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Corrida do ouro deixa rastro de desmatamento na América do Sul

Estudo mostra que subida rápida do preço internacional incentivou corrida pelo metal na Amazônia e levou à destruição de florestas.

Vandré Fonseca ·
15 de janeiro de 2015 · 10 anos atrás

Quase noventa por cento do desmatamento provocado pela mineração ocorre em apenas quatro regiões, entre elas Madre de Dios, no Peru (foto). Na região, em cada hectare de floresta, são encontradas mais de trezentas espécies diferentes de árvores. Foto: Divulgação/Duke University
Quase noventa por cento do desmatamento provocado pela mineração ocorre em apenas quatro regiões, entre elas Madre de Dios, no Peru (foto). Na região, em cada hectare de floresta, são encontradas mais de trezentas espécies diferentes de árvores. Foto: Divulgação/Duke University

Manaus, AM – A cotação do ouro no mercado internacional tem aumentado também o custo ambiental da exploração do metal precioso nas florestas da América do Sul. De acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (14 de janeiro) no jornal científico Environmental Research Letter, entre 2001 e 2013, os garimpos derrubaram perto de 1.680 km² de florestas, uma área pouco maior do que a cidade de São Paulo.

Durante este período, a onça de ouro (medida equivalente a 31,104 gramas) no mercado internacional subiu de US$ 250,00 (cerca de R$ 650,00), no ano 2000, para US$ 1.300,00 (R$ 3.400,00), em 2013, segundo o levantamento. A situação se agravou com a crise econômica internacional de 2008. Entre 2001 e 2006, foram perdidos 377 km² de florestas, em 61 áreas de mineração. De 2007 a 2013, esta área quadruplicou, passando a 1.303 km², em 116 locais.

Os responsáveis pelo estudo admitem que desmatamento provocado pelo garimpo é pequeno se comparado à destruição causada pela conversão de florestas em pastagens ou áreas agrícolas, mas alertam para um agravante. Nora Álvarez-Berrios, líder da pesquisa, explica que a derrubada de floresta devido à mineração ocorre justamente em algumas das áreas com maior biodiversidade de Amazônia. “Por exemplo, a região de Madre de Dios, no Peru, onde um hectare de floresta pode abrigar mais de 300 espécies de árvores”, afirma a pesquisadora.

Quatro regiões concentram 89% do desmatamento provocado pela mineração aurífera: no Brasil, o interflúvio dos rios Tapajós e Xingu, no estado do Pará; as florestas das Guianas (que se estendem do Amapá até a Venezuela; a Amazônia Peruana; e o norte da Colômbia.

O estudo aponta perde de 183 Km² de florestas na região do Tapajós-Xingu, com grande concentração de desmatamento no município de Itaituba.

Aproximadamente um terço do desmatamento causado pela mineração ocorreu a menos de 10 quilômetros de áreas protegidas, o que se as tornaria susceptíveis à poluição química. Outra pesquisa, realizada pela Duke University, dos Estados Unidos, mostrou o potencial de contaminação por mercúrio utilizado em garimpos. Ele pode se estender por até 350 milhas (cerca de 563 quilômetros) rio abaixo do local onde se iniciou.

Para correlacionar o preço do ouro ao desmatamento, os pesquisadores da Universidade de Porto Rico, além de pesquisar a cotação e os registros de produção aurífera mundiais, os pesquisadores da Universidade de Porto Rico utilizaram informações sobre as áreas de mineração que surgiram a partir do ano 2000 e as compararam com dados sobre mudanças no uso da terra durante o mesmo período.
Para Nora Álvarez-Berrios, é importante conscientizar os consumidores de ouro sobre os impactos provocados pela compra e investimentos em ouro. Para ela, é importante também incentivar formas mais responsáveis de extração do metal, ajudando os garimpeiros a extrair o ouro de maneira mais eficiente.

 

 

Saiba mais
Artigo: Global demand for gold is another threat for tropical forests. Nora L Alvarez-Berríos and T Mitchell Aide.

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