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Estudo sobre Ferrogrão contém falhas na análise de desmatamento

Especialistas avaliam que argumentos usados para justificar ausência de desmatamento futuro no entorno da obra são genéricos e sem comprovação

Cristiane Prizibisczki ·
20 de março de 2025

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) lançaram nesta quinta-feira (20) um parecer técnico que aponta falhas e lacunas no estudo de viabilidade ambiental da Ferrogrão. O trabalho também contou com a participação de especialistas do Observatório do Clima (OC) e do Instituto Socioambiental (ISA). 

Ferrogrão é o nome pelo qual ficou conhecido o projeto federal de implantação de uma ferrovia longitudinal de 933 km que pretende ligar Sinop (MT) a Itaituba (PA) para escoar produtos agrícolas.

O que os especialistas avaliaram foi o Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da obra, principalmente na avaliação feita sobre impactos cumulativos e na projeção de desmatamento. 

Segundo o EVTEA, apresentado pelo Ministério dos Transportes em 2024, não haveria risco de desmatamento, pois o potencial aumento de produção de grãos na área de captação da Ferrogrão se daria somente em áreas de pasto degradado, entre outros motivos.

Os especialistas contestam. Segundo eles, as premissas nas quais os argumentos estão baseados são “genéricas, não comprovadas e entram em contradição com o próprio estudo”.

Os pesquisadores contestam a hipótese de ausência de desmatamento apresentada pelo governo, inclusive. Eles avaliam que, de 2012 a 2023, houve a conversão de mais de 1,3 milhão de hectares de pastagem para soja e de mais de 1,3 milhão de hectares de floresta para pastagem na área de captação da Ferrogrão, o que revela a dinâmica de expansão do desmatamento e da sojicultura em direção ao norte de Mato Grosso.

De acordo com os pesquisadores, as falhas no documento comprometem a avaliação de impactos na região do interflúvio Xingu-Tapajós, “considerando sua alta vulnerabilidade socioambiental e a presença de outros empreendimentos e atividades econômicas, atuais e futuras, relacionados ao corredor logístico”.

A partir destes resultados, os autores da nota técnica recomendam a suspensão do processo de licenciamento da obra até a conclusão do estudo ambiental estratégico e implementação do plano de combate ao desmatamento na região em que se pretende instalar a ferrovia, antes que este licenciamento seja realizado.

Além da USP, UFMG, OC e ISA, também participou da construção da nota técnica o Climate Policy Initiative da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio), que colaborou na revisão.

  • Cristiane Prizibisczki

    Jornalista com quase 20 anos de experiência na cobertura de temas como conservação, biodiversidade, política ambiental e mudanças climáticas. Já escreveu para UOL, Editora Abril, Editora Globo e Ecosystem Marketplace e desde 2006 colabora com ((o))eco. Adora ser a voz dos bichos e das plantas.

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