O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia em 2021, medidos pelo sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), foi de 8.712 km. Os dados, atualizados nesta sexta-feira (6) na plataforma TerraBrasilis, revelam que esta é a segunda pior temporada dos últimos cinco anos, mesmo faltando ainda um dia para fechar o ciclo, que vai de 1º de agosto de um ano a 31 de julho do ano seguinte (os dados disponíveis vão até 30 de julho).
A área indicada pelo Deter equivale a cerca de sete vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro. O valor representa uma queda de cerca de 5% em relação aos dados de 2020, quando o sistema de alertas contabilizou 9.216 km² de áreas desmatadas.
Mesmo que um pouco menor do que o ano passado, o número continua alto, observam especialistas.
“Apesar da redução entre um ano e outro de 5%, seguimos em níveis altíssimos de desmatamento na Amazônia”, afirma o diretor-executivo do IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), André Guimarães. “Estamos em um momento crucial para o equilíbrio climático do planeta, e manter as florestas é a principal contribuição que o Brasil pode dar neste momento a esse desafio global”, disse, em nota divulgada pela entidade.
“Os três recordes da série foram batidos no governo Bolsonaro, no qual os alertas são 69,8% maiores que a média dos anos anteriores. O resultado indica que o desmatamento anual deverá, pela terceira vez, ficar próximo de 10 mil km², o que não ocorria desde 2008”, alerta o Observatório do Clima.
Na última segunda-feira (2/8), o general Hamilton Mourão, comandante do Conselho da Amazônia, antecipou que o governo, de fato, não conseguiria cumprir a meta de redução que havia prometido nas semanas anteriores.
“Fechou o ciclo, o ciclo fechou no dia 31 de julho, provavelmente não vou cumprir aquilo que eu achava que seria o nosso papel de chegar a 10% de redução. Acho que vai dar na faixa de 4% a 5%, uma redução muito pequena, muito irrisória, mas já é um caminho andado”, disse o vice.
Ao apresentar em julho a nova operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) contra crimes ambientais na Amazônia, a Operação Samaúma, o vice havia declarado que desejava atingir até 12% de redução na taxa anual de desmatamento.
No ano passado, Mourão havia sido ainda mais otimista, ao declarar a embaixadores estrangeiros que a queda seria de 15%.
Desmatamento nos Estados e por categorias
No período compreendido entre agosto de 2020 e 30 de julho de 2021, os estados da Amazônia Legal que mais acumularam alertas de desmatamento foram: Pará (com 3.449km²), Mato Grosso (1.475 km²), Amazonas (1.693 km²), Rondônia (1.314 km²) e Acre (490km²).
A análise por categorias de alertas indica que a degradação florestal – quando é removida parte da vegetação – também atingiu nível recorde: 6.062 km² em 2021, a maior marca desde 2017, início da série histórica disponível, e aumento de 87% em relação a 2018.
Se considerarmos apenas o corte seletivo, ou seja, a extração de madeira, o sistema Deter informa que a área de alertas quase triplicou em 2020 e 2021, em relação à média dos anos anteriores.
A mineração também foi responsável pela subida nos alertas, com alta de 62% em relação a 2018. Em 2021, a mineração devastou 125 km², a maior marca desde o início da série histórica do Deter-B, em 2016.
No primeiro semestre de 2021, o Deter já havia indicado que a ocupação irregular de florestas públicas não destinadas, categoria fundiária sob a responsabilidade da União e Estados, estava impulsionando a alta nos números. Nos primeiros seis meses desse ano, 32% da derrubada registrada pelo Deter aconteceu nestas áreas, enquanto 25% foi registrada em imóveis rurais e 19% em assentamentos.
“É um indício claro do avanço da grilagem e da ilegalidade”, explica o pesquisador sênior do IPAM, Paulo Moutinho.
Governo é responsável pelas altas
Segundo o Observatório do Clima, falta ao Brasil o essencial para que os números do desmatamento não sejam tão escandalosos: uma política de controle do desmatamento.
“Há dois anos e meio o regime de Jair Bolsonaro se dedica a desmontar a governança ambiental e a ativamente estimular o crime”, diz nota do OC. “O destino da floresta está nas mãos das quadrilhas de grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros. Hoje, são eles que determinam qual será o dado oficial de desmatamento. Na Amazônia, o crime ambiental atua livremente, e conta com a parceria do atual governo”, complementa Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.
A entidade lembra o principal plano de controle do desmatamento da Amazônia, o PCCDAm, criado em 2004, foi abandonado tão logo Bolsonaro chegou ao governo, assim como também sofreu forte impacto a aplicação de multas ambientais e as ações de proteção financiadas pelo Fundo Amazônia.
No fim de junho, o ministro Ricardo Salles caiu sob acusação de montar um escritório do crime no ministério para favorecer madeireiros e o atual governo conta agora com o apoio fundamental do Centrão, comandado por Arthur Lira (PP-AL), para fazer andar no Congresso pautas muito nocivas ao meio ambiente e que têm impacto direto no aumento do desmatamento, como a liberação de garimpo em terras indígenas, o fim do licenciamento ambiental e a anistia potencialmente eterna à grilagem de terras.
“Os altos índices de desmatamento e o desmonte da legislação ambiental têm repercussão mundial e prejudicam imensamente a imagem do país. É neste cenário que o Brasil chegará, daqui a alguns meses, na conferência do clima da ONU”, conclui Márcio Astrini.
A taxa anual oficial do desmatamento, medida pelo sistema Prodes, deve ser divulgada somente no final do ano, mas os alertas do Deter ajudam a projetar e antecipar o tamanho do problema. E já se sabe que ele será grande.
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