Manaus, AM — As queimadas seguem o rastro deixado pelo desmatamento e avançam no Amazonas. Nos oito primeiros meses deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) identificou 8.590 focos de calor no estado.
Os dados indicam que 2017 vai ser ainda pior do que os últimos três anos, que registraram os maiores números de queimadas no estado, desde que o monitoramento começou a ser realizado em 1998.
A estação de queimadas no estado começou em junho, quando o número de focos aumentou. Em agosto, foi registrado o recorde mensal de queimadas no estado, 6.266 focos. E os números de setembro continuam a indicar que existe muito fogo queimando no interior do estado. Foram 1514 focos, em apenas onze dias.
A grande quantidade de queimadas no Amazonas, infelizmente, já era esperada, segundo a opinião do engenheiro florestal Mariano Colini Cenamo, pesquisador sênior do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).
“O estado está abandonado”, afirma Cenamo. “O Amazonas foi o estado que mais aumentou a taxa de desmatamento nos últimos dois anos (54% em 2015 e 54% em 2016, de acordo com o pesquisador), fora a redução de orçamento que destacamos em nosso relatório de transparência”, completa. (Clique aqui para consultar o relatório).
Desmatamento
No ano passado, segundo dados do Prodes, o desmatamento no Amazonas aumentou 59% em relação a 2015. Foram desmatados 1.129 quilômetros quadrados de floresta, a maior taxa desde 2004.
Mariano Cenamo chama a atenção para o avanço do desmatamento ao longo do trecho Sul da BR-319, desde a divisa com Rondônia até a Vila Realidade, ao norte de Humaitá (AM). Na avaliação de Cenamo, a perspectiva de conclusão do asfaltamento da rodovia tem provocado a ocupação de terras ao longo da rodovia.
A geógrafa Ane Alencar, diretora científica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), concorda que o fogo segue a trilha deixada pelo desmatamento. Eles têm o mesmo padrão, segundo ela.
“Como o Sul do Amazonas é hoje a grande fronteira do desmatamento, então é possível que essas queimadas estejam associadas ao desmatamento”, afirma.
Mas ela considera que existem também fatores climáticos que contribuem para o avanço do fogo. Apesar do clima não estar sobre influência direta do fenômeno El Niño, que provoca secas na Amazônia, as consequências dele ainda podem ser sentidas, segundo Ane Alencar.
De acordo com ela, a longa duração da influência do El Niño mais recente, de 2014 a 2016, deixou a floresta mais seca do que o normal. Com isso, há perda de folhas pelas árvores, o que aumenta a matéria orgânica no chão e permite também a entrada do ar mais seco. A consequência é maior risco de fogo.
Amazônia
O número de focos de calor no bioma Amazônia até o mês de agosto é o maior já registrado na região desde 2010. E os números de setembro continuam a indicar um número elevado de queimadas.
Entre janeiro e agosto deste ano, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia identificados 41.885 focos de calor sobre o bioma, um aumento de 15,4% em relação ao mesmo período do ano passado, quando haviam sido registrados 36.279 focos de calor.
Desde que as queimadas passaram a ser monitoradas via satélite pelo Inpe, o pior ano foi 2004, com 59.800 focos de calor nos oito primeiros meses do ano. Em 2010, foram 45.559 registros durante o mesmo período.
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