A exemplo do que já ocorre com a observação de aves, que ganha cada vez mais adeptos e movimenta um mercado turístico milionário, os primatas também estão na mira dos ávidos observadores da fauna. No Brasil, país com maior diversidade de espécies de primatas do mundo, este potencial é enorme, porém ainda pouco explorado. Macacos como o mico-leão-dourado e o muriqui ainda são os protagonistas desse movimento que tem ganhado destaque como alternativa econômica e ferramenta de conservação. Para que esse turismo seja feito de forma responsável, especialistas listam recomendações voltadas para as realidades da América Central e do Sul.
O artigo foi publicado no final de setembro pelo Grupo de Especialistas em Primatas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) na seção “Interações entre Humanos e Primatas” e é assinado por Carlos Ruiz Miranda, pesquisador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e presidente do conselho da Associação Mico-Leão-Dourado, Maurício Talebi, da Universidade Federal de São Paulo (USP), que acompanha os muriquis-do-sul em São Paulo, e Tracie McKinney, da University of South Wales, do Reino Unido.
“Se for realizada de forma consciente, a observação de primatas pode gerar receitas valiosas para as comunidades, servindo simultaneamente como instrumento educativo e de promoção da conservação”, destacam os autores em trecho do artigo, disponível em português e inglês.
Os pesquisadores afirmam que o turismo de primatas pode colaborar inclusive para a proteção de florestas urbanas e de fragmentos florestais em áreas rurais.
É essencial, porém, evitar impactos negativos aos primatas, como a pressão para habituá-los ou a modificação do seu habitat pelo turismo, assim como interações inadequadas, como oferecer alimentos ou balançar as árvores e galhos para que eles se movam. Os observadores também não devem tocar nos animais ou incentivá-los a se aproximar, tampouco fazer muito barulho.
Para reduzir o risco de transmissão de doenças – já que macacos possuem uma biologia muito próxima da nossa – também é recomendado que o turista evite visitar os primatas se não estiver em boas condições de saúde. “Certifique-se de que as vacinas e os exames estejam em dia para doenças problemáticas (febre amarela, gripe e COVID), especialmente se houver previsão de proximidade. O risco de transmissão de doenças aumenta à medida que você se aproxima dos macacos”, orientam os pesquisadores.
As recomendações reforçam ainda, como boa prática, a importância de contratar agências de turismo que apoiam as comunidades locais e promovam esforços de conservação.
“Infelizmente, o ecoturismo de primatas nem sempre foi feito tão bem ou com tanto cuidado como gostaríamos, e precisamos melhorá-lo onde quer que a qualidade seja ruim ou mesmo prejudicial à sobrevivência dos primatas. No entanto, precisamos reconhecer que [a atividade] veio para ficar e nós simplesmente temos que fazê-la da maneira mais adequada possível para promover a conservação das florestas tropicais, o bem-estar das comunidades locais, as economias dos países onde ocorrem os primatas e, claro, a sobrevivência dos próprios primatas”, resume o primatólogo Russell Mittermeier, diretor de Conservação da Re:wild e um dos grandes fomentadores da observação de primatas, no prefácio da edição.
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