Notícias

Depois do corte, as velhas trabalham melhor

Estudo realizado por pesquisadores franceses indica que na Amazônia as árvores que sobrevivem à exploração madeireira são mais capazes de sequestrar carbono do que as novas

Vandré Fonseca ·
21 de dezembro de 2016 · 8 anos atrás
Área afetada pela exploração madeireira: grandes árvores poupadas absorvem carbono mais rápido do que as novas. Foto: Piponiot et al., eLife
Área afetada pela exploração madeireira: grandes árvores poupadas absorvem carbono mais rápido do que as novas. Foto: Piponiot et al., eLife

Manaus, AM — Quando se trata de sequestrar carbono, o desempenho de árvores velhas em áreas afetadas pela extração de madeira na Amazônia deixa as novinhas pra trás. Pelo menos este é o resultado de um estudo desenvolvido por pesquisadores franceses, o primeiro a considerar a dinâmica do carbono em toda a extensão da floresta amazônica.

Depois de analisar dados de 113 áreas de floresta permanente e 13 afetadas experimentalmente, em diferentes regiões de floresta, eles verificaram que, pelo menos ao longo da primeira década após o corte, as velhas árvores que sobrevivem à motosserra absorvem mais CO2 do que as novas. O estudo foi publicado nesta quarta-feira no jornal eLife por pesquisadores franceses do Observatório de Florestas Tropicais Manejadas, um grupo de pesquisas que conta com a participação da Embrapa.

“Nós olhamos as diferenças regionais no clima, solo e biomassa inicial acima do solo inicial e relacionamos isso com alterações no estoque de carbono causadas tanto pelas árvores mais novas quanto pelas sobreviventes, para prever o potencial de recuperação de carbono em toda a Amazônia”, afirma a pesquisadora francesa Camille Piponiot, que faz doutorado na América do Sul.

O estudo demonstrou também que a absorção de carbono em áreas afetadas por madeireiras é maior no Escudo das Guianas a oeste do que no sul da Amazônia. Devido ao solo pobre, as árvores mais sobreviventes absorvem mais rápido a matéria em decomposição, deixada por troncos e galhos caídos. Já no sul da região amazônica, o crescimento das árvores é afetado pelo estresse hídrico, provocado pelo período seco durante metade do ano. De acordo com a pesquisadora, as árvores tolerantes à redução da disponibilidade de água são menos competitivas quando se trata de nutrientes, o que explica o crescimento mais lento.

Segundo o orientador de Camille Piponiot, Bruno Hérault, que também assina o artigo, embora os estudos tenham focado principalmente na recuperação de carbono após o corte, ele dá pistas importantes sobre o que ocorre com a floresta quando afetada por outros fatores, como fogo e outras consequências das mudanças climáticas.

“Como as mudanças climáticas continuam, nós podemos esperar também um aumento de secas e fogo que perturbam a floresta amazônica”, afirma o pesquisador. “Apostar em novas árvores para estocar carbono em algumas das florestas já perturbadas pela exploração madeireira pode ser uma aposta arriscada, já que muitas dessas árvores pioneiras são vulneráveis ao estresse hídrico. As árvores que sobrevivem à exploração podem ser mais valiosas na absorção do carbono nestas florestas perturbadas”, conclui.

Leia também

A importância das árvores mortas

Marcadas para tombar

Floresta regenerada é esponja de carbono

Leia também

Reportagens
4 de fevereiro de 2016

Floresta regenerada é esponja de carbono

Estudo de consórcio internacional que inclui cientistas brasileiros mostra que vegetação secundária na América Latina absorve 11 vezes mais CO2 do ar que matas amazônicas maduras

Reportagens
23 de setembro de 2004

Marcadas para tombar

Concessionária da Dutra prepara-se para por abaixo 500 árvores que se encontram ao longo da estrada. Tem autorização do Ibama e o desejo de derrubar outras 5 mil.

Análises
9 de outubro de 2013

A importância das árvores mortas

Uma árvore morta faz parte de um ecossistema, ainda abriga formas de vida e potenciais locais para ninhos: não é apenas uma árvore morta.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 1

  1. José Truda diz:

    Sim, e biodiversidade, que exige áreas de floresta primária para que várias espécies sobrevivam? Que conta de vigarista essa de se pensar só em estocar carbono…