Pouco mais de 124 milhões de pessoas vivem em cidades no país, ou seis em cada dez dos 203 milhões de brasileiros contados no censo de 2022. Nos aglomeramos cada vez mais nestas zonas, para onde o desmate imparável e outras façanhas humanas empurram tantas espécies silvestres.
Nossa convivência com essas plantas e animais vai do pacífico ao belicoso, onde esses podem pagar com a vida por adentrar as urbes. Tentando entender e facilitar essas inevitáveis relações, cientistas averiguaram como a variedade de aves é vista por moradores de Bauru (SP) e de Belo Horizonte (MG).
“Isso é essencial para se gerar estratégias ao planejamento de ambientes onde a população humana e a fauna possam interagir, garantindo um melhor suporte para a conservação da biodiversidade nas cidades”, explica Milton Ribeiro, coordenador do Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (LEEC) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e doutor em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP).
Publicado em abril deste ano na revista científica Birds, um artigo assinado por Ribeiro e outros cientistas brasileiros indica que moradores daquelas cidades têm sentimentos positivos sobre a maioria das espécies aladas e costumam reconhecer seu papel para manter a saúde das manchas verdes urbanas e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.
“Entretanto, aves como o pombo-doméstico são relacionadas a sentimentos ruins, como desgosto e doenças”, diz João Carlos Pena, coautor da pesquisa e doutor em Ecologia, Conservação e Manejo de Vida Silvestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (MG).
Além da pomba-doméstica (Columba livia), as espécies mais vistas em Bauru e Belo Horizonte incluem o bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), maritaca (Psittacara leucophthalmus), rolinha-roxa (Columbina talpacoti) e pomba-avoante (Zenaida auriculata).
As mais de 230 pessoas que responderam à pesquisa reconheceram imagens dessas e de outras aves apresentadas pelos cientistas, mas quase nunca seus cantos. Isso pode ser efeito da barulheira e/ou da correria às quais as pessoas são submetidas em nossas cidades.
“Ou seja, nas cidades podemos ser capazes de reconhecer as aves mais por aquelas que vemos do que por aquelas que escutamos no dia a dia”, destaca uma nota do Laboratório de Ecologia Espacial e Conservação (Unesp) enviada a ((o))eco.
O estudo aconteceu durante a pandemia de Covid-19 e usando questionários online distribuídos por Redes Sociais. Por isso, será aprofundado futuramente para abarcar uma fatia maior dos mais de 3 milhões de habitantes somados nas duas cidades.
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