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“Herdamos os entulhos da Mata Atlântica”, diz Ricardo Cardim no Vozes do Planeta

O botânico e paisagista é o terceiro entrevistado da nova temporada do podcast apresentado pela jornalista Paulina Chamorro

André Casé · Paulina Chamorro ·
3 de abril de 2025

“Herdamos os entulhos de uma floresta. A Mata Atlântica está morrendo.” No terceiro episódio de 2025 do podcast Vozes do Planeta, publicado no dia 27 de março, Paulina Chamorro recebeu o botânico e paisagista, Ricardo Cardim. No novo episódio da nona temporada, a entrevista abordou as árvores como testemunhas da brutal urbanização das cidades brasileiras.

No dia 12 de março de 2025, uma forte chuva atingiu a capital paulista e derrubou um Chichá (árvore nativa da Mata Atlântica) de mais de 200 anos no Largo do Arouche. A árvore tinha trinta metros de altura e era a terceira mais antiga da cidade. Além dela, outras 300 árvores caíram na cidade somente neste dia de chuva.

Ricardo Cardim explica, no episódio, não somente sobre arborização urbana, como também sobre as histórias de algumas árvores centenárias da cidade e o impacto da crise climática nelas, que são essenciais para a qualidade de vida populacional. O botânico e paisagista resgata o descaso político e social de décadas com a arborização urbana e que têm resultado no aumento gradativo da temperatura nas metrópoles, bem como na redução drástica da qualidade de vida em grandes centros urbanos.

 Ricardo Cardim também se refere às mudanças climáticas regionais nas cidades brasileiras. “As cidades quando não tem mais verde, se tornam áridas,  impermeabilizadas, e sofrem mudanças no seu clima. São Paulo, até os anos 70 era a cidade da garoa. Essa garoa desapareceu e São Paulo hoje é a cidade das tempestades  violentas”. O botânico explica que isso aconteceu porque ao longo de décadas não houve investimento na arborização urbana e uma expansão caótica derrubando suas áreas verdes. E assim nascem as ilhas de calor e junto com elas as injustiças ambientais, sendo os bairros menos favorecidos os mais quentes. 

“O único remédio para retroceder essa mudança climática, e que está em nossas mãos, em nosso voto, é plantar árvores. E tornar permeáveis os solos. Uma solução  possível seria o plantio de árvores em vagas de carro nas cidades brasileiras”, explica o botânico.

Fundador do Florestas de Bolso, uma técnica mais natural de restauração ecológica da Mata Atlântica, Cardim explica que essas pequenas florestas são máquinas de qualidade de vida, pois diminuem a temperatura, aumentam a umidade do ar, seguram barulhos, seguram a poeira, filtram gases tóxicos, abrigam biodiversidade que combate pragas urbanas (como cupins asiáticos, mosquitos da dengue e escorpiões) e filtram a água do solo, diminuindo enchentes e alimentando o lençol freático, que alimenta as torneiras.

“Se a floresta de bolso fosse uma política pública que permeasse como uma rede neural nessa metrópole enorme, teríamos uma cidade mais saudável e crianças mais conectadas com esse patrimônio imenso, que é a maior biodiversidade do mundo.”

Autor dos livros “Remanescentes da Mata Atlântica” e “Paisagismo Sustentável para o Brasil”, Cardim aborda a importância das espécies nativas e a preservação da biodiversidade no Brasil, com destaque para a Mata Atlântica.

Ricardo Cardim. Foto: Vozes do Planeta.

Seu primeiro livro é resultado de anos de pesquisa e expedições que mapearam os vestígios da floresta original, expondo a falta de um museu dedicado à biodiversidade nativa. Ele alerta sobre o estado crítico da Mata Atlântica, descrevendo-a como um “palácio demolido”, cujos resquícios ainda impressionam, mas não refletem sua grandiosidade original.

Cardim explica que a floresta está morrendo devido a fatores como espécies invasoras, mudanças climáticas e efeitos de borda, mesmo em áreas protegidas. Ele enfatiza que seu livro funciona como um “grito de desespero” e um registro para a história ambiental do país.

Já o segundo livro, “Paisagismo Sustentável para o Brasil”, propõe uma nova abordagem para integrar natureza e urbanismo, baseada em ciência e na valorização das plantas nativas. O autor destaca a urgência de mudar a relação da sociedade com o meio ambiente e reforça a necessidade de políticas públicas mais atentas à preservação dos biomas brasileiros.

O episódio se encerra com reflexões sobre o papel de cada indivíduo na luta ambiental e a importância da conscientização para evitar que a Amazônia siga o mesmo destino da Mata Atlântica. Ouça e assista o episódio completo pelo Spotify ou pelo canal oficial do Vozes do Planeta no YouTube.

  • Paulina Chamorro

    Jornalista com mais de duas décadas de atuação em temas socioambientais

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