Nem a pandemia diminuiu a pressão do desmatamento sobre a Amazônia. Ao contrário. Terminado o calendário do desmatamento, que vai de agosto do ano anterior a julho do ano seguinte, o sistema de alerta de desmatamento do INPE, o Deter, contabiliza 9.056,26 km² desmatados. Esse número representa uma alta de 34% em relação ao mesmo período no ano passado (agosto 2018/julho 2019), quando foram registrados 6.844 km² perdidos.
Os dados do INPE foram atualizados na última sexta-feira (07), na plataforma Terra Brasilis. Desde 2003 os dados do desmatamento do INPE são públicos.
Entre agosto a julho, o estado recordista de desmatamento foi o Pará, com 3.865.60 km²; seguido pelo Mato Grosso, com 1.863.21 km²; pelo Amazonas, com 1.253.76 km²; e por Rondônia, com 1.235.13 km² de cobertura florestal perdida.
Estado | Área desmatada (2019-2020) |
Pará | 3.865.60 km² |
Mato Grosso | 1.863.21 km² |
Amazonas | 1.253.76 km² |
Rondônia | 1.235.13 km² |
Acre | 449.28 km² |
Roraima | 241.40 km² |
Maranhão | 132.95 km² |
Amapá | 8.71 km² |
Tocantins | 6.22 km² |
O Deter é um sistema que emite alertas quase em tempo real para apoiar ações de fiscalização no campo, portanto ele não é usado para calcular a taxa oficial de desmatamento, essa é responsabilidade do Prodes, também feito pelo INPE, que olha com maior precisão para os dados de perda de cobertura florestal.
Historicamente, os números apresentados pelo Deter são menores do que os dados consolidados do Prodes, que representam as estatísticas oficiais sobre o desmatamento na Amazônia. Os dados são divulgados preliminarmente em novembro. Com base no aumento do Deter, especialistas temem que o Prodes do período ultrapasse a barreira dos 13 mil km².
Para fins de análise, ((o))eco comparou os dados de períodos passados do Deter x Prodes, para mensurar a variação entre os números. Em todos os anos, os dados consolidados do Prodes tiveram uma variação de mais de 40% em cima dos números do Deter. A série histórica do Deter começa no ano de desmatamento entre agosto de 2015 e julho de 2016, neste período, os números do Prodes foram 46,79% maiores. Entre 2017-2018, a variação chegou a 64,86%.
Período | Deter | Prodes | Variação (%) |
2015-2016 | 5.377 km² | 7.893 km² |
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2016-2017 | 4.639 km² | 6.947 km² |
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2017-2018 | 4.571 km² | 7.536 km² |
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2018-2019 | 6.844 km² | 9.762 km² |
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Uma projeção conservadora em cima de apenas 40% de variação sobre o número do Deter para o período de 2019-2020 já elevaria o nível do desmatamento para a casa dos 12.678 km². No período de agosto de 2018 a julho de 2019, os números consolidados do Prodes revelaram que a Amazônia perdeu 10.129 km² de florestas, no maior índice desde 2008.
Mourão aponta inversão de tendência
Mês a mês, se comparado com as medições do ano anterior, os níveis de desmatamento entre agosto de 2019 e julho de 2020 se mantiveram acima da média em relação ao período anterior. A exceção é julho, com 1.654 km² desmatados, uma queda de 26,6% em comparação com o mesmo mês em 2019, quando o Deter detectou 2.255 km² desmatados.
A diminuição em julho foi suficiente para que o vice-presidente, General Hamilton Mourão, que coordena o Conselho da Amazônia, comemorasse. Em publicação no seu Twitter, ele apontou a queda no último mês como o “início da inversão de tendência”, o que seria fruto dos “resultados positivos da Operação Verde Brasil 2”. Especialistas apontam, entretanto, que é muito cedo para definir a redução como tendência e ressaltam que apesar de menor em relação à julho de 2019, este ainda é o segundo maior índice de desmatamento registrado pelo Deter em julho, bem acima dos anos anteriores.
A diminuição do desmatamento no #BiomaAmazônia ficou caracterizado pelo início da inversão de tendência como mostra o gráfico abaixo, revelando resultados positivos da #OperaçãoVerdeBrasil2. pic.twitter.com/uiQ0X53gMu
— General Hamilton Mourão (@GeneralMourao) August 5, 2020
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