A típica expressão nordestina “arretado”, muito usada para falar de coisas belas e incríveis, virou nome de um besouro recém-descrito pela ciência. O inseto homenageado vive apenas na Caatinga do extremo norte da Bahia, no município Casa Nova, na Ecorregião das Dunas do São Francisco. Dono de um chifre que chama atenção com uma coloração marrom-avermelhada, o besouro faz parte do grupo conhecido como “escavadores” e é único na região.
Pequeno como uma moeda de cinco centavos, o besouro – batizado pela ciência de Athyreus arretado – mede apenas cerca de 2,3 cm de comprimento. A descoberta foi realizada pelos pesquisadores do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf). A nova espécie foi descrita em artigo publicado na revista científica Zootaxa.
A espécie foi encontrada de forma inesperada durante expedições realizadas entre 2023 e 2024. “A coleta da nova espécie de besouro foi realizada por acaso durante uma expedição de coleta cujo foco eram as formigas. A maioria das nossas coletas são feitas à noite, pela grande maioria dos artrópodes das dunas serem noturnos. A luz das lanternas atrai insetos voadores que acabam batendo na gente. Um deles foi um macho da nova espécie que bateu no Gabriel”, comenta o professor e coordenador do Laboratório de Mirmecologia do Cemafauna, Benoit Jean Bernard Jahyny.
“Eu e meu amigo Adhan [Carvalho, também autor do artigo] fomos “atingidos” por um besouro voador. Esse besouro chamou nossa atenção devido o seu tamanho e sua coloração alaranjada, que era bem diferente do que normalmente encontramos naquela região”, lembra o pesquisador Gabriel Celante, da Univasf, que liderou a descoberta.
Sem os equipamentos necessários para estudá-lo em campo, o biólogo levou o besouro até o laboratório da universidade onde, com ajuda da especialista Paula Santos, foi surpreendido com a notícia de que se tratava de uma nova espécie.
O besouro arretado é o primeiro da família Geotrupidae – chamados popularmente de “besouros escavadores” – documentado no local. Além de ser apenas o segundo registro de uma nova espécie de Coleoptera (ordem dos besouros) presente na Ecorregião das Dunas do São Francisco.
A nova espécie contribui para o avanço do conhecimento sobre a biodiversidade da Caatinga, único bioma 100% brasileiro, ressaltam os pesquisadores.
“A descoberta de uma nova espécie aumenta também o conhecimento sobre o grupo ao qual ela pertence. O registro e a descrição da diversidade de uma região trazem dados essenciais para avaliar seu estado de conservação e tomar medidas caso necessário”, explica Benoit Jahyny.
Pequeno, mas “arretado” em simbolismo, o novo besouro reforça o quanto a Caatinga ainda guarda tesouros escondidos e da urgência em proteger – e estudar – o sertão.
“A Caatinga por muito tempo foi vista como um ambiente “pobre”, com uma baixa diversidade de espécies, no entanto, nos últimos anos essa visão tem mudado. A descoberta de Athyreus arretado mostra que, na verdade, o que pode estar faltando são mais estudos sobre a biodiversidade dessa região”, destaca Gabriel, que acredita que ainda há muito para ser descoberto no bioma.
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Parabéns Taís Vianna pelo belo e elucidativo texto.