Após quase duas décadas de luta, as comunidades tradicionais do litoral nordeste do Pará podem, enfim, comemorar. Nesta quinta-feira (21), o governo assinou os decretos de criação das reservas extrativistas marinhas Filhos do Mangue e Viriandeua que juntas somam cerca de 74 mil hectares de grande importância socioambiental. As duas unidades de conservação, situadas na região do Salgado Paraense, ajudarão a proteger o maior e mais conservado cinturão contínuo de manguezais do planeta.
Com aproximadamente 40 mil hectares, a Reserva Extrativista (Resex) Filhos do Mangue, nos municípios de Primavera e Quatipuru, e Salinópolis, abriga cerca de 4 mil famílias. Já a Resex Viriandeua, em Salinópolis e São João de Pirabas, conta com cerca de 34 mil hectares, divididos em três áreas, onde vivem cerca de 3.100 famílias.
“São quase 10 mil pessoas que serão beneficiadas por essas novas unidades, uma luta de quase 15 anos da comunidade, com o apoio da Confrem e CNS”, afirma o ativista socioambiental Alan Amorim, da Comissão Próresex Viriandeua e Filhos do Mangue. “Defender os ecossistemas costeiros torna-se nossa obrigação, pois são um dos depósitos mais ricos da biodiversidade marinha, estão, ao longo de cerca de metade das costas do mundo, ameaçados por atividades relacionadas ao desenvolvimento”, completa.
Unidade de conservação da categoria de uso sustentável, as reservas extrativistas serão geridas junto com as comunidades e direcionadas para o manejo de base comunitária, em harmonia com a proteção dos manguezais e da biodiversidade.
Os decretos de criação da Reserva Extrativista Filhos do Mangue e da Reserva Extrativista Viriandeua foram publicados nesta sexta-feira (22) no Diário Oficial da União.
A criação das resex fez parte da celebração do Dia Internacional das Florestas, celebrado em 21 de março. Também foi assinado decreto que retoma a Comissão de Gestão de Florestas Públicas (CGFlop). O evento contou com a participação do presidente Lula e dos ministros Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, e Anielle Franco, da Igualdade Racial, Rui Costa, da Casa Civil, Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, e Silvio Almeida, de Direitos Humanos e Cidadania. Os presidentes do Ibama, Rodrigo Agostinho, e do ICMBio, Mauro Pires, também participaram.
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