Manaus, AM – Há mais de 50 anos, cientistas discutem como as tartarugas são capazes de retornar todos os anos à praia onde nasceram para depositar seus ovos, nas mesmas areias. A solução do mistério, já se sabia, tem a ver com os campos magnéticos da Terra, mas esta resposta ainda não era suficiente.
Agora, um estudo de pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, apresenta evidências de que as tartarugas são capazes de reconhecer assinaturas magnéticas específicas do litoral. Os resultados foram publicados no jornal científico Current Biology, editado pela Cell Press.
“Nossos resultados apresentam evidência de que as tartarugas marcam um campo magnético único de sua praia natal quando ainda filhotes e usam esta informação para retornar quando adultas”, afirma o estudante de graduação e principal autor do artigo, J. Roger Brothers.
Estudos anteriores indicavam que as tartarugas usam o campo magnético da terra como guia quando estão em alto mar. Mas o papel dos campos magnéticos na jornada de retorno aos locais de desova ainda não estava claro.
O professor de Biologia Kenneth Lohmann, co-autor do novo estudo, já havia proposto há alguns anos que tartarugas, assim como salmões, são capazes de registrar campos magnéticos quando ainda são jovens. Para testar esta hipótese, os pesquisadores analisaram dados sobre locais de reprodução da tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), encontrada em águas tropicais e subtropicais de quase todo o mundo, inclusive no Brasil.
As informações foram coletadas ao longo de 19 anos, na costa Oeste da Flórida, o maior viveiro de tartarugas marinhas da América do Norte. Eles descobriram uma forte associação entre a distribuição espacial de ninhos de tartaruga e mudanças sutis no campo magnético da Terra.
“Nós raciocinamos que se as tartarugas usam o campo magnético para encontrar as praias onde nasceram, então as mudanças no campo magnético da terra poderiam influenciar onde elas fazem os ninhos”, diz J Roger Brothers.
Mudanças sutis no campo magnético do Planeta alteraram também as assinaturas dos campos magnéticos de locais na costa. Tal qual os pesquisadores haviam previsto, quando assinaturas de locais adjacentes eram registradas mais próximas umas das outras, tartarugas se aglomeravam em trechos curtos da costa. Onde as assinaturas estava mais separadas, as tartarugas marinhas se espalhavam e botavam ovos em ninhos mais afastados entre si.
Brothers diz que pouco se sabe sobre como as tartarugas detectam o campo geomagnético. Provavelmente pequenas partículas magnéticas no cérebro dos animais respondem ao campo magnético da terra e oferecem a base para a orientação das tartarugas marinhas.
Segundo os pesquisadores, tartarugas-marinhas provavelmente não medem esforços para encontrar os lugares onde começaram a vida, porque um assentamento bem sucedido requer uma combinação de raras características ambientais: areia macia, a temperatura certa, poucos predadores e uma praia de fácil acesso.
“A única forma de uma tartaruga fêmea ter certeza que ela está nidificando em um lugar favorável para o desenvolvimento do ovo é fazer o ninho na mesma praia onde ela eclodiu”, diz Brothers. “A lógica das tartarugas marinhas parece ser que se este [local] funcionou para mim, deve funcionar para a minha prole”.
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