Que tal explorar a natureza da sua rua, do seu bairro ou da sua cidade e, de quebra, contribuir para o avanço da ciência? É o que propõe o Desafio Natureza nas Cidades ou “City Nature Challenge”, em inglês. É uma campanha internacional sem fins lucrativos que conecta as pessoas à natureza de suas cidades, promovendo o conhecimento e a valorização da biodiversidade local. Em 2018, o Desafio será realizado entre os dias 27 e 30 de abril, em mais de 65 cidades ao redor do mundo, engajando pessoas de várias nacionalidades em um único objetivo: registrar animais, plantas e outros organismos de sua região.
O evento é um grande exemplo de como a ciência cidadã vem se desenvolvendo em todo o mundo, revolucionando a coleta de dados e monitoramento da biodiversidade. É impossível para os cientistas registrar todas as espécies de organismos do globo, mas com a sociedade apoiando as pesquisas por meio do envio de dados e registros fotográficos, é factível realizar avaliações periódicas, sugeridas por muitos tratados internacionais como a Convenção sobre Diversidade Biológica, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção e a Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais Silvestres. Além disso, atende a uma das principais funções da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos da ONU, que é “realizar avaliações periódicas do conhecimento sobre a biodiversidade”.
Durante o “City Nature Challenge” em 2016, os participantes registraram inúmeras espécies ameaçadas de extinção vivendo em suas cidades, incluindo borboletas, lagartos e até onças. Em 2017, o evento cobriu 16 cidades exclusivamente nos Estados Unidos, quando voluntários enviaram 125 mil registros de fauna, flora e outros organismos presentes em seus municípios. Este ano, sete cidades brasileiras estarão participando da competição, que será conduzida por Coordenadores Regionais responsáveis por cada um dos municípios, incluindo alguns ambientalistas de renome como Helena Aguiar (Manaus), Andreia Vitório (Salvador), Diogo Loretto (Rio de Janeiro), José Sabino (Campo Grande), Renata Leite Pitman (Curitiba), Luisa Lopes (Florianópolis) e Sandro Von Matter (São Paulo). A ação no Brasil conta ainda com uma lista de Embaixadores de vários setores, reconhecidamente aclamados pela sociedade, como a bióloga Fernanda Werneck, vencedora do prêmio internacional Para Mulheres na Ciência edição 2017, promovido pela L’Oréal Brasil em parceria com a Organização das Nações Unidas (Unesco).
Os organizadores estimam que em 2018 sejam registradas mais de 500 mil fotografias por, pelo menos, 10 mil participantes de todo o mundo. Os registros contendo nomes e localidades das espécies serão imediatamente depositados no Sistema Global de Informação sobre Biodiversidade — Global Biodiversity Information Facility, em inglês –, uma organização internacional dedicada à disponibilização de dados sobre biodiversidade. Os direitos sobre as fotografias permanecem sendo inteiramente de propriedade dos participantes, que poderão optar por diferentes licenças de uso para suas fotos, seguindo o padrão Creative Commons, ou simplesmente não autorizando o uso de suas imagens.
O Desafio foi originalmente criado pelas pesquisadoras Lila Higgins do Museu de História Natural de Los Angeles e Alison Young da Academia de Ciências da Califórnia. No Brasil, é coordenado por Sandro Von Matter, pesquisador em Conservação da Biodiversidade, Russell E. Train Fellow e um dos maiores especialistas em ciência cidadã do país. Ele também é o principal responsável pela tradução, adaptação e lançamento da plataforma de ciência cidadã iNaturalist no Brasil. Em entrevista, Von Matter nos relata um pouco do histórico, importância e expectativas sobre a edição 2018 do Desafio Natureza nas Cidades:
((o))eco Qual a expectativa para a realização do Desafio Natureza das Cidades no país?
Sandro Von Matter: A expectativa maior de todos os envolvidos no projeto é que, além dos milhares de registros fotográficos estimados pela participação das pessoas em algumas das mais importantes capitais brasileiras, o evento forneça um banco de dados aberto e público para que qualquer cientista ou cidadão tenha acesso. Além disso, esperamos que o Desafio Natureza nas Cidades seja capaz de atingir a meta de reconectar as pessoas à natureza presente nas áreas próximas de suas casas, impulsionando-as a registrar toda a biodiversidade que convive lado a lado com os seres humanos. O mais legal é que todos os registros serão identificados, ou seja, ao fotografar, por exemplo, uma árvore em frente à sua casa, o participante será informado em poucos dias, pela plataforma do Desafio, a qual espécie ela pertence. Esta possibilidade abre uma nova janela para a valorização da biodiversidade local, que pode facilmente se tornar um trampolim para despertar o interesse e a preocupação das pessoas pela conservação dos recursos naturais do país, um patrimônio de cada um de nós brasileiros. Isso nos leva a mais uma de nossas expectativas: mudar o relacionamento que algumas pessoas têm com a natureza do seu entorno. Um morador que poderia se irritar com os espinhos de uma árvore em frente à sua casa pode acabar descobrindo que aquela mesma árvore é um Pau-brasil, árvore símbolo nacional de nosso país, e então ela passará a ser motivo de orgulho. É a falta de informação que, em muitos casos, distancia as pessoas da natureza. Tornar esta informação acessível é um dos pilares do Desafio.
Como se deu o processo de trazer o Desafio para o Brasil?
O Desafio Natureza nas Cidades é, na verdade, o representante brasileiro do City Nature Challenge que, além do Desafio em si, incluirá também outras iniciativas e campanhas em seu escopo geral. A própria transformação do City Nature Challenge de um evento nacional exclusivo dos Estados Unidos para um evento global ocorreu de forma consecutiva ao seu lançamento no Brasil, pois tanto eu quanto as pesquisadoras norte-americanas fazemos parte, desde 2016, de um mesmo grupo de pesquisa internacional dedicado a buscar formas inovadoras de envolver o grande público com temas científicos, não apenas através da comunicação científica mas, também, através da participação pública na coleta de dados ambientais ao redor do mundo. Trazer o Desafio para o Brasil é um dos resultados desta parceria internacional ao longo dos anos.
Como o evento pode contribuir para a sustentabilidade das cidades?
O Desafio Natureza nas Cidades possui como uma de suas metas principais mapear e monitorar constantemente a biodiversidade presente nas cidades, criando um banco de dados sobre as espécies que habitam nossos bairros, ruas, quintais e varandas. Com isso, é possível disponibilizar informações básicas para que a comunidade científica possa propor e aplicar ações direcionadas à conservação de plantas, animais e outros organismos em nossas cidades, assim como buscar expandir as áreas verdes urbanas para que estas e novas espécies nativas sobrevivam lado a lado com os moradores que irão se beneficiar diretamente deste convívio.
Centenas de estudos científicos já comprovam os serviços ecossistêmicos indispensáveis proporcionados pelas árvores, a redução de crimes e violência em regiões arborizadas, a diminuição do estresse e ansiedade em resposta à presença do canto das aves no cotidiano, a importância do contato com a natureza para o desenvolvimento cognitivo das crianças, o impacto de paisagens naturais na recuperação pós-cirúrgica de pacientes hospitalares. Pela soma de todas estas evidências científicas, já está comprovado que a presença da natureza nas cidades é fundamental para a sustentabilidade destes ambientes, não apenas em termos do que proporciona para os moradores, mas, também, em relação à diminuição do gasto de recursos públicos com saúde e segurança.
Para participar
A participação é muito simples e pode ser feita através dos seguintes passos:
- Primeiro, encontre animais, plantas e outros organismos. Qualquer tipo de planta como árvores, orquídeas, capins entre outras, além de musgos, fungos, líquens; ou qualquer tipo de animal, como aves, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes, moluscos, insetos, aracnídeos, vermes, protozoários, e basicamente qualquer forma de vida nativa de sua região, incluindo evidências de vida selvagem (pegadas, conchas, penas, pelos e até animais mortos);
- Tire uma foto do que encontrou. É essencial que você registre a sua descoberta com uma fotografia e, principalmente, anote o local exato de sua observação. O modo mais fácil é utilizando o aplicativo, mas, você pode também utilizar sua câmera fotográfica e subir as imagens e dados da localização do registro no portal iNaturalist. A qualidade da foto não é essencial, pois o mais importante é o registro e a localização;
- Inclua suas observações na página de sua cidade. Faça o upload de suas observações na plataforma iNaturalist, durante os dias do evento (27 a 30 de abril). Acesse a aba cidades do site e envie seus registros diretamente para a área exclusiva de sua cidade inscrita na competição. Você poderá enviar as suas imagens criando uma conta em nossa plataforma de compartilhamento de dados o iNaturalist ou, diretamente pelo seu smartphone através do nosso aplicativo.
Nas redes sociais
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Contato com Coordenadores:
Nacional (e São Paulo)
Sandro Von Matter
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José Sabino
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Rio de Janeiro
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Renata Leite Pitman
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Florianópolis
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Para maiores informações acesse www.desafionaturezanascidades.com.br. Acesse o iNaturalist para fazer o download do aplicativo.
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