Manaus – O desmatamento em várzeas na Amazônia prejudica a pesca de comunidades ribeirinhas, afetando a segurança alimentar e a renda das populações tradicionais. A conclusão está em um estudo publicado na semana passada por pesquisadores brasileiro e de instituições americanas, na revista científica Fish and Fisheries.
O principal autor do estudo, Leandro Castello, professor assistente de Recursos Pesqueiros do Colégio de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Virginia Tech, explica que as florestas alagadas oferecem estruturas que protegem peixes e seus alevinos, além abrigar insetos e plantas que servem de alimentos.
“Nossos estudos indicam que lagos com florestas de várzea oferecem peixes em grande quantidade”, afirma o professor por meio da equipe de relações com a mídia da instituição americana. “Isto nos permite inferir que, se você cortar as florestas, os estoques de peixes nestes lagos vão diminuir. O desmatamento nos Trópicos não tem um efeito apenas terrestre, ele pode também reduzir o número de peixes disponíveis para algumas das populações mais pobres do mundo”, completa.
Para determinar a relação entre cobertura florestal e populações de peixes, os autores construíram o mapa de uma área de mil quilômetros quadrados, com dados sobre estoques pesqueiros obtidos ao longo de dez anos e informações obtidas por satélite sobre as florestas da área estudada. Foram identificados 1.500 lagos e dados de 36 mil locais diferentes dentro da área estudada.
“O estudo tem implicações diretas para o gerenciamento e conservação da Amazônia”, afirma a professora Victória Isaac, da Universidade Federal do Pará, responsável pela coleta de dados sobre pesca usados no estudo. “O uso não planejado da terra e outros projetos humanos estão mudando drasticamente o panorama na Amazônia. Políticas de proteção ambiental e contra desmatamento precisam ser fortes para garantir a segurança alimentar das populações locais e os recursos pesqueiros.”
Outro autor, Davi MacGraph, lembra que o conflito entre o crescimento da pecuária e o gerenciamento de estoques pesqueiro é uma preocupação para comunidades ribeirinhas, mas ainda não existiam estudos rigorosos sobre o quanto a perda de florestas afeta a produtividade pesqueira.
“Nós podemos usar este trabalho para mostrar às comunidades o que eles estão perdendo por não controlar a densidade do rebanho nas várzeas e converter as florestas em pastos”, afirma MaCGraph, vice-diretor do Earth Innovation Institute, organização não governamental que no Brasil atua nos estados do Acre, Pará e Mato Grosso.
Segundo os pesquisadores, aproximadamente um terço dos peixes capturados na natureza em todo o mundo são encontrados nas regiões tropicais. A pesca em águas continentais, segundo eles, é vital à produção de alimentos.
“Você tem que proteger esses habitats se quiser manter a produção de alimentos e a renda que os rios oferecem”, diz Castello. “Várzeas produzem mais peixes do que qualquer outro sistema de água doce no mundo. Agora, a Amazônia é a única região em que a maioria das várzeas ainda está intacta, mas a floresta continua a ser derrubada e os habitats estão mudando, o que vai reduzir a quantidade de peixes para as pessoas comerem e se sustentar. Se nós não protegermos essas áreas, nós vamos perder os rios e vamos perder os peixes.”
No futuro, os pesquisadores esperam incluir outras variáveis no estudo, como a profundidade e a conectividade dos lagos estudados.
Leia Também
Leia também
Manejo de pesca em reserva indígena começa a dar resultados
Com preservação, número de pirarucus volta a crescer nos lagos do povo Paumari, na Amazônia, e primeira pesca controlada é um sucesso. →
Pesca, desastre anunciado
Brasil se esquece das lições do passado do Peru, seu vizinho, e cria uma burocracia pesqueira que está mais preocupada com o aumento da produção do que garantir que haverá peixe. →
Peixes ameaçados na Amazônia
Sobrevivência de grandes bagres e da pesca está diretamente ligada à saúde do rio Madeira. Barramentos provocaram extinções no Brasil. →
Tinha que voltar aquela lojinha do Mamirauá no aeroporto de Manaus
Claro. Veja o Sul do Brasil. Basta dois dias de chuva, na grande maioria dos rios , e a lama/barro, já os transforma em rios amarelos.
Não há peixe que aguente. A História se repete. Dedão do Homem de novo.