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Estudo do IPAM reforça hipótese do “Dia do Fogo” em São Paulo

Análise mostra que cortina de fumaça provocada por incêndios simultâneos surgiu em apenas 90 minutos no oeste paulista. “Não é normal”, diz organização

Cristiane Prizibisczki ·
27 de agosto de 2024

O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) divulgou nesta terça-feira (27) uma análise sobre a dinâmica dos incomuns focos de incêndio registrados no final da última semana em São Paulo. Os resultados reforçam a hipótese levantada pelo Governo Federal de que a ação tenha sido orquestrada.

Para realizar a análise, o IPAM combinou informações de satélites de referência para focos de calor com dados de cobertura e uso da terra, referentes a 2023, produzidos pela Rede MapBiomas, da qual o IPAM faz parte. Também foram utilizadas imagens do satélite GOES para visualização da fumaça e anomalia térmica.

Segundo a organização, imagens do satélite geoestacionário, que captura uma nova cena a cada dez minutos, indicam que as colunas de fumaça registradas no oeste paulista surgiram durante um intervalo de apenas 90 minutos, entre 10h30 e 12h do dia 23.

Já o satélite que capta focos de calor passa sobre a região na parte da manhã e no final da tarde. Entre suas duas passagens, naquele mesmo dia, o número de focos foi de 25 para 1.886 no estado.

No total, entre os dias 22 e 24 de agosto foram contabilizados 2,6 mil focos de calor registrados em solo paulista, 81,28% deles concentrados em áreas de uso agropecuário, como cana de açúcar e pastagem.

“Não é natural surgirem tantos focos de calor em um curto período, ainda mais em uma região como São Paulo. É como se fosse um Dia do Fogo exclusivo para a realidade do estado, evidenciado pela cortina de fumaça simultânea que surge visualmente a oeste”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência do IPAM.

Cinco cidades têm 13,31% dos focos de calor ocorridos nos três dias no estado de São Paulo: Pitangueiras (3,36%); Altinópolis (3,28%); Sertãozinho (2,4%); Olímpia (2,17%); e Cajuru (2,1%), todas na região de Ribeirão Preto, com exceção de Olímpia, que fica no pólo de São José do Rio Preto.

Para a diretora de Ciência, independentemente do que venham a resultar as investigações do governo federal sobre os incêndios, é preciso transformar a relação do Brasil com o fogo.

“Seja uma ação orquestrada ou não, é urgente reduzir o uso do fogo no manejo é agropecuário, e ser muito responsável no controle do fogo quando ele estiver sendo utilizado. O uso indiscriminado e irresponsável do fogo pode causar danos não só ao meio ambiente, mas também à propriedade e à vida das pessoas que, mesmo distantes, recebem o impacto da fumaça”, conclui Alencar.

Investigações

Em coletiva de imprensa no último domingo, o governo federal anunciou que havia acionado a Polícia Federal para investigar a possível origem criminosa das queimadas registradas em São Paulo. 

Segundo a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, o governo trabalha com a suspeita de uma ação criminosa similar ao “dia do fogo”, numa referência ao 10 de agosto de 2019, quando uma ação orquestrada de criminosos ateou fogo em mais de 470 propriedades rurais no Pará. “Há uma forte suspeita de que está acontecendo de novo. Em São Paulo, não é natural, em hipótese alguma, que em dois dias tenha diversas frentes de incêndio envolvendo concomitantemente vários municípios”, afirmou. 

  • Cristiane Prizibisczki

    Cristiane Prizibisczki é Alumni do Wolfson College – Universidade de Cambridge (Reino Unido), onde participou do Press Fellow...

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