Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lançaram nesta quinta-feira (20) um parecer técnico que aponta falhas e lacunas no estudo de viabilidade ambiental da Ferrogrão. O trabalho também contou com a participação de especialistas do Observatório do Clima (OC) e do Instituto Socioambiental (ISA).
Ferrogrão é o nome pelo qual ficou conhecido o projeto federal de implantação de uma ferrovia longitudinal de 933 km que pretende ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA) para escoar produtos agrícolas.
O que os especialistas avaliaram foi o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da obra, principalmente na avaliação feita sobre impactos cumulativos e na projeção de desmatamento.
Segundo o EVTEA, apresentado pelo Ministério dos Transportes em 2024, não haveria risco de desmatamento, pois o potencial aumento de produção de grãos na área de captação da Ferrogrão se daria somente em áreas de pasto degradado, entre outros motivos.
Os especialistas contestam. Segundo eles, as premissas nas quais os argumentos estão baseados são “genéricas, não comprovadas e entram em contradição com o próprio estudo”.
Os pesquisadores contestam a hipótese de ausência de desmatamento apresentada pelo governo, inclusive. Eles avaliam que, de 2012 a 2023, houve a conversão de mais de 1,3 milhão de hectares de pastagem para soja e de mais de 1,3 milhão de hectares de floresta para pastagem na área de captação da Ferrogrão, o que revela a dinâmica de expansão do desmatamento e da sojicultura em direção ao norte de Mato Grosso.
De acordo com os pesquisadores, as falhas no documento comprometem a avaliação de impactos na região do interflúvio Xingu-Tapajós, “considerando sua alta vulnerabilidade socioambiental e a presença de outros empreendimentos e atividades econômicas, atuais e futuras, relacionados ao corredor logístico”.
A partir destes resultados, os autores da nota técnica recomendam a suspensão do processo de licenciamento da obra até a conclusão do estudo ambiental estratégico e implementação do plano de combate ao desmatamento na região em que se pretende instalar a ferrovia, antes que este licenciamento seja realizado.
Além da USP, UFMG, OC e ISA, também participou da construção da nota técnica o Climate Policy Initiative da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio), que colaborou na revisão.
Leia também

Mauro Mendes veta projeto que “transforma” Amazônia em Cerrado
Apesar de ter barrado proposta dos parlamentares de Mato Grosso, governador do estado sinaliza interesse na pauta ao criar grupo de trabalho para discutir tema →

Ferrogrão: Amazônia fora dos trilhos
Organizações socioambientais prometem endurecer protestos contra maior projeto logístico do governo federal, que aguarda decisão do STF para seguir com licenciamento →

Conselho de Direitos Humanos pede que governo pare projeto da Ferrogrão
Órgão argumenta que populações afetadas não foram consultadas. Traçado da ferrovia impactará ao menos 19 povos indígenas e 4,9 milhões de áreas protegidas →