Angariar recursos para aliar a retomada do crescimento econômico com a proteção do meio ambiente mostrou-se um dos grandes focos dos representantes do governo brasileiro, os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Marina Silva, do Meio Ambiente, durante o painel “Brasil um novo roteiro”, realizado nesta terça-feira (17), no Fórum Econômico Mundial, que acontece em Davos, na Suíça.
Marina Silva relembrou o potencial do Brasil em contribuir com os esforços mundiais de combate às mudanças climáticas, e enfatizou que para vencer os obstáculos internos, como retomar a agenda ambiental desmantelada na gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022), o país precisa de apoio, sobretudo financeiro.
Um dos avisos de Marina às nações mais ricas do mundo que protagonizam os debates em Davos foi a falta de implementação de promessas passadas, como o Fundo Clima, que deveria investir US$ 100 bilhões para apoiar nações pobres e em desenvolvimento na proteção ambiental e a criação de políticas de mitigação e adaptação climática.
“Nós temos uma boa regulação global, mas faltam os investimentos. Os 100 bilhões [de dólares] que eram o compromisso dos países desenvolvidos ainda não foram aportados. Nós temos que ter um aporte de recursos para ações de mitigação, como também de adaptação. (…) O Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a ter resultados a apresentar sobre o combate às mudanças climáticas por causa de nossa luta contra o desmatamento. Mas, nos últimos quatro anos, por causa da política da antiga gestão, entramos em uma situação muito ruim e a agenda ambiental está completamente desmantelada. A principal mensagem do presidente Lula é que estamos de volta para as agendas do clima e da proteção da biodiversidade e justiça ambiental, mas precisamos de apoio”, disse a ministra, enquanto discursava ao lado do ministro Fernando Haddad.
Haddad foi questionado sobre os eventos do dia 8 de janeiro, quando um grupo de terroristas invadiu a sede dos Três Poderes, em Brasília. Um dos focos de sua fala foi acalmar os participantes do Fórum sobre a situação interna nacional por causa dos atentados contra a democracia brasileira. Em sua resposta, ele reafirmou a capacidade de articulação política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e firmou um compromisso de responsabilizar quem financiou os atos. Segundo o Ministério da Justiça, pessoas ligadas a setores do agronegócio estariam entre os financiadores, conforme também já noticiaram reportagens de ((o))eco.
“Lula mostrou ter uma ampla base de apoio ao ter se reunido com todos os (27) governadores do país e representantes dos Três Poderes imediatamente após o ocorrido. Também foi afastado o governador do Distrito Federal e decretado a Intervenção Federal, que resultou na prisão de centenas de pessoas pela participação nos atos terroristas. Agora precisamos encontrar os financiadores, e quem estava por trás”, disse o ministro Fernando Haddad.
Fundo Amazônia e combate ao desmatamento
Um dos focos da atuação de Marina Silva em Davos tem sido construir novos aliados para o Fundo Amazônia, que desde 2019 seguia paralisado devido às ações pouco transparentes do ex-presidente Jair Bolsonaro que levaram os doadores do Fundo a suspenderem os repasses.
Uma das ações de Marina Silva antes de embarcar para a Suíça foi restabelecer o fundo oficialmente, como divulgado na quarta-feira (10). Criado em 2008 para financiar projetos de redução do desmatamento e fiscalização do bioma Amazônia, o Fundo teve restabelecidas suas instâncias de controle por meio do Decreto nº 11.368/2023. Foram retomados o Comitê Orientador (COFA), com a atribuição de determinar suas diretrizes e acompanhar os resultados obtidos, e o Comitê Técnico (CTFA) para atestar as emissões oriundas de desmatamentos na Amazônia.
Outra ação divulgada antes da viagem à Davos foi a retomada do plano de combate ao desmatamento na Amazônia Legal, conhecido como PPCDAm, o Plano foi responsável pela redução de cerca de 80% nas taxas de destruição do bioma, ampliado para os demais biomas brasileiros.
Marina Silva também afirmou que o Brasil pretende mostrar resultados de seus compromissos ambientais, mas sem esquecer-se de sua agenda social. “Desde a COP-27, temos novos compromissos assumidos. O Brasil quer ser um líder para reduzir o desmatamento. E temos o compromisso interno de zerar o desmatamento até 2030. Queremos ser uma economia de baixo carbono e investir em bioeconomia. Mas tudo isso precisa de apoio e passar pela economia. Temos 33 milhões de pessoas com fome e temos que olhar para as questões sociais também. Essas pessoas precisam fazer parte de um novo ciclo de crescimento e desenvolvimento”, disse Marina, que apontou a candidatura do Brasil para receber a Conferência Mundial do Clima, a COP-30, como outra prova do compromisso brasileiro com a retomada da agenda ambiental.
Segundo reportagem da CNN Brasil, a atuação brasileira em Davos já estaria rendendo os primeiros resultados. Em coletiva à imprensa, Marina afirmou que a fundação do ator de Hollywood Leonardo DiCaprio está fazendo um esforço para arrecadar US$ 100 milhões (R$ 512 milhões) para o Fundo Amazônia, voltado ao financiamento de ações para preservação da floresta, junto com o bilionário Jeff Bezos.
Na coletiva, Marina também disse que se reuniu com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o brasileiro Ilan Goldfajn, e mostrou disposição do organismo multilateral de crédito para também contribuir com o fundo.
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