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Apesar de ameaçados, tubarões e raias são consumidos no Brasil

Pesquisa identificou 16 espécies sendo comercializadas. Raia-viola e tubarão-martelo-entalhado são exemplos de espécies vendidas como cação nos supermercados

Daniele Bragança ·
28 de novembro de 2016 · 8 anos atrás
Sphyrna lewini. Foto Rodrigo Machado/Fundação Grupo Boticário.
Sphyrna lewini. Foto Rodrigo Machado/Fundação Grupo Boticário.

Embora em declínio e ameaçados de desaparecer da costa brasileira, tubarões e raias são comercializadas livremente em supermercados, feiras e peixarias com o genérico nome de cação. Mais de 16 espécies desses animais foram encontradas em pontos de venda do Sul do país, região que possui uma das maiores indústrias pesqueiras do Brasil. O alerta é de Victor Hugo Valiati, pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).

Valiati coordenou um grupo que avaliou 15 pontos de venda em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 2012 e 2013 e identificou a diversidade de espécies sob o nome de cação. Chamou atenção do grupo a comercialização da raia-viola (Squatina occulta), considerada criticamente ameaçada e o tubarão-martelo-entalhado (Sphyrna lewini), classificado como vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, na sigla em inglês) e apontado como o mais pescado no Brasil. Na pesquisa, ele ocupa o primeiro lugar, aparecendo em 23% das amostras. A segunda espécie mais presente é o tubarão-azul (Prionace glauca), com 13% de presença.

Identificação

A identificação das espécies só foi possível porque os pesquisadores utilizaram uma ferramenta denominada “código de barras de DNA”, que permite distinguir qual espécie se trata a partir das informações contidas no material genético da amostra. O uso da ferramenta é necessário porque é comum os pescadores jogarem fora partes que poderiam identificar os animais, como cabeça e barbatanas, uma estratégia para fugir da fiscalização, já que a comercialização de espécie presente na lista vermelha de espécie ameaçada é proibida pela lei de crimes ambientais.

“Com essa tecnologia em mãos é possível, com apenas uma pequena amostra do animal, ou mesmo um fragmento do filé de pescado comercializado, identificar rapidamente de qual espécie se trata”, afirma Victor Hugo Valiati, cujo trabalho tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

De acordo com a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, a iniciativa “faz com que os olhares se voltem para uma questão que pouco tem sido discutida, mas que poderá ter grande impacto no equilíbrio do ambiente marinho: a redução drástica das populações de tubarões e raias”.

 

*Com informações da Fundação Grupo Boticário

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  • Daniele Bragança

    Repórter e editora do site ((o))eco, especializada na cobertura de legislação e política ambiental.

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Comentários 5

  1. Hugo Bornatowski diz:

    Isso já vem sido falado há tempos, desde 2013. Não entendo pq só agora isso virou manchete!

    Bornatowski, H., Braga, R. R., & Vitule, J. R. S. (2013). Shark mislabeling threatens biodiversity. Science, 340(6135), 923-923.

    Bornatowski, H., Braga, R. R., & Vitule, J. R. S. (2014). Threats to sharks in a developing country: the need for effective simple conservation measures. Natureza & Conservação, 12(1), 11-18.

    Bornatowski, H., Braga, R. R., Kalinowski, C., & Vitule, J. R. S. (2015). “Buying a Pig in a Poke”: The Problem of Elasmobranch Meat Consumption in Southern Brazil. Ethnobiology Letters, 6(1), 196-202.


  2. paulo diz:

  3. popularizandociencia diz:

    Cadê o link para acesso ao estudo?


  4. umbrios27 diz:

    Por favor, entrem em contato com a PF de Santa Catarina para denunciar isso que vocês encontraram. O telefone da Delegacia de Meio Ambiente da Polícia Federal de lá é: (48) 3281-6405 . O comércio dessas espécies é crime federal, afinal.


  5. paulo diz:

    Parabéns aos pesquisadores, pelas informações. E agora, qual proximo passo!