Belém (PA) – Enquanto cresce o apoio para que a COP30 trace uma rota clara para eliminar o uso de combustíveis fósseis, a definição de indicadores e de mais dinheiro para adaptação anda meio parada no encontro global.
Tentando aquecer os ânimos dos quase 200 países presentes, ministros e ministras do Uruguai, Chile, Costa Rica, Peru, México e Guatemala defenderam a adoção urgente dos indicadores do Objetivo Global de Adaptação, o GGA.
Foram ainda mais enfáticos afirmando que a “América Latina e o Caribe não sairão de Belém sem esses indicadores, pois o que não se mede ou não se conhece dificulta a gestão de riscos”. Diante da alta vulnerabilidade da região aos impactos da crise climática, reforçaram que o GGA deve conter uma decisão política forte para “triplicar o financiamento para adaptação até 2030”.
Atraso climático-florestal
As metas climáticas brasileiras estão ameaçadas pelo atraso do país em recuperar áreas ilegalmente desmatadas – o que ajudaria a captar CO2 –, como pede a legislação de 2012. Apresentada durante a COP30, a análise do Termômetro do Código Florestal destaca que, após somar mais de 8 milhões de cadastros ambientais rurais no país, áreas que as fazendas devem manter com vegetação nativa seguem desmatadas. Nesse cenário, o passivo de Reserva Legal no país é de 17,3 milhões de hectares, contra 16,3 milhões do ano anterior. Já as áreas de preservação permanente a recuperar somam 3,14 milhões de ha – antes eram 3,03 milhões de ha.
Altos e baixos das UCs amazônicas
Uma análise sobre quantidade, extensão, proteção, efetivo humano, infraestrutura e fiscalização revelou aspectos inusitados da proteção da Amazônia. Por exemplo, enquanto mais de 64% do Amapá está abrigado em UCs, o Mato Grosso protege menos de 6%.
Hoje, cerca de ¼ do território da Amazônia Legal se encontra em UCs – um índice abaixo da meta global de 30%. Além disso, tal patrimônio está menos protegido: o estudo aponta que na última década caiu em 40% o efetivo de fiscalização das UCs.
Outro alarme é que 95% do desmate ilegal ocorre nas proximidades de rodovias e rios navegáveis, facilitando a degradação das áreas protegidas. As UCs ainda são a melhor ferramenta para conservação da biodiversidade e, naturalmente, estocam grandes quantidades de CO2.
Alados neotropicais na berlinda
Estudo publicado na revista Global Change Biology aponta que as mudanças do clima global podem varrer do mapa várias espécies de aves da região neotropical – da América do Sul à parte da do Norte. Secas mais longas em florestas de regiões baixas reduziriam a oferta de alimento e a reprodução de até ⅔ da avifauna florestal da região, incluindo na Amazônia. Isso seria mais grave para espécies florestais de grande porte e alta especialização, como a Harpia (Harpia harpyja), e onde a destruição ambiental já é intensa, como no Arco do Desmatamento e partes da Amazônia oriental. A espécie depende de florestas altas e bem conservadas, tem baixa densidade populacional e uma reprodução lenta.
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Interessante a discussão sobre o Código Florestal. No mínimo tem o mérito de fazer a brasileirada pensar. Aproveitando a corrente, gostaria de fazer uma observação sobre o tema. APP e Reserva legal não são a mesma coisa. →




