O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva esteve reunido na manhã desta quinta-feira (17) com diversos grupos da sociedade civil, durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece no Egito até o próximo sábado. Durante o evento, ele ouviu demantas e recebeu documentos de lideranças indígenas, juventude, movimento negro, mulheres e cientistas.
Em sua fala, ele abordou diversos assuntos, muitos já citados no seu discurso oficial, feito na tarde da quarta-feira, e nas declarações que tem dado, como combate à pobreza, inclusão social, retorno do trabalho direto com a sociedade civil e inclusão de países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento no Conselho de Segurança da ONU.
Lula também falou em vários momentos sobre o meio ambiente. ((o))eco separou os principais trechos sobre o assunto. Confira.
Financiamento internacional
‘No fim do dia terei um encontro com o secretário-geral da ONU, António Guterres, para conversar um pouco de uma coisa que eu já sentia quando era presidente. Os fóruns da ONU não podem continuar sendo um fórum de discussões teóricas intermináveis, e que muitas vezes as decisões nunca são levadas a sério, ou nunca são cumpridas. As vezes eu tenho a impressão que as decisões precisam ser cumpridas se a gente tiver um órgão, uma espécie de governança global, que possa decidir o que fazer, porque, se depender das discussões internas, do estado nacional, no Congresso Nacional, muitas coisas aprovadas sobre o clima não serão colocadas em prática. E muitas vezes o dinheiro que é prometido para os países em desenvolvimento, também não sai. Ou seja, esse 100 bilhões de dólares foram prometidos em 2009, em Copenhagen, e sinceramente as pessoas parece que esquece. Por isso eu cobrei ontem no meu discurso, cobrei não, para lembrar que tem uma dívida que precisa começar a ser paga se a gente quiser começar a criar as condições para os países que têm florestas, que tem muita água potável, para os países que têm uma grande fauna, que esses países sejam recompensados para que eles possam cuidar daquilo com o carinho que a humanidade necessita e precisa”.
Agronegócio
“Eu não me preocupo quando dizem ‘ah, o agronegócio não gosta do Lula’. eu não quero que goste, eu só quero que me respeite como eu respeito eles. O verdadeiro empresário do agronegócio sabe que não pode fazer queimada em lugar que não pode queimar, não pode fazer derrubada de floresta. O verdadeiro empresário do agronegócio tem compromisso, porque ele sabe que a nível internacional se paga um preço se a gente for irresponsável.”
Crimes Ambientais
“Já falei para vocês, nós vamos evitar de uma vez por todas que haja exploração de garimpo em terras indígenas, nós vamos proibir madeireiros…se o cara quiser utilizar madeira, faça um florestamento, compra uma área de terra e planta o que ele quer cortar, mas porque contar uma árvore que tem 200 anos de existência, 300 anos de existência? Não é necessário. O que nós precisamos é uma frase que a Marina [Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente] dizia quando ela foi escolhida para ser minha ministra, em 2003. ‘O que interessa não é a gente proibir, é a gente ensinar como fazer as coisas. E como fazer certo’. Hoje no Brasil as pessoas que estudam o assunto sabem que você não precisa derrubar um metro quadrado para aumentar a produção de soja, de milho, para criar gado, nós temos milhões e milhões de hectares de terra degradadas que podem ser recuperadas”.
Sociedade civil na política ambiental
É um trabalho imenso que a gente vai ter que fazer, e não pensem vocês vão ficar numa boa só cobrando, não, vocês vão ter que ajudar a fazer. A gente derrotou o Bolsonaro, mas o bolsonarismo se mantém aí e vocês estão vendo a violência com que eles atacam aldeias indígenas sem nenhum respeito, vocês sabem o que acontece, a fúria dos madeireiros. E no tempo em que a gente estava no governo, quantas pessoas foram presas por conta disso, mas eles continuam. Então a gente vai ter que ter muito mais competência, muito mais habilidade, porque nós também não podemos ficar brigando sem saber o que nós temos que fazer”
“Eu voltei com disposição de fazer o que não fiz da outra vez, fazer mais, e tentar fazer com mais competência e com mais qualidade”
Reuniões bilaterais
Além da sociedade civil, Lula se encontrou com membros do Fórum Internacional dos Povos Indígenas/Fórum dos Povos sobre Mudança Climática, durante a tarde desta quinta. Ele também teve encontros bilaterais com o Ministro do Clima da Noruega, Espen Barth Eide, com o Secretário Geral da ONU, António Guterres e com a ministra das relações exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock.
Uma entrevista coletiva estava marcada para o final da tarde (horário do Egito), mas foi cancelada de última hora por atrasos na agenda de encontros.
Esta matéria foi produzida como parte do Climate Change Media Partnership 2022, uma bolsa de jornalismo promovida pela Internews´ Earth Journalism Network e pelo Stanley Center for Peace and Security.
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