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Ciência descreve nova espécie de bromélia que cresce apenas em ilha paulista

A bromélia foi encontrada no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, e pode ser impactada pelas mudanças climáticas

Duda Menegassi ·
20 de dezembro de 2024

Nas rochas da Ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, uma pequena bromélia rasteira colore a paisagem de lilás com suas flores. A planta, ainda que não seja difícil de avistar na ilha, não pode ser encontrada em nenhum outro lugar. É a síntese do que os cientistas chamam de endemismo, ou seja, uma espécie que ocorre exclusivamente num único local ou região. E o lar dessa bromélia – que acaba de ser descrita pela ciência – é o Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes.

A bromélia, que recebeu o nome científico Tillandsia uiraretama, cresce nas superfícies rochosas e sob sol forte. A planta chama atenção pelas suas flores lilás que medem até 7,5 centímetros. Para sobreviver no ambiente insular, a bromélia se nutre de micropartículas trazidas pelo ar e pela água.

O nome dado pelos cientistas – uiraretama – é uma homenagem à denominação dada pelos Tupinambás à ilha, que significa “local das aves”, devido às grandes colônias de aves marinhas que usam o arquipélago para alimentação, reprodução e descanso.

Apesar do seu habitat ser protegido por uma unidade de conservação de proteção integral, os sete pesquisadores que assinam a descrição da nova bromélia – publicada no início de dezembro no periódico científico Phytotaxa – sugerem que a planta seja classificada como Vulnerável ao risco de extinção, justamente por sua ocorrência conhecida ser restrita a uma única ilha e pelo impacto que as mudanças climáticas podem ter neste ambiente insular.

Além disso, os pesquisadores citam outras ameaças históricas no arquipélago como incêndios criminosos e a invasão de espécies exóticas.

A bromélia cresce nas superfícies rochosas da Ilha de Alcatrazes e chama atenção pelas suas flores. Foto: Gabriel Marcusso

“Em ilhas, os organismos ficam isolados do continente, o que favorece o processo evolutivo que diferencia as espécies. Costumamos brincar que a Ilha dos Alcatrazes é uma ‘ilha de uma ilha’, pois, mesmo durante os períodos glaciais, quando houve conectividade terrestre com o continente, há cerca de 15 mil anos, o ambiente rochoso de Alcatrazes era tão distinto do entorno que, ainda assim, havia isolamento entre as espécies que ali viviam”, explica o biólogo Gabriel Pavan Sabino, um dos autores do estudo. “Certamente, ainda há espécies desconhecidas pela ciência esperando para serem estudadas, com potencial de contribuir para os mais diversos ramos do conhecimento científico”, completa. 

Principal ilha do arquipélago – que está localizado a cerca de 35 quilômetros do continente, e pertence ao município de São Sebastião (SP) – a Ilha de Alcatrazes abriga mais de 1.300 espécies de animais e plantas, sendo pelo menos 100 sob algum grau de ameaça de extinção. 

*Com informações ICMBio

  • Duda Menegassi

    Jornalista ambiental especializada em unidades de conservação, montanhismo e divulgação científica.

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