Até o momento não se sabe se o incêndio que já consumiu 35 mil hectares do Refúgio Ecológico Caiman, em Miranda, no Mato Grosso do Sul, atingiu um dos 22 ninhos de araras azuis (Anodorynchus hyacinthinus) localizados na fazenda-santuário. Os ninhos são monitorados pelo Projeto Arara Azul, do Instituto com o mesmo nome. Por enquanto, o trabalho tem sido conter as chamas, que veio do outro lado do rio na terça-feira (10), na propriedade vizinha, e tem tirado o sono dos brigadistas locais.
Foi preciso pedir ajuda e ela veio. Bombeiros e voluntários se juntaram aos brigadistas que trabalham no refúgio e nas fazendas vizinhas. O incêndio ainda não cessou.
Dos 57 mil hectares, 35 mil foram atingidos pela chama, até o momento. “Já teve incêndio, mas não nesse nível”, diz Felipe Augusto Dias, diretor-executivo da SOS Pantanal, ONG parceira do refúgio. “Tem brigadista lá e eles sempre conseguiram controlar o incêndio quando ele entrava na fazenda. Mas dessa vez não conseguiram”, disse.
A Fazenda Caiman está localizada em Miranda, no Pantanal, e lá se desenvolve três atividades: ecoturismo, pesquisa de conservação e pecuária. Segundo Dias, as chamas estavam do outro lado do rio Aquidauana e a força do vento espalhou o fogo para o lado da fazenda.
Abrigo de onça destruído
Desde janeiro, a onça-pintada Jatobazinho estava em fase de adaptação para soltura na natureza em Caiman. Encontrado em um pátio de escola em Corumbá (MS) em 2018, estava esquelético e debilitado. Foi salvo pela equipe de veterinários da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFMS, enviado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), onde passou 5 meses ganhando peso e, por fim, encaminhado para Caiman, que seria o último endereço antes da (enfim) soltura na natureza.
O incêndio obrigou Jatobazinho a realizar mais uma viagem, dessa vez pra outra fazenda em Aquidauana, onde funciona o projeto onças do rio negro. Jatobazinho está seguro agora, longe das chamas. Mas seu recinto pegou fogo.
“Por enquanto é possível afirmar que esse é o incêndio de maiores proporções que já vimos em nossos anos de atuação aqui no Pantanal”, disseram, em comunicado divulgado no Facebook.
Impacto indireto nas Araras Azuis
Já a equipe do Projeto Arara Azul está preocupada com os danos indiretos do fogo, já que ainda não foi possível verificar a perda de nenhum ninho monitorado. Há três décadas o projeto monitora a população de Anodorynchus hyacinthinus do local. Por se tratar de espécie que se alimenta do fruto de apenas duas espécies de palmeiras, o impacto da fogo na vegetação atinge em cheio a população da ave, pois sua fonte de alimento fica comprometida.
“Sabemos que a natureza irá se recuperar, porém o processo é lento”, informa o instituto, em comunicado.
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