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Aparição de onça-pintada no RJ após quase 50 anos surpreende pesquisadores

Armadilha fotográfica registrou passagem do felino criticamente ameaçado na Mata Atlântica brasileira

Vinicius Nunes ·
31 de julho de 2025

Foi registrada pela primeira vez em quase 50 anos uma onça-pintada no estado do Rio de Janeiro. O animal foi visto a partir de uma armadilha fotográfica da equipe do Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O equipamento está instalado no Parque Estadual da Serra da Concórdia, no município de Valença, sul fluminense.

Nas imagens aparece um macho adulto. O indivíduo é monitorado desde dezembro de 2024. A iniciativa de acompanhamento por câmeras faz parte de parceria do Inea junto ao Projeto Aventura Animal, parceiro do órgão estadual.

O secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, reforça o pedido para que a população fique segura quanto à presença da onça-pintada nas florestas fluminense. “Essa notícia é uma grande felicidade para todos nós, mas traz com ela também uma grande responsabilidade”, ele diz. Registros da dieta do felino feitos por agentes do Inea também não identificaram nenhum ataque da onça a animais domésticos ou de criação, como porcos e galinhas.

A onça-pintada (Panthera onca) é um predador de topo na cadeia alimentar, e não era registrada desde 1977 no estado do Rio de Janeiro, de onde desapareceu devido a perda de habitat por desmatamento e ocupação urbana. A espécie é o maior felino das Américas e possui distribuição significativa pelo continente, desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina.  De acordo com o Instituto Chico Mendes pela Conservação da Biodiversidade (ICMBio), na Mata Atlântica a fragmentação e ausência de florestas são os principais fatores que restringem a presença da onça-pintada no bioma às unidades de conservação.

O biólogo e coordenador do Projeto Onças Urbanas, Izar Aximoff, traz o alerta de que restam apenas 7% de habitat de Mata Atlântica em condições favoráveis para um predador de topo de cadeia como a onça-pintada. No estado do Rio de Janeiro, a espécie está classificada como Criticamente Ameaçada de extinção.

Apesar das condições críticas para sobrevivência da espécie na região fluminense, Izar enxerga o registro mais recente com otimismo. “É difícil entender o que leva uma onça-pintada a escolher aquela região que é muito degradada e as unidades de conservação são pequenas para ela. Isso realmente é impressionante”, ele conclui.

O biólogo reforça a importância de ações imediatas de curto prazo para proteger o animal, capazes de envolver o poder público e a sociedade civil. Iniciativas de educação ambiental e capacitação dos gestores ambientais das prefeituras seriam alguns exemplos. Izar também acredita que seria importante discutir a introdução de uma fêmea na área, ao considerar a manutenção da espécie na região. “Sabemos que um macho só não faz verão”, completa.

  • Vinicius Nunes

    Cientista Social pela FGV/CPDOC e estudante de Jornalismo na ESPM-Rio. Entusiasta da pauta ambiental, política e esportes.

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