Uma das mais impressionantes obras dos últimos 4 mil anos no Brasil foi construída por cupins. Ao longo de milênios, gerações de Syntermes dirus, um inseto com pouco mais de um centímetro de comprimento, escavaram lentamente milhares de quilômetros de túneis sob o sol da caatinga, nos estados de Minas Gerais e Bahia, deixando a vista um conjunto imenso de montes, que se espalham por 230 mil quilômetros quadrados.
É uma área quase do tamanho do estado de São Paulo (248,2 mil quilômetros quadrados), que pode ser observada por satélites.São 200 milhões de montes, chamados na região de ‘murundus’, cada um com cerca de 2,5 metros de altura e 9 metros de diâmetro. Os pesquisadores enfatizam que não são ninhos de cupins, mas o resultado do solo removido para a construção dos túneis. A descrição deste monumento foi publicada este mês na revista científica Current Biology.
“Este é aparentemente o maior esforço de bioengenharia do mundo feito por uma única espécie de inseto”, afirma Roy Funch, da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, um dos autores do estudo. Os pesquisadores mediram também a idade dos túneis, por meio de amostras do solo. Eles foram sendo construídos entre 3.820 e 690 anos atrás. “Similar a idade das pirâmides”, destaca Funch.
Essas datas fazem das estruturas encontradas na caatinga brasileira tão antigas quanto os montes de cupins mais velhos da África, segundo os pesquisadores. O artigo apresenta ainda mais números para atestar a grandiosidade dessa rede de túneis. Ao construí-los, os cupins removeram cerca de 10 quilômetros cúbicos de terra, o equivalente a 4 mil pirâmides de Giza.
A análise das disposições dos túneis levou os pesquisadores a concluir que eles foram construídos para facilitar o acesso dos cupins às folhas que caem da mata. Em um ambiente seco, com vegetação rala, os túneis permitiam aos insetos chegar com menor gasto de energia aos locais onde estavam as folhas secas.
“Esses montes foram formados por uma única espécie de cupim, que escavou uma massive rede de túneis para permitir acesso a folhas mortas para comer em segurança e diretamente do chão da floresta”, afirma Stephen Martin, da Universidade de Salford, Reino Unido.
Mas os pesquisadores ainda têm muito trabalho a fazer no local. Eles ainda não sabem, por exemplo, como as colônias de cupins estão estruturadas, já que até agora não conseguiram encontrar uma câmara da rainha desta espécie de cupim.
Saiba Mais
Artigo: A vast 4,000-year-old spatial pattern of termite mounds
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Gostaria de saber como planear uma área cheia de murundu sem o uso de trator esteira
Realmente incrível o que a natureza nos proporciona