Novas reportagens trazem mais suspeitas sobre dribles em regras comerciais e quanto à possível receptação de animais traficados pelo Zoológico de Resgate e Reabilitação Greens, ou Vantara. Ele pertence a Anant Ambani, um dos filhos de Mukesh Ambani, dono do gigante da petroquímica Reliance Group e de uma das maiores fortunas globais.
O venezuelano Armando Info aponta que o megazoo, na cidade de Jamnagar, já recebeu ao menos 1.825 animais vivos exportados de criadouros no país sul-americano, inclusive em risco de extinção. O lote tinha araras, harpias, tamanduás, antas, macacos e outras espécies.
A matéria lembra que os envios têm as licenças nacionais e internacionais necessárias, mas que o Governo Venezuelano promove e fecha acordos frequentes com criadores no país, inclusive para venda de espécies nativas.
A investigação publicada foi compartilhada com o Süddeutsche Zeitung, o maior jornal diário da Alemanha. O levantamento mostra que ao menos 39 mil animais selvagens foram entregues à Vantara, só até o final de dezembro passado.
Os dados mostram que os espécimes vieram de 32 países. O maior exportador foram os Emirados Árabes Unidos, com 11.729 animais enviados ao zoo indiano. A lista também tinha espécies ameaçadas de extinção, como orangotangos e gorilas da montanha.
Além disso, meios como The News Minute dizem que textos sobre a atuação do Vantara sumiram das páginas de veículos como Deccan Herald, The Telegraph India e The Tribune após os mesmos supostamente receberem mensagens ameaçando processos judiciais se os mantivessem.
As publicações abordavam as preocupações de uma organização conservacionista africana sobre a importação em larga escala de animais ameaçados para o megazoo indiano, incluindo leopardos, guepardos, tigres e leões.
Inaugurado em março do ano passado, o Vantara teria cerca de 200 elefantes, 300 felinos, 1.200 répteis e mais de 3 mil herbívoros, de aproximadamente 1,2 mil espécies mundiais. Os números reais não seriam divulgados pelo Vantara, diz a imprensa indiana.
Diante disso, organizações ambientalistas globais estão de cabelo em pé com o rápido acúmulo de animais e denunciam sua suposta origem incerta. Eles poderiam vir do tráfico, da caça ilegal ou da criação e reprodução em cativeiro sem controle.
Uma reportagem da revista The Wire aposta que a super demanda do Vantara por animais silvestres pode ter alimentado o comércio ilegal mundial de vida selvagem. Ela foi baseada na mesma investigação do Süddeutsche Zeitung e Armando Info.
Em fevereiro de 2023, como ((o))eco mostrou, 26 ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) e 4 araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) foram repassadas de um criador na Alemanha ao indiano Greens. A operação teria sido não comercial. Ambas as aves só vivem livres na natureza brasileira.
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