Quando o outono chega ao Hemisfério Norte, em setembro, um esquadrão de 4,7 bilhões de pássaros deixam os Estados Unidos em direção ao sul, em média, todos os anos. Mas nem todos voltam. Na verdade, cerca de 1,2 bilhão de aves ficam pelo caminho. Para chegar a esses números, pesquisadores do Laboratório de Ornitologia da Cornell utilizaram dados de 143 estações meteorológicas espalhadas por todo o território do país.
“Descobrimos que a cada outono (no Hemisfério Norte), uma média de 4 bilhões de pássaros se mudam do Canadá para os Estados Unidos”, complementa Adriaan Dokter, autor principal do estudo, publicado esta semana na Nature Ecology & Evolution. “Na primavera, 3,5 bilhões de pássaros chegam aos EUA a partir dos pontos ao sul, e 2,6 bilhões de pássaros retornam ao Canadá na fronteira norte dos EUA”, conclui.
Os pesquisadores chamam a atenção para o fato de aves que migram para países do Sul terem uma taxa de retorno maior (76%) do que aquelas que saem do Canadá para passar o inverno nos Estados Unidos (64%). Eles acreditam que vários fatores podem explicar essa diferença, como uma menor taxa reprodutiva das aves que invernam nos trópicos ou elevada mortandade nos Estados Unidos.
Jornada Perigosa
O ornitólogo Mario Cohn-Haft, curador da coleção de aves do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), destaca que a migração é arriscada para as aves, já que no caminho elas encontram tempestades, predadores e correm o risco de encontrar no destino locais desmatados ou carregados de pesticidas. “Na Itália, por exemplo, matam pássaros que migram da Europa para a África, para se alimentar”, conta o pesquisador.
Conh-Haft, que não participou dos estudos publicados pelos americanos, explica que a maior parte das aves que migram da América do Norte chegam ao Caribe, América Central e costa norte da América do Sul. “Uma proporção pequena vem para a Amazônia”, destaca. “Mas existem espécies cuja população inteira fica na Amazônia. Elas passam mais tempo aqui do que lá (na América do Norte).” Ele cita espécies como maçarico, andorinha-azul (Progne subis), andorinha-de-bando (Hirundo rustica) e o gavião-de-asa-larga (Buteo platypterus).
Em Manaus, conforme conta o ornitólogo, era comum encontrar grandes bandos de andorinhas-azuis, na refinaria da Petrobrás, Distrito Industrial, na Zona Leste da Cidade. Mas elas desapareceram da capital, embora possam ser vistas no interior. “É como se toda a população da América do Norte se afunilasse e viesse para a Amazônia Central”, ressalta.
Ele explica que são espécies tropicais que, durante passam o período de reprodução em regiões mais ao norte. A ração é a disponibilidade de comida, principalmente insetos. Enquanto nos trópicos existe uma oferta de insetos distribuída ao longo do ano, em regiões temperadas a presença deles se concentra em poucos meses, com temperatura mais elevada durante o ano.
“É um boom imenso na população de inseto, tudo eclode de uma vez”, afirma o pesquisador. “(As aves migratórias) são espécies tropicais que ao longo da evolução aprenderam a encontrar uma superabundância de recursos em outros lugares. Para criar a prole, quando precisam de mais alimento, procuram esses lugares onde a comida é abundante durante um período do ano”.
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