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Casal de ambientalistas sofre atentado e tem casa alvejada por tiros

Donos de reservas particulares em Santa Catarina, Elza e Germano Woehl tiveram sua residência alvejada por múltiplos disparos feito por um homem de moto na noite da última terça-feira (28)

Duda Menegassi ·
4 de julho de 2022 · 2 anos atrás

Donos da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Santuário Rã-bugio, no município de Guaramirim, Santa Catarina, Germano Woehl Junior e Elza Woehl tiveram sua residência e sede da reserva alvejada por múltiplos disparos na última semana. O atentado ocorreu na última terça-feira (28/06), no início da noite. O criminoso veio de moto e atirou primeiro nas placas da reserva e depois na frente da casa, onde mora o casal de ambientalistas. Sete balotes atravessaram a porta da garagem e entraram na sala de jantar. Durante o atentado, apenas Elza estava em casa, mas, por sorte, estava no piso superior e não foi atingida.

“Pelos tiros que ele deu…o cara veio pra matar”, avalia Germano Woehl em conversa por telefone com ((o))eco. “O tiro foi exatamente no local da mesa onde eu fico, por horas, usando o computador”, conta o ambientalista, que durante o ataque estava no município vizinho de Itaiópolis para fiscalizar outra reserva particular gerida pelo casal, a RPPN Corredeiras do Rio Itajaí. “Essa foi minha sorte, porque senão eu estaria na linha de tiro dos 7 balotes”, completa.

A Polícia Militar foi acionada por vizinhos e chegou ao local 10 minutos depois e fez rondas nas redondezas, mas não localizou o autor dos disparos. No início da tarde desta segunda-feira (04), Germano foi até a Delegacia de Polícia da Comarca, no município de Guaramirim, indicar possíveis suspeitos para apoiar a investigação, que está sendo conduzida pela Polícia Civil.

Entrada da reserva e da residência onde moram os ambientalistas. O criminoso disparou contra a casa através do portão. Foto: Germano Woehl

Germano e Elza Woehl são os fundadores do Instituto Rã-Bugio para Conservação da Biodiversidade, focado em educação ambiental e através do qual administram uma série de reservas particulares criadas entre os municípios limítrofes de Guaramirim e Itaiópolis, no interior de Santa Catarina. Ao todo, as reservas formam um contínuo de Mata Atlântica de aproximadamente 1 mil hectares.

De acordo com Germano, a suspeita é que o responsável pelo atentado seja o mesmo homem responsável por iniciar um incêndio criminoso em uma das reservas geridas pelo casal – a RPPN Taipa do Rio Itajaí –, em setembro de 2021. “Na época, os agricultores escutaram o barulho de uma moto e registraram o início do incêndio, que foi de noite, e começou em pontos diferentes ao longo de uma estrada rural que margeia todas as reservas. A sorte foi que havia chovido recentemente e o fogo não se espalhou, queimou apenas 1 hectare de vegetação nativa”, lembra o ambientalista.

Entre os conflitos vivenciados pelos proprietários da reserva estão a presença do gado dos vizinhos, caçadores, captura de aves… “todo tipo de agressão contra a natureza”, resume Germano. 

Registro de um dos focos do incêndio criminoso iniciado na reserva em setembro de 2021. Foto: Reprodução

Ele explica que o correto seria o ICMBio, órgão ambiental que homologa a criação das RPPNs à nível federal, ter uma equipe para apoiar a fiscalização nas reservas, já que os donos não possuem o poder de polícia. “Não era pra gente ter que fazer isso [a fiscalização], mas na prática acaba ficando com os proprietários das reservas e isso que coloca a gente em perigo. Temos que pensar numa forma de fazer isso funcionar, porque o que nós sofremos hoje de ameaça não é pelo ativismo ambiental, mas por defender as RPPNs”, conta Germano, que já foi colunista em ((o))eco.

“Ao todo, de reserva são quase 1 mil hectares e alguns lugares são difíceis de fiscalizar, inclusive existem áreas, dentro da RPPN, que são controladas por caçadores e que eu nem entro porque já fui ameaçado de morte por eles. Esses caçadores dominam uma área da RPPN que é a mais rica em biodiversidade, que fica num vale. A própria polícia ambiental não vai porque diz que é perigoso pra eles também, que é difícil de acessar, tem que descer uma barroca e caminhar por horas”, lamenta o proprietário da reserva.

O ambientalista destaca ainda que se trata de defender o direito à propriedade, mas que as pessoas na região não veem dessa forma. “Eles veem as matas nativas como áreas abandonadas, como se não houvesse dono. Ninguém respeita a mata nativa”, diz Germano, que reforça o apelo para que o atentado ocorrido na última semana não fique impune e que a Justiça adote medidas protetivas para garantir a segurança do casal.

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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