O desmatamento na Amazônia entre 1º de agosto de 2021 e 31 de julho deste ano foi de 11.568 km², área equivalente a todo território da Jamaica. O número, divulgado nesta quarta-feira (29), representa uma queda de 11,27% em relação ao ano passado, quando foram derrubados 13.038 km² de floresta. Apesar da redução, este é o segundo maior valor desde 2008, só perdendo para 2021.
O número indica que Bolsonaro termina seu mandato com um aumento 59,5% na taxa de desmatamento na Amazônia, quando comparado com os quatro anos anteriores, nos governos Dilma e Temer. Esta é a maior alta percentual em um mandato presidencial desde o início das medições por satélite realizadas pelo INPE, em 1988.
“Parte dessa redução pode ser explicada pelo aumento das ações de controle dos órgãos estaduais de meio ambiente, em especial do Pará, mas parte também pode ser explicada pelo aumento das chuvas em Mato Grosso e Pará”, diz Tasso Azevedo, coordenador técnico do Observatório do Clima. “O consórcio MapBiomas encontrou indícios de ilegalidade em 98% dos desmatamentos em 2021, e os órgãos de controle só atuaram em 27% da área desmatada. A impunidade ainda predomina e precisa ser enfrentada com determinação no novo governo.”
A taxa anual de desmatamento é medida pelo programa PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esta é a terceira vez em quase duas décadas de programa que os números não são divulgados antes ou durante a Conferência do Clima da ONU.
A COP27 foi realizada este ano entre os dias 6 e 18 de novembro. A nota técnica do INPE é datada do dia 3 de novembro, o que significa que o Governo Federal sabia dos números antes da Cúpula do Clima ter início.
As mudanças no uso da terra no Brasil, sendo o desmatamento a principal atividade, são responsáveis por 49% das emissões nacionais. A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva chegou a solicitar os números ao governo e havia a expectativa de que ela fosse divulgada ainda durante a Conferência, o que acabou não ocorrendo.
Desde 2005, quando o INPE começou a divulgar os números do desmatamento no próprio ano em que ocorreram, somente em 2016, no governo de Dilma Rousseff (PT), e em 2021, já com Bolsonaro, o anúncio foi feito após a Cúpula do Clima da ONU.
Este é o terceiro balanço anual do desmatamento na Amazônia Legal apurado integralmente no governo Bolsonaro, que acumula recordes de derrubada da floresta.
Durante o governo Bolsonaro o desmatamento teve altas constantes. Em 2019, foram 10,1 mil km² de floresta amazônica perdida, em 2020, 10,9 mil km², em 2021, a cifra chegou a 13 mil km², para cair agora em 2022. A média anual sob Bolsonaro foi de 11.396 km2 , contra 7.145 mil km2 no período anterior (2015-2018).
Desmatamento nos Estados
Segundo as estimativas do PRODES, os estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia foram responsáveis por 87,89% do desmatamento estimado pelo INPE para a Amazônia Legal no período. Tais unidades da federação acumularam 35,5%, 22,54%, 16,48% e 13,07% do total desmatado, respectivamente.
A análise do INPE mostrou que o Amazonas foi o único estado da Amazônia Legal que apresentou aumento no desmatamento (13,05%). Todos os outros tiveram redução, com destaque para o Amapá, que reduziu 6471% da área perdida entre 2021 e 2022.
Segundo o Observatório do Clima, além da inação do Ibama, o aumento do corte raso no Amazonas é explicado pela expectativa de asfaltamento da BR-319 (Manaus-Porto Velho), rodovia que corta o maior bloco de florestas intactas da Amazônia. Em julho, o governo Bolsonaro concedeu licença prévia para a obra, atropelando pareceres de técnicos do próprio Ibama.
A tendência atual no Amazonas, caso nada seja feito, é que se repita no eixo da BR-319 a tragédia ocorrida no entorno da BR-163 (Cuiabá-Santarém), no Pará, que se transformou no epicentro do desmatamento no começo do século, após o anúncio de sua pavimentação.
“Jair Bolsonaro deixará para seu sucessor uma herança maldita de desmatamento em alta e uma Amazônia conflagrada. Se quiser ver os números de destruição florestal diminuírem em 2023, Lula terá que ter tolerância zero com o crime ambiental desde o primeiro dia de seu governo. E isso inclui responsabilizar judicialmente aqueles que sabotaram a governança ambiental no país enquanto ocuparam o governo nos últimos quatro anos “, afirma Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
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