O desmatamento no Cerrado aumentou 25% entre agosto de 2021 e julho de 2022, alcançando a marca de 10.688 quilômetros quadrados (km²). A cifra, que corresponde a uma área equivalente a 7 vezes a cidade de São Paulo, é a maior desde 2015. A taxa anual de destruição do Cerrado foi divulgada nesta quarta-feira (14) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Este é o terceiro ano de alta no desmatamento do bioma. Em 2020, o Cerrado perdeu 7,9 mil km² de vegetação nativa. Em 2021, foram 8.531,44 km² de desmatamento, área equivalente a Rio Branco (AC), a terceira maior capital do país em extensão territorial.
A divulgação dos números acontece apenas uma semana após a aprovação da Lei Europeia anti-desmatamento, que proíbe a entrada no mercado europeu de commodities produzidas em áreas florestais desmatadas após 31 de dezembro de 2020.
A lei não inclui ecossistemas como o Cerrado e a preocupação é que, ao restringir a produção com desmatamento na Amazônia, na Mata Atlântica e no Chaco, os biomas mais tipicamente florestais da América do Sul, a nova regulação possa causar “vazamento” do desmatamento para a savana brasileira, ampliando sua destruição.
“Mais uma vez o Cerrado é colocado como bioma de sacrifício. Os europeus deram uma sinalização importante para o mundo, mas perderam a oportunidade de fazer uma lei efetiva. O Cerrado é a principal fonte de desmatamento importado pela Europa hoje. Para nós, aumenta o risco do esgarçamento dos recursos hídricos, crise de abastecimento d’água e energética para os maiores centros urbanos do país, e o acirramento da violência no campo”, diz Guilherme Eidt, assessor de Políticas Públicas do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN).
Em meados de novembro, o ISPN apoiou a publicação de um estudo mostrando que um terço do volume de águas do Cerrado pode ser perdido até 2050, caso a destruição do bioma continue no ritmo atual.
A organização explica que a água do Cerrado continua sendo exportada para China, União Europeia e Estados Unidos em forma de “água virtual”, que é aquela consumida na produção de commodities como soja e carne.
O Cerrado concentra oito nascentes das 12 bacias hidrográficas brasileiras, por isso é considerado a “caixa d’água” do país. É também no bioma onde acontece a maior expansão da produção de grãos do Brasil. A atividade foi a responsável por destruir quase 50% da cobertura original do Cerrado.
A mais recente edição das Projeções do Agronegócio, divulgada no final de novembro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, prevê a expansão de 16% na área plantada na região do Matopiba – nome formado pela junção das siglas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – indo de cerca de 8 milhões de hectares para algo entre 10,3 a 12,7 milhões de hectares até a safra de 2031/2032. Esse território formado pelo MA, TO, BA e PI seria responsável por produzir de 40,2 milhões a 52 milhões de toneladas de grãos.
Desmatamento por estados
Segundo dados do INPE, o estado que mais devastou o bioma foi o Maranhão, com 2.834 km² de desmatamento, seguido pelo Tocantins (2.127 km²) e Bahia (1.428 km²). Esses três estados, junto com Piauí (1.189 km² desmatados), possuem as maiores porções de Cerrado e compõem a fronteira agrícola no Matopiba.
Além deles, Goiás foi responsável por 985 km² de supressão da vegetação nativa de Cerrado no período, Minas Gerais por 803 km², Mato Grosso por 742 km², Mato Grosso do Sul por 315 km², Pará por 244 km², Rondônia por 13 km² de desmatamento, além do Distrito Federal, com 5 km², São Paulo, com 4 km², e Paraná, com 0,18 km².
Novas regras para divulgação
A nota técnica do INPE está datada do dia 8 de novembro e, segundo apurou ((o))eco, os números foram enviados em seguida ao Governo Federal. A data em que ele veio a público, no entanto, representa uma novidade implementada pelo INPE, em acordo com o Governo Federal.
Segundo dados obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI), um acordo feito em abril entre o Instituto e o Ministro de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovações (MTCI) determinou que, a partir de agora, a divulgação das taxas anuais de desmatamento dos dois biomas monitorados seguirão um calendário fixo de divulgação: sempre às quarta-feiras, na 50ª semana do ano corrente para o Cerrado, e na 48ª semana do ano corrente para a Amazônia.
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