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Manchas de óleo de origem indefinida são encontradas em 43 praias do Nordeste

Identificada pelo MMA como um hidrocarboneto derivado do petróleo, a substância foi encontrada em 8 dos 9 estados nordestinos e já atingiu ou causou a morte de vários animais

Carolina Lisboa ·
25 de setembro de 2019 · 5 anos atrás
Mancha escura polui a praia de Boa Viagem, em Pernambuco. Foto: Reprodução/WhatsApp.

Desde o início de setembro, manchas de óleo escuras atingem pelo menos 43 praias em oito dos nove estados da região Nordeste. A substância foi identificada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como um hidrocarboneto derivado do petróleo, popularmente conhecido como “piche”. De acordo com Maria Christina Barbosa de Araújo, professora do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ainda não se sabe a origem desse material, mas há uma probabilidade muito alta de que tenha origem no descarte proposital de algum navio em alto-mar. “Esse é um consenso entre os órgãos públicos de todos os estados envolvidos e do MMA”, informou.

A lavagem de tanques de embarcações fora do porto é proibida por lei, pois o material descartado é altamente poluente. A multa por tal prática varia entre R$ 50 e R$ 50 milhões.

Manchas vistas em praias do litoral de Alagoas, Pernambuco Paraíba e Rio Grande do Norte. Reprodução: Redes Sociais.

“Embora o aparecimento das manchas no Nordeste seja relativamente recente, é provável que o descarte seja mais antigo, e o óleo se deslocou sendo trazido principalmente pelas correntes até as praias”, destacou Maria Christina Araújo. Amostras do material foram recolhidas pela Marinha do Brasil e enviadas para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM), no Rio de Janeiro. “Infelizmente a única opção [para mitigar os impactos] é retirar todo o sedimento contaminado (areia das praias). Isso vai levar tempo, dinheiro e esforço. Já no mar, vai ser praticamente impossível, em virtude da dimensão da área afetada”, lamentou a professora.

O Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema) recomendou, em nota, cuidados no recolhimento e manuseio do material: “Informamos que este resíduo é classificado, pelas Resoluções Conama 307 e 313/2002 e pela NBR 10004/2004, como resíduo Classe D (Conama) e Classe I (NBR), necessitando, portanto, de cuidados com a coleta, manuseio e descarte seguro, logo, não podendo ser depositado em qualquer lugar. Em função disso, é importante que a coleta seja feita utilizando-se ferramentas como rastelos e pás, acondicionando provisoriamente o material em recipientes plásticos, enquanto o produto não for retirado do local, procurando proteger-se do contato direto com o resíduo, não podendo ser retirado por tratores”. O Instituto alerta ainda que “sejam evitados o contato direto com esse produto e, caso ocorra, tentar retirar primeiro com gelo ou com óleos de cozinha, devendo logo após, lavar a pele com água e sabonete neutro. Como medida preventiva contra irritações e processos alérgicos, nunca levar as mãos sujas aos olhos e boca”.

Impactos na fauna marinha e estuarina

Tartaruga coberta por óleo. Crédito: Redes Sociais.

A população do litoral nordestino vem registrando ocorrências de animais afetados pelo material, como tartarugas e aves marinhas. Uma tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) foi encontrada completamente coberta por óleo na praia de Redinha, em Natal-RN, nesta segunda-feira (23). O animal foi limpo e está em tratamento, visto que ingeriu óleo. Essa foi a segunda tartaruga encontrada nessas condições no litoral potiguar. No dia 11 de setembro, uma outra tartaruga marinha também coberta pelas manchas escuras foi encontrada em Jacumã, no município de Ceará-Mirim-RN. O animal foi limpo por um trabalhador da região e devolvido ao mar. No início dessa semana, outras tartarugas cobertas por óleo foram encontradas na praia de Alcântara, no Maranhão, e no Delta do Parnaíba, no Piauí. “Como o material está espalhado por toda a costa nordestina, provavelmente ainda teremos o registro de muitos animais que aparecerão cobertos pelo óleo”, lamentou Maria Christina Araújo.

De acordo com a professora, há riscos de que os resíduos cheguem aos estuários e afetem ainda mais os animais e os ecossistemas. “Toda a região é rica em ecossistemas muito sensíveis, como manguezais, por exemplo, fazendo com que o impacto possa ter dimensões muito sérias, caso esses locais sejam atingidos”.

Lista de localidades com registros de manchas de óleo

Alagoas

    • Jatiúca
    • Ponta Verde
    • Guaxuma
    • Japaratinga
    • Maragogi
    • Praia do Francês
    • Carro Quebrado
    • Japaratinga
    • Barra de São Miguel

Ceará

    • Praia do Futuro
    • Porto das Dunas
    • Sabiguaba
    • Cumbuco
    • Fortim
    • Paracuru
    • Mundaú

Maranhão

    • Itatinga

Paraíba

    • Bessa
    • Manaíra
    • Cabedelo
    • Pitimbu
    • Tambaba
    • Cabo Branco

Pernambuco

    • Boa Viagem
    • Del Chifre
    • Candeias
    • Gamboa
    • Ilha de Cocaia
    • Paiva
    • Carneiros
    • Tamandaré
    • Maria Farinha

Rio Grande do Norte

    • Via Costeira
    • Muriú
    • Camurupim
    • Pipa
    • Pirambúzios
    • Barra de Tabatinga
    • Foz dos Rios Pirangi do Sul
    • Foz do rio Pium
    • Redinha

Piauí

    • Ilha dos Poldros

Sergipe

    • Pirambu

 

Atualização

Na quarta-feira (25) à tarde, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) emitiu uma nota contendo um mapa com as localidades atingidas pelas machas de óleo no litoral nordestino. A nota também aponta o resultado conclusivo das amostras solicitadas pelo Ibama e pela Capitania dos Portos, cuja análise foi feita pela Marinha e pela Petrobras: “a substância encontrada nos litorais trata-se de petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo. Investigação do Ibama com apoio dos Bombeiros do DF aponta que o petróleo que está poluindo todas as praias seja o mesmo. Contudo, a sua origem ainda não foi identificada. Em análise feita pela Petrobras, a empresa informou que o óleo encontrado não é produzido pelo Brasil”. A nota contém, ainda, um mapa de ocorrência de fauna afetada, com nove registros de tartarugas marinhas e um de ave, e a informação de que “até o momento, não há evidências de contaminação de peixes e crustáceos”. Por fim, o Instituto orienta que “caso alguém encontre animal com óleo, sejam acionados imediatamente os órgãos ambientais para adotar as providências necessárias. O animal não deve ser lavado nem devolvido ao mar antes da avaliação de veterinário”.

 

*Atualizado às 19h32, do dia 26/09/2019

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  • Carolina Lisboa

    Jornalista, bióloga e doutora em Ecologia pela UFRN. Repórter com interesse na cobertura e divulgação científica sobre meio ambiente.

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Comentários 1

  1. Esmeralda diz:

    Não sabia que estava em tantas praias, meu Deus!