas de mineração no período de 2003 a 2009, como demonstrado por Swenson et al (2011). O monitoramento conduzido por Terra-i mostra que entre 2004 e 2011 a região de Madre de Dios perdeu 28.369 ha de cobertura vegetal nativa, uma área equivalente à superfície das Ilhas Maldivas. Taxas de desmatamento alarmantes foram registradas nas Províncias de Manu e Tambopata, onde atividades de mineração têm aumentado consideravelmente desde 2005 (Figura 1). Estes resultados batem com as Avaliações Anuais de Recursos Florestais da FAO (FRA) e outras investigações científicas que registraram as maiores taxas de desmatamento e alteração na cobertura vegetal nativa nas regiões onde a cotação do ouro tenha subido dramaticamente.

Figura 1. Na esquerda, o mapa de detecção de mudanças na utilização do solo da Terra-i, ampliado nos focos de desmatamento em área de mineração nas províncias de Manu e Tambopata na Região de Madre de Dios (Peru), entre 2004-2011 (pontos amarelos e vermelhos); Principais áreas de mineração marcadas como “A”, para Guacamayo, “B” para Colorado-Puquiri e “C” para Huepetuhe. Na direita, fotos aéreas das áreas de mineração “A” e “B”. Crédito das fotos: mongabay.com

Uma visão geral da economia emergente do Peru

A economia do Peru tem passado por um notável período de crescimento nos últimos cinco anos, o que a torna a economia de crescimento mais rápido da região. O país tem uma das reservas madeireiras mais importantes do mundo, sendo o quarto país com a maior cobertura de floresta tropical mundial. Ele também abriga a segunda maior área de floresta tropical na Bacia Amazônica (atrás do Brasil).

Mesmo que as taxas de desmatamento sejam relativamente baixas no Peru, a taxa anual de desmatamento tem aumentado consideravelmente – de 0,14% (da totalidade da cobertura vegetal nacional) entre 2000 e 2005 para 0,22% entre 2005 e 2010, de acordo com dados da FAO. Além disso, a perda de florestas corresponde por 47,5% do total de emissões de gases de efeito estufa no país. Dentre as principais causas para o desmatamento e a degradação identificados pelo Ministério do Meio Ambiente estão: mudanças ilegais na utilização do solo para agricultura, agricultura itinerante sobre queimada, criação de gado, assentamentos humanos, mineração ilegal e má gestão de infra-estruturas rodoviárias.

Em 2011, o Peru estava entre os 6 maiores produtores mundiais de ouro. No entanto, de acordo com a Superintendencia Nacional de Aduanas del Peru e Swenson et al (2011), uma grande parte do ouro Peruano foi extraído por métodos ilegais baseados na utilização de metais pesados, como o mercúrio. Tais práticas estão aquém de serem sustentáveis e trazem um enorme impacto negativo ao meio ambiente. Além disso, como demonstrado na Figura 2, a elevação na cotação do ouro levou a um aumento exponencial nas áreas de mineração ilegal, seguido de um drástico aumento nas importações de mercúrio. E ainda, melhorias na infra-estrutura rodoviária da região, como no caso da Rodovia Interoceânica (que conecta o Peru e o Brasil), têm facilitado o processo de extração.

Gostaria de assistir a evolução do desmatamento na área de mineração? Veja o vídeo a seguir:

Artigo escrito por Alejandro Coca e Louis Reymondin com o apoio de Andreea Nowak (pesquisadora visitante da CIAT / DAPA) e Rodomiro Ortiz (Professor de Genética e Melhoramento de Plantas na Universidade Sueca de Ciências Agrárias).

 

 

 

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