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Fama não livra animais do risco de extinção

A popularidade de espécies carismáticas esconde o drama que elas passam na vida selvagem. Presentes em filmes, animações e ações de marketing, estão desaparecendo na vida real

Vandré Fonseca ·
12 de abril de 2018 · 7 anos atrás
O tigre é a espécie mais carismáticas do mundo. Foto: David Lochlin/Flickr.

As espécies da fauna mais carismáticas do mundo vivem um paradoxo. Enquanto são vistas com enorme frequência em desenhos animados, em forma de brinquedos ou mesmo em logotipos de empresas, estão desaparecendo dos ambientes naturais. A hipótese defendida por pesquisadores é que justamente a grande virtual presença deles têm dado a falsa impressão de serem animais comuns também na natureza. Um grande engano.

A constatação é de uma equipe internacional, liderada pelo francês Franck Courchamp, diretor de Pesquisas da Universidade de Paris Saclay, e foi publicada na edição desta quinta-feira (12) na Plos Biology. Por meio de pesquisas online, questionários em escolas, websites de zoológicos e desenhos animados, chegaram a lista dos “dez mais”. Tigres, elefantes e leões, como era de se esperar, estavam no topo desse hall da fama.

Se não tiveram surpresas ao identificar os bichos mais carismáticos, os pesquisadores ficaram atônitos ao verificar que quase todos eles estão ameaçados na vida selvagem, passando por um grande declínio populacional nos últimos anos. As duas espécies de gorila, por exemplo, são considerados “criticamente ameaçados” de extinção na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

A majestosa girafa está vulnerável à extinção. Foto: JacobEnos/Flickr.

O tigre destronou o leão é foi apontado como o rei da popularidade. Mas é considerado“ameaçado”  pela IUCN, devido à rápida perda de habitat. A exceção é a situação do lobo, considerada “pouco preocupante”. Elefantes, girafas, ursos, pandas, leopardos e guepardos completam a lista de espécies, quase todas consideradas “vulneráveis” à extinção.

Segundo os autores do estudo, apesar das pessoas adorares esses bichos, elas estão desatentas ao fato de estarem perto da extinção. A consequência é que deixam de se mobilizar para protegê-los. Além disso, a comunidade científica sabe pouco sobre eles. Faltam informações, por exemplo, sobre a população atual de leopardos, elefantes ou gorilas, um dado importante para a conservação.

Os pesquisadores concluíram que um francês vê em média, ao longo de um mês, mais leões em fotografias, desenhos, marcas e logotipos do que o total de animais vivos da espécie que ainda sobrevivem na África Ocidental. “Companhias desconhecidas usando girafas, guepardos ou ursos polares por razões de marketing pode estar ativamente contribuindo para a falsa percepção de que esses animais não estão em risco de extinção, e assim não necessitam de conservação”, afirmou Franck Courchamp a Plos Biology.

Para os pesquisadores, as empresas que usam por razões de marketing a imagem de animais ameaçados poderiam contribuir com campanhas para a promover a conservação das espécies. E claro, usar parte dos benefícios obtidos em suas ações de marketing para financiar fundos de proteção das espécies cuja imagem eles usam sem pagar nenhum direito.

       

 

Saiba Mais

Artigo: The paradoxical extinction of the most charismatic animals. PLoS Biol 16(4): e2003997.

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Comentários 2

  1. Parabéns pela iniciativa de trazer esse tema a debate! Construímos uma cultura predatória totalmente divorciada de nossa realidade ecológica mas que insiste em fazer de conta que nada está acontecendo.Seria bem bacana se você se dispusesse a voltar ao assunto em mais artigos, trazendo dados e reflexões a respeito da exploração comercial de imagens da natureza que, no entanto, é cada vez mais ameaçada.


  2. paulo diz:

    As grandes organizações econômicas/financeiras usam as imagens destes animais, ex marca Shell, imagem do tigre. Estas empresas podem ajudar na conservação. Basta boa vontade.