Manaus, AM — O primeiro levantamento de aves migratórias do Brasil indica que 10,3% das espécies encontradas no país são migratórias, um percentual bem menor do que se esperava no início do estudo. A lista foi publicada esta semana no Papéis Avulsos de Zoologia, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres do ICMBio (Cemave) e outras instituições.
A relação de aves migratórias é importante para servir como referência principalmente na análise do impacto causado por projetos de energia eólica sobre a fauna, conforme explica a ornitóloga Marina Somenzari, atualmente bióloga de Conservação no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), e uma das líderes do estudo. Uma resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) trata desse assunto.
“Essa resolução prevê que os empreendimentos devem apresentar estudos e relatório de impacto ambiental quando ocorrerem em áreas de rota e concentração de aves migratórias, cabendo ao CEMAVE/ICMBio indicá-las em território nacional”, conta a bióloga. “E um dos principais problemas enfrentados pela equipe do Cemave (também autora do trabalho) foi justamente saber quais eram as espécies migratórias do Brasil”, completa.
Conforme os critérios adotados no estudo, aves migratórias são aquelas em que pelo menos parte da população se movimenta do local de nidificação para outro, de forma cíclica e sazonal, ou como resume a ornitóloga, que dependente de uma localidade, seja para reproduzir ou invernar. Das 1.919 espécies de aves brasileiras, 198 apresentaram esse comportamento. Um pouco mais de um terço delas (71 espécies, ou 36% do total), são parcialmente migratórias. Marina Somenzari conta que a literatura, antes do estudo, indicava que cerca 600 aves da fauna brasileiras seriam migratórias.
Um exemplo de mudança na classificação citado por ela é a avoante (Zenaida auriculata), uma pomba silvestre que ocorre desde a Terra do Fogo a ilhas do Caribe. Era considerada migratória, com padrão de deslocamento associado às chuvas da caatinga, mas os pesquisadores agora defendem que sejam realizados mais estudos antes de classificá-la. “Durante o levantamento de dados para esse artigo, percebemos que a espécie é registrada abundante e frequentemente associada ao longo do ano, inclusive na caatinga, refutando esse padrão”, explica.
Para chegar ao resultado, foram consultados trabalhos científicos, além de sites de registros de aves como o Wikiaves, Xeno-canto e o Atlas de Registros de Aves Silvestres e das três maiores coleções de aves brasileiras, do Museu de Zoologia da USP, do Museu Paraense Emílio-Goeldi e do Museu Nacional do Rio de Janeiro.
“A ideia é que ela (a lista) seja constantemente atualizada”, antecipa Marina Somenzari. “Não sei se teremos condição de publicar anualmente, mas encorajamos fortemente que todos publiquem seus dados. O Cemave abrirá um espaço no Atlas de Registros de Aves, onde as pessoas poderão entrar em cada espécie e escrever (se quiserem) sobre seus registros. Questionar e ou confirmar os padrões de ocorrência descritos no artigo”.
*Editado às 19h50, do dia 21/02.
Saiba Mais
An overview of migratory birds in Brazil.
Leia Também
Observadores de aves contam quais espécies renderam encontros inesquecíveis
Leia também
O País onde alimentar passarinhos é crime
Oferecer alimentos a animais silvestres é educação para muitos, negócio para outros e um absurdo para alguns →
Observadores de aves contam quais espécies renderam encontros inesquecíveis
Especialistas e amadores relembram situações de avistamento que ficaram na memória e celebram diversidade da avifauna do país e América do Sul →
Livro reúne pesquisa sobre aves migratórias
Livro é o primeiro passo para criação de políticas internacionais que protejam essas espécies que desconhecem fronteiras e têm suas populações sob ameaça. →
"A resolução prevê que somente seriam exigidos os trâmites de licenciamento para empreendimentos que estivessem localizados nas áreas apontadas pelo Cemave …" TÁ ERRADO! É que nestas áreas será exigido elaboração de EIA-RIMA, e nas demais poderá ser um estudo mais simples.
Pois é, além da clara falta de conhecimento da cidadã em relação à Resolução, o Eco deveria revisar essas informações antes de publicar.
Obrigada pelos comentários. Conversamos com a pesquisadora, que explicou a resolução de forma mais precisa. Obrigada por apontar, passou despercebido.
Tendo a pesquisafora falado errado ou não, cabe à jornalista checar as informações antes de publicar.
Maldito corretor de texto que substituiu, muito mal, o Editor!
bem arrogante heim meu irmão ..