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Publicado originalmente por Observatório do Clima
A Rússia declarou situação de emergência devido a incêndios florestais que já devastaram 3,2 milhões de hectares de florestas na Sibéria (uma área maior que a Bélgica) e lançaram nuvens de fumaça sobre Novosibirsk e Ekaterinburgo, terceira e quarta maiores cidades da Rússia. Vastas regiões ao norte do Círculo Polar Ártico estão queimando, inclusive a tundra, a vegetação rasteira da zona circumpolar.
Em centenas de milhares de hectares o fogo está ocorrendo sobre zonas de permafrost, o subsolo do Ártico que estoca bilhões de toneladas de carbono em forma de matéria orgânica permanentemente congelada.
Segundo o jornal Siberian Times, os incêndios deste verão boreal são os piores dos últimos anos. Em algumas regiões remotas, o governo russo afirmou que simplesmente deixará o fogo se alastrar, porque não há pessoas em risco e o custo de combater as chamas é muito alto.
Os incêndios ocorrem num momento em que o hemisfério Norte experimenta a segunda onda de calor neste verão – de fato, a segunda em 30 dias. Em junho, parte da Europa foi atingida por uma onda de calor apelidada “el infierno”, que elevou os termômetros a quase 40oC na Alemanha e a 46oC na França – a temperatura mais alta já medida no país.
O novo evento extremo causou calor de 42,6oC em Paris, temperatura mais alta da história da capital francesa, na última quinta-feira (25). Alemanha, Bélgica e Holanda também bateram seus recordes históricos, com temperaturas acima de 41oC no mesmo dia.
Nos Estados Unidos, as temperaturas no último fim de semana ultrapassaram 40oC em cidades como Chicago, St. Louis e Oklahoma City. Na China o calor atinge centenas de milhões de pessoas, com as temperaturas em Pequim tendo ultrapassado os 37oC no fim de semana.
O aumento da frequência e da intensidade das ondas de calor no hemisfério Norte vem sendo previsto há décadas pelos cientistas como uma das consequências do aquecimento global. No ano passado, quando a Europa também foi apanhada por um extremo de temperatura que causou incêndios no Ártico, cientistas estimaram que o aquecimento da Terra havia duplicado a chance de ocorrência daquele evento.
Um número crescente de estudos tem ligado os padrões climáticos atípicos ao degelo do oceano Ártico e à perda da cobertura permanente de neve da Sibéria. O gelo e a neve mantêm a diferença de temperatura entre o Ártico e as latitudes mais baixas. Essa diferença alimenta a chamada corrente de jato, um corredor de ventos fortes que serpenteia o hemisfério Norte em altitudes elevadas.
Esses ventos servem como barreira às massas de ar frio do Ártico no inverno, mas também impedem que massas de ar quente fiquem muito tempo estacionadas sobre as latitudes menores no verão.
Quando o gelo derrete, a corrente de jato enfraquece, aumentando a duração dos períodos quentes no verão e dando passagem às massas frias e às tempestades de neve no inverno. Ou seja, o clima fica mais extremo nas duas pontas.
E o calor continua: o mês passado foi o mais quente desde 1880, segundo dados compilados pela Nasa, a agência espacial dos EUA.
Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. |
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