Notícias

Gatos selvagens dão mais pinta em área protegida

Estudo realizado na região de Jundiaí (SP) mostra que estado de conservação da floresta é determinante para felinos selvagens compartilharem a mesma área

Vandré Fonseca ·
5 de janeiro de 2017 · 8 anos atrás
Apesar de ser maior do que os outros gatos selvagens, jaguatirica não afasta outros felinos. Crédito:Tom Smylie, US Fish & Wildlife Service.
Apesar de ser maior do que os outros gatos selvagens, jaguatirica não afasta outros felinos. Crédito: Tom Smylie, US Fish & Wildlife Service.

Se no lugar tem jaguatirica, pode sim ter outros felinos selvagens menores, como o maracajá ou o gato-selvagem-pequeno. São espécies parecidas mas que podem ocorrer na mesma área, dependendo é claro do estado de conservação da floresta. A novidade foi apresentada esta semana pela bióloga Mariana Baldy Nagy-Reys, da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo (Unicamp), no jornal de acesso aberto PLOS ONE.

“Pela literatura, devido à semelhança morfológica e de tamanho, eles estariam competindo por comida e habitat”, afirma a bióloga Mariana Baldy Nagy-Reys, da Universidade Estadual de Campinas, São Paulo (Unicamp). “A ideia era que onde tivesse jaguatirica não teria os menores. Meu estudo mostrou que não há competição, o que regula é o grau de conservação da área”, conclui.

São três espécies do mesmo gênero e que possuem uma pelagem bastante parecida, com rosetas escuras sobre um amarelo escuro predominante. Entre elas, a jaguatirica (Leopardus pardalis) é a maior e pode chegar a mais de 15 quilos. Já os gatos-do-mato (L. guttulus), com peso entre 2 e 4 quilos, têm o tamanho de um gato doméstico e são um pouco menores do que os gatos-maracajás (L. wiedii). Para encontrá-los, a bióloga instalou armadilhas fotográficas e foi em busca de amostras de fezes na Serra do Japi, um remanescente de Mata Atlântica no interior paulista com diferentes graus de proteção.

No interior de uma área total de 35 mil hectares tombados, um pouco menor do que a Baía da Guanabara, existe uma reserva biológica de uso restrito, com cerca de 2 mil hectares, onde uma das poucas atividades permitidas é a pesquisa científica. Essa pequena área é cercada por uma zona de amortecimento de aproximadamente 11 mil hectares. Por lá, foram encontrados animais como tatus e veados, mais abundantes do que felinos, e até suçuaranas foram encontradas. Mas pára por aí. Apesar de antigos registros, atualmente não se tem mais notícia de onças-pintadas na região.

Além da redução de seus habitat, os felinos estudados são animais ameaçados pela caça. O estudo sugere que os gatos selvagens são muito sensíveis ao estado de conservação da área, por isso criar e manter áreas de proteção e a conexão entre elas são ações importantes. Mas é preciso também ações para evitar a ação de caçadores, como campanhas educativas.

O próximo passo da pesquisadora é comparar alimentação dos felinos, quais presas eles buscam, para saber se este é um fator que contribui para que compartilhem o mesmo habitat. Outra possibilidade apontada para coexistência das espécies são hábitos diferentes, como horários de caça. “Por enquanto o único fator conhecido que determina a presença deles é o grau de proteção. E o grau de proteção influencia a presença dos três”, afirma Mariana Nagy-Reis.

 

Saiba Mais

Artigo: Nagy-Reis MB, Nichols JD, Chiarello AG, Ribeiro MC, Setz EZF (2017) Landscape Use and Co-Occurrence Patterns of Neotropical Spotted Cats. PLoS ONE 12(1): e0168441.

 

 

Leia Também

Alerta para extinção das jaguatiricas na Mata Atlântica

Não são tantas jaguatiricas quanto se imaginava

Análises genéticas revelam um novo gato brasileiro

 

 

Leia também

Notícias
29 de novembro de 2013

Análises genéticas revelam um novo gato brasileiro

Pesquisadores descobrem que felino que ocorre do Rio Grande do Sul ao Maranhão, na realidade, tratava-se de duas espécies diferentes.

Notícias
18 de maio de 2016

Não são tantas jaguatiricas quanto se imaginava

Estimativa indica que população do terceiro maior felino brasileiro é estável, mas floresta amazônica abriga menos animais do que se supunha.

Notícias
13 de maio de 2014

Alerta para extinção das jaguatiricas na Mata Atlântica

Levantamento sobre jaguatiricas indica que situação deste predador é preocupante. Principal ameaça é a concorrência com caçadores.

Mais de ((o))eco

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Comentários 5

  1. Leandro diz:

    Tem sumido algumas galinhas em meu sítio, achei fezes em alguns lugares queria saber se seria de jaguatirica. Alguém tem imagem dela


  2. Paulo cesar diz:

    Eu moro em poços de caldas, sul de minas e encontrei hoje um gato do mato morto na estrada, tirei fotos.


  3. George diz:

    No Cantão tem jaguatirícas, gatos-maracajá e jaguarundi, ou gato-mourisco. Isso além de onças-pintadas em abundâncias, e suçuaranas também. Tudo simpátrico numa floresta inundável, e todos menos a suçuarana ficam durante as enchentes, quando até 90% da área alaga. Claro que é tudo floresta primária, onde cada gato encontra seu nicho, mesmo quando quase não resta terra firme.


  4. Carlos L. Magalhães diz:

    Além dos 3 gatos pintados, o trabalho refere o registro de suçuaranas, mas não menciona nenhum registro de jaguarundi (puma yaguaroundi). Fiquei curioso para saber se as câmeras trap registraram esta espécie.


    1. Mariana diz:

      Olá Carlos, sou a Mariana, autora do trabalho. Registramos onças-pardas (suçuaranas) e jaguarundi sim. Mas tivemos poucos registros e por isso não conseguimos analisar os dados dessas duas espécies. Obrigada pelo interesse! Espero que goste do artigo.